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"Coração de Neon" é aclamado pela crítica em Cannes como o "novo cinema popular brasileiro"

Produtores de cinema que estiveram na premiére do filme em Cannes, na França, enxergam a produção como ousada e inovadora, do enredo ao financiamento

Divulgação / IHC | Coração de Neon

A presença do filme “Coração de Neon” em Cannes, na França, pode estar abrindo uma nova fase do cinema brasileiro. A produção curitibana acaba de ser aclamada pela crítica na Europa como “o ‘novo’ cinema novo brasileiro”, ou o “novo cinema popular brasileiro”, pela ousadia da produção e do enredo original, à forma como o longa-metragem foi financiado, com recursos próprios dos produtores, sem depender de financiamentos ou leis de incentivo.

Adriana Rouanet, diretora executiva do Instituto Rouanet, esteve na premiére de “Coração de Neon” e se entusiasmou com o que assistiu.

“Entrei sem nenhuma expectativa no cinema e me surpreendi. Achei muito bacana o filme. Achei, na verdade, uma espécie de novo ‘Bye Bye Brasil’*, que foi um filme clássico, da fase final do cinema novo. Sem saber, os produtores (Lucas Estevan Soares e Rhaissa Gonçalves) criaram uma nova versão de contar uma história engajadora, cativante, mas de maneira muito dinâmica, integrando as equipes, um jeito muito bacana de fazer cinema”, elogiou Adriana.

Mas a inovação vai além do enredo. Apesar de ser filha do intelectual e filósofo Sérgio Paulo Rouanet, criador da Lei Rouanet, ela critica as atuais políticas de incentivo à cultura, que andam engessando a produção cultural brasileira e inviabilizando a execução de muitos projetos relevantes.

“A lei de incentivo que meu pai criou ajudou, durante 30 anos, a viabilizar muitos projetos culturais, de pessoas de todas as rendas, projetos super enormes aos menores, mais educativos e de cunho social. Mas ultimamente a cultura vem sofrendo ataques. O cinema audiovisual está sob ataque. Então conheci o Lucas e a Rhaissa e me entusiasmei pela vitalidade deles. São inovadores, fazendo um cinema novo, pensando o cinema como uma nova perspectiva, não só na produção, mas também na maneira de financiar a obra, não dependendo das atuais leis de incentivo que estão engessando muitos projetos”, contou Adriana.

Rhaissa Gonçalves, produtora do filme, também explica o porquê a crítica entendeu o filme como “o novo cinema popular brasileiro”, ou o "novo cinema novo".

“Porque é uma história que conversa com as massas mas é refinado, é autêntico, que não copia ninguém. É honesto, com a sua própria linguagem, classificado pelos críticos como ‘impressionante’. E não somos nós que estamos falando isso. Foram os produtores de cinema do mundo todo que estiveram aqui na sala de cinema, na premiére em Cannes, e nos falaram isso pessoalmente”, orgulha-se Rhaissa.

“Cidade de Deus”

“Coração de Neon” também foi comparado a outros filmes brasileiros de qualidade internacional após sua premiére, que aconteceu no Teatro Olympia, no último domingo (22), na única sala em Cannes equipada com a tecnologia de som Dolby Atmos. A exibição foi durante o Marché du Film, a contrapartida comercial do Festival de Cannes que reúne os empresários da indústria cinematográfica e onde cerca de 4 mil produções são negociadas anualmente.

“Alguns produtores de cinema nos disseram que o ‘Coração’ se comparava ao ‘Cidade de Deus’, que atualmente é considerado um dos melhores filmes do mundo. É um misto de surpresa, orgulho e felicidade ouvir comparações como essa”, diz o produtor Lucas Estevan Soares.

Quem fez esta comparação foi o distribuidor de audiovisual Rodrigo Molina, do Chile. 

“É um filme tremendamente emocional e muito honesto. Sinceramente não tinha visto um filme brasileiro tão honesto desde Cidade de Deus, para dar um exemplo. O longa tem um recurso (financeiro) que não é desprezível. E o Lucas conseguiu engajar a equipe e trazer o melhor resultado. É um filme que funciona muito bem tanto para espectadores de cinema de massa, quanto para apresentadores de produções autorais, de cinema independente”, elogiou Molina.

E o filme, em geral, foi muito elogiado pela qualidade da produção e do enredo. “É uma ideia super original e nova. O filme é ótimo, com muito amor, a fotografia e trilha sonora são ótimos. Só sinto boas vibrações com esse longa”, analisou Natacha Hablitzchek, produtora de cinema na República Dominicana e organizadora de um festival no país caribenho.

“O filme é sensível e muito divertido. Fiquei feliz de poder me desligar da minha realidade e conhecer um universo apaixonante que é o ‘Coração de Neon’. Lucas, em seu primeiro filme, não exagera no tom e faz um excelente equilíbrio entre ser o protagonista e diretor. O longa é realmente uma jóia, dando frescor ao público, sentimento tão necessário nos dias de hoje”, disse Ricky Mastro, cineasta brasileiro.

Como resultado da exibição no Marché du Film, ocorrida no sábado (22), “Coração de Neon” já tem propostas de ser exibido em quatro continentes, além de plataformas de streaming.

Coração de Neon

O longa-metragem é 100% curitibano, com toda a produção, elenco, locações e serviços de Curitiba, capital do Paraná. A previsão é que seja lançado no Brasil entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023. Também é o primeiro filme do cinema brasileiro a contar com a tecnologia Dolby Atmos, uma evolução do som surround que coloca o espectador numa “bolha” de som e traz muito mais realidade e emoção à trama.

“Coração de Neon” conta a história de Fernando, um jovem sonhador que ao lado de seu pai, o Lau, dirige um carro de mensagens, o Coração de Neon (Boquelove, para os íntimos, uma referência ao bairro Boqueirão, em Curitiba, onde o filme é gravado). Eles sonham em levar o serviço para os Estados Unidos, mas uma das mensagens que eles vão entregar, que seria um pedido de perdão, acaba em tragédia depois de uma apresentação malsucedida. A vida de Fernando muda por completo e ele acaba embarcando numa jornada alucinante em nome do amor.

Sobre o IHC

A produtora audiovisual International House of Cinema (IHC) foi fundada em outubro de 2012 por Lucas Estevan Soares, na cidade de Curitiba, Brasil. Nesses 10 anos de empresa, o IHC realizou centenas de produções comerciais, curtas-metragens e documentários. Em 2017, Lucas inaugurou uma segunda sede da empresa em Miami, nos Estados Unidos, juntamente com sua sócia Rhaissa Gonçalves.

Desde 2019, o IHC vem focando na produção de conteúdo original e, em 2021, abre também uma distribuidora para comercializar suas próprias produções e adquirir títulos nacionais e internacionais.


*Sobre o filme Bye Bye Brasil, citado por Adriana Rouanet: é uma comédia brasileira de 1979, dirigida por Carlos Diegues, considerada uma das mais importantes produções da década de 1970. Foi indicado à Palma de Ouro, no Festival de Cannes, em 1980, ganhou dois prêmios no Festival de Havana (1980) e foi incluído, anos mais tarde, na lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

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