Pesquisa nacional mostra avanço na cobertura das defensorias públicas, mas aponta "mapa da ausência do acesso à Justiça
No Dia da Defensoria Pública (19/05), um
estudo nacional aponta avanço nos serviços de assistência jurídica prestados
pelas defensorias públicas brasileiras, mas também identifica a permanência de
um “mapa da ausência do acesso à Justiça” no país, segundo organizadores. O
diagnóstico é da Pesquisa
Nacional da Defensoria Pública 2022, um dos maiores levantamentos sobre
acesso à justiça já realizados no Brasil, que está na segunda edição.
Foram coletadas as mais recentes
informações sobre o atual estágio de desenvolvimento institucional da
assistência jurídica estatal gratuita no país. De acordo com organizadores,
apesar do aumento na cobertura das defensorias, “o mapa da ausência de acesso à
justiça revela o gritante número de pessoas excluídas”.
A Pesquisa Nacional da Defensoria
Pública foi realizada pela atuação conjunta da Defensoria Pública da União
(DPU), do Conselho Nacional de Corregedores-Gerais das Defensorias Públicas
Estaduais, do Distrito Federal e da União (CNCG), Conselho Nacional das
Defensoras e Defensores Públicos-Gerais (Condege) com o apoio da Associação
Nacional das Defensoras e Defensores Públicos Federais (Anadef).
Assim como em 2021, a pesquisa realizou
também o estudo demográfico, levantando o quantitativo de habitantes por
comarca e seção judiciária. O estudo considerou a Base de Dados IBGE 2021 (a
mais atualizada hoje existente). As estatísticas foram consolidadas a partir da
projeção da população com renda familiar de até três salários mínimos por
comarca e seção judiciária (2020).
Considerando a distribuição geográfica e
a densidade demográfica das comarcas, atualmente 158 milhões de habitantes
possuem potencial acesso à Defensoria Pública, representando 75,2% da população
total do país. O avanço na área de cobertura reflete um pequeno crescimento
percentual da população atendida, que passou de 72,3% em 2021 para 75,2% em
2022.
No entanto, pelo menos 78,2 milhões de
pessoas estão excluídas do acesso à Justiça Federal, enquanto 48,4 milhões não
conseguem exercer o mesmo direito na Justiça Estadual. No âmbito federal, não
houve crescimento percentual da população atendida, que se manteve em 59,6%.
Houve apenas o crescimento numérico da população atendida, por conta do
crescimento da população na área de cobertura.
“Considerando que o reconhecimento
formal de direitos pelo ordenamento jurídico não implica diretamente em sua
efetivação prática, parcela significativa da população brasileira se encontra
potencialmente à margem do sistema de justiça e impedida de reivindicar seus
próprios direitos por intermédio da Defensoria Pública”, aponta o estudo.
Além disso, os orçamentos anuais
demonstram grande assimetria entre as instituições de Justiça. Enquanto o Poder
Judiciário teve, em 2021, orçamento de R$ 117,24 bilhões, e o Ministério
Público, de R$ 27,81 bilhões, as defensorias públicas contaram com apenas R$
7,15 bilhões.
Atualmente, 127 milhões de habitantes
são potenciais usuários dos serviços jurídicos e assistenciais oferecidos pela
Defensoria Pública da União (DPU), dos quais 109 milhões são habitantes com
renda familiar de até 3 salários mínimos.
A DPU tem capacidade atualmente para
prestar assistência jurídica somente em 80 das 276 seções e subseções
judiciárias federais, o que corresponde a uma cobertura de 29% da Justiça
Federal. Portanto, a ausência da Defensoria Pública da União no país ultrapassa
o percentual de 70% das cidades que deveriam contar com o serviço de
assistência jurídica integral e gratuita ao cidadão sem condições de pagar os
custos de um processo.
Sobre a pesquisa
A Pesquisa Nacional pretende proporcionar base empírica para orientar o
planejamento de ações estratégicas das defensorias públicas e contribuir para a
melhoria dos serviços jurídico-assistenciais prestados à população, garantindo
a progressiva reversão do cenário de marginalização jurídica dos membros mais
pobres e vulneráveis da sociedade brasileira.
A iniciativa tem a contribuição de
Defensores Públicos Gerais, Corregedores Gerais, Defensores Públicos e Servidores
das Defensorias Públicas Estaduais (DPEs), da Defensoria Pública do Distrito
Federal (DPDF) e da Defensoria Pública da União (DPU).
A Pesquisa Nacional da Defensoria
Pública é resultado da atuação conjunta de 3.134 Defensoras e Defensores
Públicos e 2.588 Servidoras e Servidores da Defensoria Pública da União, do
Distrito Federal e dos Estados.
O estudo foi coordenado por Kazuo Watanabe, Franklyn Roger, Julio Azevedo,
Marcus Edson, Maria Sadek, Nicholas Moura e Edilson Santana Filho. A pesquisa
também contou com equipe de defensores e servidores, que participaram da coleta
de dados.
Acesse a pesquisa aqui.
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