Saiba como prevenir o suicídio materno e porque os casos estão aumentando
Especialista chama a atenção para a alta de casos desencadeada pela pandemia e aponta sinais de alerta e dicas para prevenir e tratar transtornos que podem ocasionar uma tragédia que, em geral, pode ser evitada
A pandemia de COVID-19
causou uma crise sanitária, social e econômica sem precedentes, com prevalência
crescente de transtornos mentais. “Houve um declínio significativo na saúde
mental materna. Isso porque as mulheres grávidas e as mães se tornaram uma
população altamente vulnerável, à medida em que sofrem com os efeitos
dramáticos da pandemia em primeiro plano”, diz Filipe Colombini, psicólogo
parental e diretor da Equipe AT. “Muitas mães chegaram ao esgotamento mental
com o volume de tarefas diárias, em um ambiente onde o trabalho home office se
misturava às aulas online dos filhos e outras tarefas domésticas. Houve uma
sobrecarga expressiva sobre essas mulheres, que, culturalmente, carregam o
estereótipo de heroínas, que devem beirar a perfeição”, continua o
especialista. E tudo isso em um cenário de medo e incertezas geradas pelos
riscos de adoecimento, mortes e crise econômica.
Em tempo: o suicídio
materno é um assunto que necessita extrema atenção da sociedade. Uma pesquisa
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revela que uma em cada quatro mães de
recém-nascidos no país são diagnosticadas com depressão pós-parto, um dos
grandes fatores de risco. Mas não só: problemas como ansiedade, transtorno de
estresse pós-traumático, psicose pós-parto, transtorno de pânico e fobias
também podem acometer as mães e, caso não sejam tratados, também potencializam
o risco das mulheres acabarem com a própria vida.
"Notamos que as
tentativas de suicídio cresceram bastante entre as mães, assim como o ato
consumado, o que nos leva à necessidade urgente de discutir sua prevenção”, diz
Filipe. “Inclusive, é comum falarmos sobre todos os tipos de complicações
relacionadas à gravidez, que podem levar à morte, mas a sociedade evita falar
no suicídio", continua. “Temos que desestigmatizar a doença mental e
divulgar que quando as pessoas estão deprimidas e pensando em acabar com a
própria vida, o tratamento pode fazer uma enorme diferença e mudar a maneira
como elas enxergam o mundo”, completa.
Colombini destaca que a
maternidade traz consigo o estigma de que a mãe precisa ser perfeita. E esta
idealização, segundo o psicólogo, acaba deixando pouco espaço para que a mulher
fale sobre suas dificuldades, frustrações e vulnerabilidades.
Sinais de alerta
O psicólogo destaca que
algumas mulheres podem apresentar apenas alguns sintomas de transtorno mental,
enquanto outras podem ter vários deles. Alguns dos mais comuns incluem:
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Humor triste, ansioso ou “vazio” persistente;
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Irritabilidade;
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Sentimentos de culpa, inutilidade, desesperança ou desamparo;
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Perda de interesse ou prazer em hobbies e atividades;
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Fadiga ou diminuição anormal de energia;
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Isolamento;
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Baixa autoestima;
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Alterações bruscas de humor;
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Dificuldade em se concentrar, lembrar ou tomar decisões;
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Dificuldade para dormir (mesmo quando o bebê está dormindo), acordar cedo pela
manhã ou dormir demais;
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Apetite anormal, alterações de peso ou ambos;
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Problemas de formação de um vínculo emocional com o bebê;
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Dúvidas persistentes sobre a capacidade de cuidar do bebê;
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Pensamentos sobre morte e suicídio;
✓
Ferir a si mesma (automutilação) ou ao bebê;
Como a família e os
amigos podem ajudar?
É importante entender
que os transtornos psíquicos que afetam as mães também têm impacto sobre as
crianças e a família, assim como podem dificultar o processo de amamentação e o
apego mãe-bebê. Cônjuges, parentes e amigos podem ser os primeiros a reconhecer
que algo não vai bem. “O tratamento é fundamental. Os familiares podem
incentivar a mulher a conversar com um profissional de saúde, oferecer apoio
emocional e ajudar nas tarefas diárias, como cuidar do bebê e das crianças ou
da casa”, destaca Filipe.
Vale ressaltar que a
rede de apoio é essencial na prevenção ao suicídio. “Todos nós podemos oferecer
um ombro amigo, cuidando das grávidas e mães ao nosso redor. O processo
começa com empatia, compaixão e disposição para ajudar”, diz o especialista.
“Devemos praticar a escuta ativa, incentivando as mães a expressarem seus
sentimentos, sejam eles quais forem. Quando há acolhimento, os impactos para a
mulher são positivos e benéficos”, conclui.
Procurando tratamento
Como dito
anteriormente, ao perceber que há algo errado, a mãe deve procurar suporte
psicológico e, em alguns casos, psiquiátrico. As opções de tratamento incluem,
por exemplo, psicoterapia e participação em grupos de apoio. Além disso,
medicamentos como ansiolíticos e antidepressivos também podem ser efetivos.
Existe, ainda, uma
modalidade dentro da psicologia denominada Acompanhamento Terapêutico (AT),
prática clínica desenvolvida fora dos consultórios e que acontece no contexto
de quem é acompanhado, com experiências e intervenções “in loco”.
Segundo Filipe, o
Acompanhamento Terapêutico é altamente eficaz no tratamento dos transtornos que
acometem as mães. Isso porque, nesta modalidade de atendimento, as ações
envolvem o núcleo familiar. “O papel dos familiares na melhora dos transtornos
associados à maternidade é fundamental”, destaca.
“Como atendentes
terapêuticos, atuamos com uma equipe multidisciplinar. São usadas técnicas de
relaxamento e mudança de temperatura corporal, além de práticas de atividades
físicas, por exemplo, para ajudar a mulher a lidar com crises impulsivas”,
explica o especialista. “Também aplicamos abordagens de escuta e suporte social
adequado, além de diversas manobras rápidas e altamente efetivas para a
prevenção do suicídio”, completa.
Mais sobre Filipe Colombini: psicólogo, fundador e CEO da Equipe AT, empresa com foco em Atendimento Terapêutico que atua em São Paulo(SP) desde 2012. Especialista em orientação parental e atendimento de crianças, jovens e adultos. Especialista em Clínica Analítico-Comportamental. Mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Professor do Curso de Acompanhamento Terapêutico do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas - Instituto de Psiquiatria Hospital das Clínicas (GREA-IPq-HCFMUSP). Formação em Psicoterapia Baseada em Evidências, Acompanhamento Terapêutico, Terapia Infantil, Desenvolvimento Atípico e Abuso de Substâncias.
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