Fintechs ganham novas regras
Focado na proporcionalidade, o novo marco para
as instituições de pagamento veio para diminuir risco e estimular a
competitividade no setor
Após nove anos, as
regulações relacionadas às fintechs ganham uma repaginada. Instituições de
pagamento (IPs) terão agora regulamentações proporcionais ao seu porte e à sua
complexidade. A nova norma preserva a entrada facilitada para novos
concorrentes no segmento de pagamentos, de modo a aumentar a competição no
sistema e a inclusão financeira.
O Banco Central do
Brasil (BCB) emitiu esse novo conjunto de medidas no dia 11 de março de 2022. E
para abordar o assunto, a Brazil-Florida Business Council Inc., que promove
negócios entre Brasil e EUA realizou, no dia 13 de abril, o webinar “Novo Marco
das Fintechs do Brasil e seu Impacto no Mercado Financeiro”, com organização do
Comitê de Inovação e Tecnologia e da Pinheiro Neto Advogados.
De acordo com o BC, o
conjunto de normas estende aos conglomerados financeiros liderados por IPs a
proporcionalidade das exigências regulatórias já existentes para conglomerados
de instituições financeiras (IFs). Essa revisão se tornou necessária diante da
diversificação e sofisticação do segmento, desde o estabelecimento do marco
legal das IPs, em 2013. Nesse processo, parte desse segmento criou subsidiárias
financeiras e passou a assumir novos riscos, sem requerimentos prudenciais
proporcionais.
Concomitantemente, a
regulação manteve regras simplificadas para conglomerados liderados por IPs e
não integrados por instituição financeira em função do seu baixo risco.
Para manter a porta aberta a novos participantes nesse mercado, as novas regras
preservam tratamento simplificado e requerimentos mais fáceis para novos entrantes.
Palestrantes em
destaque
Para discutir os
impactos das novas regras no setor, a BFBC convidou para o painel: Ricardo
Franco Moura, Diretor de Regulação Prudencial e Cambial do Banco Central do
Brasil (BCB); Ingrid Barth, Fundadora e COO do Linker Bank e Membro do Conselho
de Open Banking do BCB para a Associação Brasileira de Fintechs; Priscila Faro,
Diretora Jurídica de Fintechs e Regulatório do Mercado Livre; Alexandre
Graziano, Diretor Jurídico do Nubank e Bruno Balduccini, Sócio do Pinheiro Neto
Advogados.
Abrindo o encontro,
Sueli Bonaparte, presidente fundadora da BFBC, ressaltou que “debates como
estes visam a atualizar empresários e investidores brasileiros e internacionais
sobre os principais marcos regulatórios e inovações legislativas, que trazem
modernização e aumentam os investimentos no mercado”.
Em seguida, Bruno
comentou que o BC fez um trabalho “fenomenal” já em 2010, com estudos de
concentração de mercado no setor financeiro. Posteriormente, em 2013, a criação
do regulatório para as instituições de pagamento também foi um marco. “Foi uma
norma ousada e inteligente, que permitiu que empresas não reguladas pelo Banco
Central atuassem, criando mais competição”, disse.
Segundo Ricardo Moura,
nos últimos 10 anos, houve uma grande evolução no setor financeiro. Essa agenda
de fomentar a competição se calcou em pilares que estipulam a regulação por
atividade, com proporcionalidade atrelada a risco.
O diretor do BC
salientou que essa atualização das normas não é recente, as discussões
começaram há pelo menos três anos, e ainda não está completo. “Algumas normas
ainda virão nos próximos meses”, acenou.
No pacote de
modificações nas regras, estão tópicos, como: processo de conglomeração para
consolidar todas as empresas que trabalham no mesmo grupo. “Isso permite mais
precisão na segmentação”, explicou Moura; melhora da qualidade do capital.
“Capital é outra maneira de tratar a razão de alavancagem. É a qualidade dos
ativos ponderados pelo risco. Vai ajudar a mudar a maneira de calcular esse
capital”; uniformização das regras prudenciais para as atividades ligadas a
pagamento. “A regra de transição respeita o escalonamento de todas as
exigências”, frisou.
Em relação à recepção
das novas regras pelo mercado, Priscila Faro registrou que houve uma
preocupação inicial, mas o BC teve uma postura bastante positiva de conversar
com o mercado e isso tranquilizou as fintechs. “Principalmente, a
proporcionalidade de acordo com risco, porte e complexidade é essencial para um
mercado mais competitivo”, assinalou.
Graziano fez um
retrospecto até a chegada do momento atual. Esse processo todo é histórico e
começou na década de 1990, com a instauração do Plano Real e o término da
inflação galopante do período. Sem inflação, houve uma quebradeira dos bancos e
o BC teve que intervir para manter a estabilidade financeira. Depois disso, as
transformações continuaram acontecendo. “Em 2013, foi um momento em que houve
mudança na politica pública. Havia uma concentração de mercado com barreiras
muito altas para entrada de novos negócios. Com a chegada das fintechs, houve
um incentivo maior para a competição e a inovação. Surgiram modelos de negócio
muito inovadores, com fintechs baseadas em plataforma digital, uso de dados, e
aplicação de inteligência artificial. Foi um sucesso retumbante”, relembrou
Graziano. “Acredito que a regulação proporcional é a chave para o sucesso. E o
modelo de regulação prudencial e de conduta do BC deveria ser exportado para
outras geografias”.
Por fim, Ingrid
reforçou “que era hora mesmo de segregar de acordo com a proporcionalidade do
risco. Isso ficou muito claro na consulta pública. O mercado é dinâmico, tem
muita coisa para acontecer. Open Banking e outros de modelos de negócios que
vão surgir”. A executiva, porém, fez a observação de que 12 meses para o
período de adequação é pouco tempo.
Serviço:
Brazil-Florida Business
Council Inc.
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