Um mercado carente de profissionais
*Ronaldo Bias Ferreira Jr.
O mercado de eventos e turismo responde por
12,93% do PIB nacional. Movimenta perto de um R$ 1 trilhão por ano e é
mais representativo do que as indústrias automobilística, petrolífera e
farmacêutica (segundo o Fórum Eventos).
Agências de live marketing, hotéis,
operadoras, restaurantes, bares (e tantas outras), que nunca foram prioridades
em termos de investimentos, incentivos e políticas públicas de fomento às áreas
citadas, foram algumas das primeiras vítimas da pandemia de covid-19. Para
esses segmentos, a pandemia durou quase dois anos.
Segundo a ABRAPE – Associação Brasileira
dos Promotores de Eventos, 880 mil eventos foram cancelados entre 2020 e 2021,
acarretando prejuízos diretos da ordem de R$ 230 bilhões. Um “baque” assim não se supera em poucos meses. As feridas
estão ainda cicatrizando, enquanto se percebem sinais claros de retomada.
Tudo indica que entre 2022 e o início de
2023 o Brasil voltará ao ritmo médio da pré-pandemia, de realizar cerca de
1.600 eventos por dia. Mas essa jornada promete ser sofrida. A desorganização
das cadeias de valor, fruto da pandemia, agiu forte no setor.
Em um país com mais de 12 milhões de
desempregados (segundo o IBGE, março 2022) seria de se
esperar que esse mercado atraísse grandes contingentes de profissionais. E
atrai. São 25 milhões de postos de trabalho. Porém, o status hoje é de carência
de pessoas para preencherem parte das 500 mil vagas perdidas entre 2020 e 2021.
O produtor executivo abriu um serviço de catering
industrial; a planner voltou a morar com os pais no interior; o criativo
está prestando serviço para duas agências de Portugal, uma do Brasil e uma da
Suécia, trabalhando de casa (e de quinta a domingo na casa de praia que aluga
com mais três amigos).
O tapeceiro da empresa de cenografia,
agora, está numa indústria moveleira, é CLT, trabalhando na fábrica de segunda
a sexta, em horário fixo. A designer montou um hub de criação com mais quatro
amigos e está atendendo demandas de agências digitais do Brasil inteiro.
Todos esses profissionais foram forçados a
isso, e muitas vezes, encontraram uma nova e mais compensadora realidade do que
antes, trabalhando em posições fixas no nosso mercado. E infelizmente, estão
cobertos de razão.
Quem quer ralar em um projeto de evento com
prazos curtos, verba mais curta ainda, montagens e reparos que atravessam
madrugadas. E o cúmulo do absurdo, jobs que muitas vezes são construídos
para concorrências pelas quais as agências não são remuneradas, gerando
ideias, esforço, dedicação, que em sua grande maioria, terminam no lixo.
A luz amarela está avermelhando para os
dirigentes do setor de live marketing e seus executivos de recursos
humanos.
Cientes (espero) das comorbidades da nossa
indústria, e pressionados a mudar, precisamos acreditar nas inúmeras
possibilidades abertas por meio das transformações da sociedade, e
ressignificar o que de fato importa para as empresas e pessoas que trabalham
nelas. Precisamos criar soluções inovadoras, colocando de verdade as pessoas no
centro dos negócios, para assim voltarmos a ser empresas desejadas para se
trabalhar.
Um lado bom desse processo de transformação
é que nosso mercado é, em grande parte, composto por empresas pequenas e
médias, que têm a vantagem de serem mais flexíveis e leves para processar
mudanças. Precisamos lembrar que essa é uma indústria que trabalha os desafios
de forma positiva, que promove mudanças, criando pontes de conexão a partir da
motivação, do conhecimento e das múltiplas e criativas experiências que
promove. E é por isso que essa jornada precisa cada vez mais humanizar os
processos, entender o valor do propósito para atrair as pessoas e os bons
negócios.
Uma indústria repleta de oportunidades em
tecnologia, craque no mundo virtual, com aplicativos e plataformas que incluem
e conectam as pessoas nesse mundo cada vez mais híbrido e digital. Onde o home
office, por exemplo, mostrou que as empresas e as pessoas, no geral, estão
preparadas, são responsáveis e gostam de trabalhar com autonomia. Um novo
modelo que não tem motivo para obrigar as pessoas a ficarem sujeitas a um
regime de trabalho burocrático e engessado. Os profissionais de hoje querem
agendas flexíveis, que proporcionem viver com mais qualidade. E nós temos o
privilégio de poder oferecer isso.
Outra forma de reinventar e deixar o nosso
mercado de trabalho mais atraente passa por criar ambientes seguros em nossas
empresas, para que as pessoas possam ser quem elas são. Incluir e abraçar as
diferenças, reconhecendo a força e perseverança dos jovens que crescem e
sobrevivem nas periferias; as mulheres negras, mães solos ou outros perfis de
bravas profissionais, experientes com os desafios da vida, que vão completar,
com certeza, as fortalezas e estratégias de nossas agências; observar o valor
das pessoas LGBTQIA+; das pessoas com deficiência ou das pessoas 50+.
As pesquisas atestam que representatividade
e diversidade reais melhoram o clima organizacional, a qualidade das tomadas de
decisões protegem os resultados do negócio.
Por fim, é mandatório eliminar práticas
predatórias do mercado e garantir gestão de resultados das empresas, para que
elas possam alinhar suas políticas de remuneração se equiparando às indústrias
mais atrativas do mercado. Precisamos pagar salários mais competitivos e
promover bonificações por resultados para atrair as pessoas.
Definitivamente, essa também é uma jornada
de “nãos”. A conta não vai fechar se agências continuarem aceitando
concorrências job a job não remuneradas, longos prazos de
pagamento e briefings especulativos, entre outras práticas.
Nesse sentido, a campanha ESG lançada pela
Ampro esta semana, está em linha com o que se precisa fazer para rearranjar a
cadeia de valor do live marketing, o que naturalmente fará com que nossos
negócios voltem a atrair profissionais capacitados e motivados na quantidade
que precisamos.
No Brasil, toda a indústria de serviços
está em uma situação muito complicada. É por isso que, como cidadãos,
precisamos fazer o que é certo e pensar em soluções que também façam sentido
para as pessoas que trabalham e que geram tantas riquezas a partir delas.
E como empresários, temos de ter
consciência e atitude prática de dar valor a nossa indústria e ao que fazemos
com tanta dedicação. Porque não serão os clientes, o poder público, nem os
profissionais do live marketing sem o nosso apoio que o farão. Faz sentido, não
é?
*Ronaldo Bias Ferreira Jr. é sócio-diretor da
um.a Diversidade Criativa (https://www.linkedin.com/in/ronaldobias/
— https://linktr.ee/Ronaldobias). Formado em comunicação social e marketing,
é empresário, empreendedor e fundador do programa de capacitação Mestre
Diversidade Inclusiva (MDI), em parceria com a Pearson Educacional. É membro
permanente do conselho da Associação Brasileira de Live Marketing (Ampro),
colunista da Promoview e do Portal Eventos, e atua ampliando a voz de
protagonistas, como um forte aliado da diversidade, equidade e inclusão no
mundo corporativo.
Sobre a um.a
Com mais de 26 anos, a um.a #diversidadeCriativa está entre as mais estruturadas agências de live marketing do Brasil, especializada em eventos, incentivos e trade. Entre seus principais clientes estão Pearson, IBGC, SBT, ABRH-SP, dentre outros. Ao longo de sua história ganhou mais de 40 “jacarés” do Prêmio Caio, um dos mais importantes da área de eventos.
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