Verticalização: Crescimento imobiliário afeta economia local, relatam comerciantes de Pinheiros
Enquanto os canteiros de obras tomam conta das
ruas, o bairro vê negócios fecharem; alta no aluguel é um dos motivos
Em seu último
estudo, o Índice QuintoAndar de aluguéis colocou Pinheiros na terceira
posição das regiões com o metro quadrado mais caro de São Paulo. O que a
pesquisa revela é algo que os comerciantes da região sentem na pele: o quanto a
transformação do centro urbano afeta o contexto socioeconômico.
Isso porque Pinheiros tem passado por um
fenômeno chamado verticalização, onde as casas dão lugar aos grandes
empreendimentos. Entre 2014 - ano de criação do atual Plano Diretor de São
Paulo - e 2021, foram mais de mil demolições no bairro. Para se ter uma ideia,
no mesmo período, 6.177 construções foram derrubadas em toda a
cidade.
“Isso acaba refletindo no comércio.
Enquanto os canteiros de obras se estabelecem, as ruas ficam mais vazias e os
negócios vivem mais uma crise”, afirma Vanêssa Rochha Rêgo, presidente do
Coletivo Pinheiros, associação sem fins lucrativos formada pelos comerciantes
para o desenvolvimento de ações de negócio colaborativas, inovadoras e
sustentáveis.
Com a retomada das atividades após
afrouxamento das restrições da pandemia de covid-19, a preocupação dos
estabelecimentos é com a mudança de perfil do bairro. “Tem sido difícil. Fechei
minha hamburgueria e vi colegas fazerem o mesmo. Esse crescimento imobiliário
causado pela verticalização é um chamariz para a instalação de grandes empresas
e marcas. Com isso, os pequenos negócios e as famílias empreendedoras têm mais
obstáculos para se manter, principalmente com custos tão altos”, conta Rômulo
Souto Maior, vice-presidente do Coletivo.
Portas fechadas
Em 2020, ano em que Pinheiros
protagonizou quase 30% das demolições em São Paulo, mais de 10 comércios que
integravam a associação foram fechados.
É o caso de João, que preferiu não
revelar o sobrenome. Ele possuía uma pizzaria na rua dos Pinheiros. “Tínhamos
um ponto alugado que foi solicitado pelo proprietário, pois ele queria vender
para uma incorporadora. Lutamos na justiça pela manutenção durante dois anos,
mas, no fim, tivemos que entregar”, relata.
Para Lamberto Percussi, a história foi
semelhante, mas, por ser dono do espaço onde funcionava a Vinheria Percussi, a
decisão foi menos complicada. “Percebemos que seríamos engolidos pela
verticalização quando uma construtora comprou os terrenos que faziam divisa com
o nosso. A partir disso, não sentíamos que anos de obras seriam bons para o
nosso negócio. Seguiremos com o serviço de delivery
em uma dark
kitchen enquanto planejamos a retomada do atendimento presencial em
outro local”, comenta.
Uma luz no fim do túnel (ou das obras)
Apesar de ter fechado o estabelecimento,
João acredita que o movimento de verticalização pode ser benéfico para o
comércio quando os prédios estiverem ocupados por moradores e empresas. “É um
desenvolvimento que pode trazer novas vendas e valorização, mas o desafio é
aguentar até lá”, explica ao contar que não tem planos de voltar para Pinheiros
por enquanto.
Sobre o Coletivo Pinheiros
Criado em março de 2018, o Coletivo Pinheiros é uma associação sem fins lucrativos, formada por comerciantes locais do tradicional bairro paulistano, que tem um formato pioneiro no desenvolvimento de ações de negócio colaborativas, inovadoras e sustentáveis. O grupo atua em um perímetro de 640 mil m² (da Avenida Pedroso de Morais até a Rua Henrique Schaumann e da Avenida Rebouças até a Rua Teodoro Sampaio), adotando práticas cidadãs integradas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis ODS - ONU) a fim de ressignificar a experiência de consumo e convivência com responsabilidade e consciência, proporcionando a melhor maneira de viver a cidade de São Paulo e o bairro de Pinheiros.
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