Os ajustes estruturantes que podem fazer a diferença
Por Carlos Rodolfo Schneider - empresário,
membro do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo -
ACSP e do Comitê de Líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação da
Confederação Nacional da Indústria - CNI
As restrições impostas
pela pandemia nos colocaram diante de um arsenal de dificuldades e desafios. Em
graus diversos para os diferentes atores. Por outro lado, foram criadas
oportunidades, novamente, mais para uns do que para outros, que até trouxeram
resultados excepcionais e inesperados para quem melhor identificou e se
estruturou na nova realidade. Aparentemente, oportunidades conjunturais.
Todavia, vem se delineando uma oportunidade estrutural, de reorganização das
cadeias produtivas, em função dos transtornos provocados pela excessiva
concentração da produção de muitos bens em poucos países. E o Brasil pode
capturar o seu quinhão nesse novo desenho, desde que seja mais diligente numa
antiga lição de casa, que são os ajustes estruturantes.
A recuperação da competitividade da economia,
em setores em que não temos vantagens comparativas internacionais naturais, mas
que têm potencial elevado de contribuir para o aumento da produtividade, passa
necessariamente pela redução do Custo Brasil. E isso requer reformas,
microeconômicas e macroeconômicas, em complemento às já implementadas nos
últimos seis ou sete anos. Outros países, que competem conosco no mercado
internacional, têm sido mais determinados na implementação de reformas,
comprometendo a nossa competitividade relativa. Avançamos pouco no aumento da
eficiência do Estado, o que o deixa obeso, caro e fraco. Precisamos de um poder
público forte, a serviço da sociedade, e não de si próprio. E em assim sendo,
precisará de menos recursos para se manter (hoje em torno de 20% do PIB), o que
permitirá redução de carga tributária. Carga, que além de muito elevada (a
maior entre os países em desenvolvimento), é mal distribuída, com concentração
excessiva na indústria de transformação. Segundo a Confederação Nacional da
Indústria (CNI), os impostos de 46,2% que incidem sobre o segmento, têm
contribuído muito para que ele encolhesse em média 1,6% ao ano na última
década.
Entre as mudanças necessárias,
importante também a Reforma Tributária, para simplificar a caótica estrutura de
impostos no país, que custa caro às empresas e afasta investidores.
Importantes conquistas estruturantes
foram as reformas da Previdência no atual governo e a Trabalhista no governo
anterior. Mesmo que não tenham abarcado toda a mudança que o país precisa,
representaram sem dúvida avanços a comemorar. E temos que ter maturidade
suficiente para evitar que o calor de uma campanha política não alimente ideias
de retroceder nessas conquistas, fruto de ampla mobilização da sociedade, sob o
risco de comprometermos ainda mais a nossa competitividade e acentuarmos o
nosso vínculo com a armadilha da renda média. Que a Reforma Trabalhista deve
ser dinâmica, não há dúvida, mas para adequar a legislação a uma realidade que
é mutante, e muito, e não para retrocessos com motivações ideológicas,
respaldadas em parte por orientações da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), que infelizmente continua sensivelmente motivada por um viés político e
ideológico.
Por fim, é importante reconhecer que o nosso equilíbrio fiscal há muito também é pressionado pelos chamados custos tributários, que são renúncias fiscais que beneficiam setores ou empresas específicas. O Brasil precisa desenvolver um grande esforço para tornar a economia mais competitiva e não subsidiar uns ou outros, mais próximos ao poder ou com maior capacidade de lobby.
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