“Síndrome da Cabana”, ansiedade, depressão e outros transtornos de saúde mental afetam mais de 60% da população brasileira durante pandemia
Psicóloga e neuropsicóloga da USP explica efeito da crise sanitária no dia a dia das pessoas
São Paulo, maio de 2022. Em 2017, quando
nunca imaginávamos estar vivendo uma crise sanitária como a da atual pandemia,
a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontava o Brasil como o quinto
país em casos de depressão no mundo. À época, quase 6% da população brasileira
era afetada por algum transtorno de ansiedade e depressão.
Em 2021, o
Brasil passou a liderar os casos de depressão e ansiedade durante a crise de
Covid-19, segundo pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), em
onze países, que indica 63% da população sofrendo de ansiedade e 59%, de
depressão.
Para Elaine
Di Sarno, psicóloga e neuropsicóloga da USP, a pandemia se apresentou como um
evento traumático que chegou de forma abrupta na vida das pessoas e que parece
não ter fim com as variantes que surgem a todo instante.
“Os brasileiros estavam acostumados a ver pela TV
povos orientais usando máscaras no dia a dia. De repente, nos vimos também
tendo que usar máscaras quando achávamos que essa era uma situação muito
distante para nós. A maioria das pessoas conhecia pandemias somente pelos
registros históricos – peste bubônica, gripe espanhola, então, é muito difícil
aceitar a realidade e quando ela bate à porta, trazendo medo, pânico, levando
entes queridos e amigos, forçando um distanciamento social para um povo que é
de beijos e abraços, isso gera crises de ansiedade, depressão e tantos outros
problemas de saúde mental”, explica a profissional.
O transtorno
de ansiedade é marcado por sintomas como: dificuldade de concentração,
problemas no sono e preocupação excessiva, ou seja, a pandemia é altamente
propícia para quadros de ansiedade. Esses sintomas podem levar ao quadro
depressivo, caracterizado por alterações no humor, como apatia, solidão,
tristeza, além de dores físicas sem justificativa.
Elaine Di
Sarno explica que a pandemia também levou a problemas de saúde mental gerados
pelo Burnout emocional.
“O esgotamento físico e mental diante do trabalho
no formato home office, a interrupção do ensino presencial, limitação de
não poder ir e vir, tarefas de casa, redução de salário, medo da
perda de emprego e o excesso de informações em tempo real sobre a
pandemia, são situações que geram estresse, ansiedade, insônia. Tudo
isso cria um desequilíbrio interno, a pessoa acaba sendo levada ao seu limite,
físico e/ou emocional, sentindo-se extremamente cansada, com poucos
momentos de descanso ou descontração”, conta a psicóloga e neuropsicóloga.
Outro fator
que tem potencializado crises de ansiedade e quadros de depressão está ligado
ao medo e insegurança, o que chamamos de “Síndrome da Cabana”, quando
se desenvolve um quadro de tanto pavor de se contaminar no mundo exterior, um
medo muito grande de sair de casa, que leva a pessoa a se isolar mais ainda,
propiciando até mesmo situações de Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC, por
exemplo, em relação à higienização com água e sabão e/ou álcool 70%.
Para Elaine
Di Sarno, é importante o indivíduo estar atento aos sinais de problemas de
saúde mental, observar se houve mudança do seu comportamento nos últimos meses,
se antes da pandemia a pessoa não se sentia tão triste e agora percebe essa
tristeza de forma mais frequente, por exemplo.
O apoio da
família é fundamental, além da orientação profissional de um psicólogo e/ou
psiquiatra. Atualmente, o serviço remoto por atendimento online está liberado
pelos órgãos responsáveis, o que é uma saída para ajudar as pessoas a lidarem
com tantas adversidades lá fora que mexem profundamente lá dentro de cada um de
nós.
Sobre Elaine Di Sarno - Psicóloga e Neuropsicóloga - Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e em avaliação neuropsicológica pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. Psicóloga pesquisadora do Programa de Esquizofrenia – PROJESQ do Instituo de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Fala com propriedade sobre temas relacionados à pandemia, como: ansiedade, depressão, Burnout emocional (esgotamento diante do home office, associação do medo, insegurança, luto), Síndrome da Cabana (medo de sair de casa e se contaminar), além de outros assuntos que permeiam sua área de atuação: depressão em adultos, adolescentes e crianças, Alzheimer, Parkinson, Esquizofrenia, suicídio, TDAH, Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), TOC, Borderline, transtornos alimentares, de humor e de imagem, Burnout emocional e assuntos correlatos. Mais em: https://www.elainedisarno.com.br/.
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