Conflito e invasão russa na Ucrânia podem impactar a economia brasileira, afirmam especialistas
Os setores de fertilizantes e commodities devem
ser os mais prejudicados
Abril de 2022 – Desde o dia 24 de fevereiro, quando
tropas russas efetuaram uma invasão de larga escala à Ucrânia, a economia
global está em alerta – antes mesmo de sua recuperação pós-pandemia da
Covid-19. O conflito, que já pode ser considerado o mais grave da Europa desde
1945, traz sérias oscilações ao preço do barril de petróleo e do gás
natural.
No Brasil, além do valor dos
combustíveis fósseis, os impactos deverão atingir outros dois pilares
principais da economia: o câmbio, com a desvalorização do real; e o setor de
alimentos, que também é pressionado pela crise do petróleo. Helmuth Hofstatter,
fundador da startup de comércio exterior Logcomex, comenta sobre a importância
da Rússia na área. “Quando falamos em comércio exterior, a Rússia, sem dúvidas,
é um dos principais parceiros comerciais brasileiros ao longo dos últimos anos.
Só no ano passado, o país estava em décimo lugar entre os que mais fizeram
negócios com o Brasil”, explica
Especialistas explicam os efeitos
colaterais que o conflito entre as duas nações podem causar na economia
brasileira.
Queda na produção de fertilizantes
Entre os principais produtos importados
da Rússia, estão os insumos para a produção de fertilizantes. Segundo Helmuth,
isso é motivo de alerta. “Os russos importam cloreto de potássio, amônio e
uréia, que são componentes importantes para a produção de fertilizantes. Dessa
maneira, caso o conflito acarrete na redução do fornecimento desses
suprimentos, o setor de agronegócio poderá sofrer com isso”. O executivo ainda
completa que, frente às dificuldades, o mercado deverá buscar alternativas para
manter a roda girando. “Um dos efeitos do confronto entre Rússia e Ucrânia pode
estar na oferta de óleo de girassol no mundo. O Mar Negro é responsável por 75%
das exportações do produto. Isso pode estimular o consumo de outros óleos
vegetais, como o de palma e de soja, que estão sendo comercializadas a um preço
recorde de US$1.700 a tonelada na Índia ”.
Commodities
Para o head da Tesouraria do Travelex
Bank, Marcos Weigt, nesse cenário com impactos globais, a situação no Brasil
tem um contraponto positivo por causa das commodities brasileiras. Com o
conflito, os itens estão subindo muito de preço, principalmente a soja, milho,
trigo e o petróleo. “Como um grande exportador, o Brasil se favorece com esse
movimento, pois os investidores globais estão vendo os ativos brasileiros como hedge de inflação, além
disso, nossa taxa de juros é bastante alta. Então, nesse momento do conflito, o
real não deve se desvalorizar de maneira tão acentuada, a não ser que a guerra
se intensifique para outros países, cenário que parece improvável por
enquanto”, destaca.
Relação comercial Brasil X Rússia
A relação comercial entre Brasil e
Rússia apresentou um aumento de cerca de 111% em 2021, segundo Leonardo
Baltieri, cofundador da Vixtra, fintech de
comércio exterior. Segundo dados do Ministério da Economia, em 2021, foram
importados US$ 5,7 bilhões em produtos e matéria-prima dos russos, contra US$
2,7 bilhões, em 2020. “Tal crescimento foi impulsionado principalmente pelos
adubos e fertilizantes, fazendo com que a Rússia ocupasse a 6ª posição do
ranking de importações brasileiras”, pondera Baltieri. O impacto do conflito
entre Rússia e Ucrânia ainda pode virar uma “bola de neve”, e o mercado reagiu
instantaneamente aumentando, por exemplo, o preço do barril do petróleo e de
alimentos como trigo e milho. “Isso afetará principalmente o consumidor final,
e a crise de suprimentos pode se acentuar com esse conflito no leste europeu”,
completa o executivo.
Enquanto isso, na região de conflito… criptomoedas
Enquanto a Rússia sofre sanções
econômicas e os ucranianos estão impedidos de fazer saques em moedas
estrangeiras, além de restrições à própria moeda local, as criptomoedas,
especialmente o Bitcoin, estão sendo usadas como alternativas para a população.
“Os criptoativos e a economia
descentralizada, ou seja, sem o controle das instituições governamentais, são
alternativas ao sistema financeiro tradicional e podem ajudar na garantia do
bem-estar e, neste caso, até na sobrevivência dos cidadãos”, explica Safiri
Felix, diretor de Produtos e Parcerias da Transfero, empresa internacional de
soluções financeiras baseadas em tecnologia Blockchain.
É a análise que o especialista faz da situação da população ucraniana, por exemplo. “A Ucrânia já tem um aspecto interessante, que é o fato de ser o quarto país do mundo com maior adoção do Bitcoin. Então o que nós estamos vendo é que os ucranianos estão procurando alternativas para fugir ou tentar proteger parte do seu patrimônio por meio das criptomoedas. Na prática, o Bitcoin está servindo para que as pessoas comuns possam preservar suas economias nesse momento de instabilidade”, finaliza.
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