Fiscalização com radar móvel despenca desde 2019
Em 2021 foram feitas 19.885 horas de
fiscalização, contra as 41.610 registradas em 2019, uma queda de 52%
Apesar de o
excesso de velocidade estar entre as principais causas de acidentes nas
rodovias federais brasileiras, a fiscalização com radares móveis caiu pela
metade no ano passado, na comparação com 2019, ano em que o governo federal
determinou a suspensão das fiscalizações com estes equipamentos nas rodovias
federais de todo Brasil.
Segundo dados
disponibilizados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 2019 foram
registradas 41.610 horas de fiscalização. Apesar de a Justiça determinar o
retorno das fiscalizações, em 2020 os equipamentos funcionaram por 15.250 horas
e, em 2021, por 19.885 horas.
Para
fiscalizar os 75,8 mil km de malha rodoviária federal, a PRF possui hoje 242
radares portáteis e 115 radares fixos em funcionamento. Os equipamentos móveis
podem ser usados em 1.050 trechos, considerados críticos em estudos técnicos e
análise de dados feitos pela instituição. Embora não haja um número mínimo de
radares por trecho de rodovia, já se provou à exaustão que estes equipamentos
salvam vidas.
O excesso de
velocidade causa acidentes de trânsito mais graves e letais. “Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), um aumento de 20% na velocidade média do veículo amplia em 30% as
colisões fatais. O controle da velocidade de tráfego por meio de radares é uma
ação que reduz o número de sinistros de trânsito e também a gravidade e
letalidade de ferimentos decorrentes desses eventos evitáveis”,
afirma o diretor
científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra.
Fiscalização
com radares móveis caiu pela
metade no ano passado
Suspensão e
retorno
Em agosto
de 2019 o governo federal suspendeu o uso de todos radares móveis nas
fiscalizações nas rodovias federais. Após ação do Ministério Público Federal
(MPF). Os radares móveis só voltaram a ação em dezembro, depois que a Justiça
determinou a retomada das fiscalizações. No entanto, desde então, o tempo de
fiscalização caiu drasticamente.
Causas definidas
No ano
passado, segundo dados da PRF, 6.742 acidentes foram causados por motoristas
que dirigiam em velocidade incompatível com a estabelecida na rodovia. A
principal causa de sinistros foi a reação tardia ou ineficiente do condutor,
com 6.902 ocorrências. “Quando
se dirige a uma velocidade incompatível, o motorista tem um tempo de reação
menor ou, pior ainda, pode sofrer um sinistro mais grave ao tentar escapar de
uma situação de risco, como um obstáculo súbito, por exemplo. Os limites de
velocidade em uma rua, avenida ou estrada são estabelecidos com critérios
técnicos que levam em consideração o traçado, fluxo e conservação da via, e os
índices de acidentalidade na área. A revisão periódica das estatísticas do
trânsito é o mais valioso instrumento para o ajuste dessas intervenções que
reduzem a insegurança viária”, completa o especialista.
Recomendação da ONU
Coimbra
cita que os países mais desenvolvidos do mundo caminham no sentido oposto:
reforçam a fiscalização e trabalham para reduzir os limites de velocidade nas
ruas e avenidas. Esta é, inclusive, uma das recomendações da Conferência Global
da ONU sobre Segurança no Trânsito para a redução das mortes. “Aqui no Brasil, pesquisadores da
Universidade de São Paulo (USP) comprovaram, em 2019, que a quantidade de
sinistros é baixa em um raio de até 50 metros perto de um radar. Quando a
distância do equipamento é ampliada, aumenta também a quantidade de acidentes.
A ciência nos mostra o caminho: precisamos ampliar a fiscalização com radares
fixos e móveis para coibir o excesso de velocidade e reduzir as mortes no
trânsito brasileiro”, enfatiza o diretor científico da
Ammetra.
Estudos científicos
O que não
faltam são estudos para comprovar a necessidade e a importância de reduzir e
monitorar a velocidade nas ruas e rodovias. Segundo a Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a chance de um pedestre morrer é
de 10% se o veículo estiver transitando em até 30 km\h. Se a velocidade for
ampliada para 50 km\h, a probabilidade passa dos 80%.
O estudo The
handbook of road safety measures, do pesquisador norueguês Rune Elvik, mostrou
que a presença dos radares reduziu pela metade o número de acidentes e até 20%
o número de mortes. “Mais
que reduzir imediatamente o número dos sinistros de trânsito decorrentes do
excesso de velocidade, estudos internacionais, como o feito pela Insurance
Institute for Highway Safety (IIHS), mostraram que a instalação de radares
mudou o comportamento dos motoristas em longo prazo. Enquanto ainda perdermos
tempo acreditando que os radares existam para alimentar uma 'indústria da
multa', permitiremos que os infratores sigam se beneficiando dessa falácia e
colocando em risco a nossa integridade física e a daqueles que amamos”,
finaliza Coimbra.
Alysson Coimbra, médico e diretor
científico da AMMETRA
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