IoT é fantástico - Para quem sabe comprar
A IoT ou Internet das Coisas revoluciona
a performance das empresas de logística e frotas,e traz redução de custos,
prevenção de acidentes, mitigando riscos como roubos e fraudes, garantindo a
qualidade de insumos em armazenamento e transporte, e até aumento das vendas
por meio de diferenciais em produtos mecânicos, elétricos e eletrônicos. Mas
isso, é claro, se você sabe o que está comprando.
Na minha opinião, houve uma
transformação radical entre como as empresas compravam tecnologia em geral, nos
anos 80 até os dias de hoje. Naquela época, as empresas não se posicionavam
como alguém que entende o problema e a solução, mas de uma forma mais humilde,
aquela que sabe o problema e quer escutar ideias e soluções do mercado. Hoje,
empresas lançam editais, como se já tivessem avaliado todas as possíveis
soluções, escolhido a melhor para seu negócio, e agora, o que interessa
puramente é o preço.
O problema é que muitas das pessoas que
estão à frente de tais projetos, jamais participaram de algum processo dessa
área, ou seja, eles não têm conhecimento de como implantar a IoT. O que culmina
em editais totalmente sem pé nem cabeça, um verdadeiro Frankstein. O que muitos
não entendem, é que quando o fornecedor não consegue entregar os resultados que
foram objetificados dentro de um projeto tão complexo e sem sentido, ele passa
por culpado e uma nova busca por outro fornecedor começa. É uma verdadeira
espiral de expectativas frustradas e fracassos, tanto da empresa que espera que
seu edital totalmente fora da realidade seja cumprido, quanto do fornecedor que
almeja ser melhor do que o anterior nessa corrida por negócios fechados.
Muitas vezes depois do 3º ou 4º
fornecedor, a empresa começa a se dar conta de que talvez, apenas talvez, o
problema não esteja nos outros, mas sim, o projeto tenha começado errado de
fato na contratação. Primeiro é necessário entendermos o que são comodities e o
que é projeto. Comodities são o que existe na esteira de produção, não há
espaços para customização, a integração, quando disponível, será feita
internamente, é praticamente como pegar um produto na prateleira do
supermercado. É o que é. Mas como tudo, há um lado bom em produtos de
prateleira, eles têm “experiência comprovada”, já foram implantados diversas
vezes e por isso a confiabilidade deles é maior, ou seja, os riscos são
menores.
Mas em contrapartida muitas empresas e
negócios, principalmente as grandes, precisam de seus itens customizados por
necessidade, então colocam tudo o que desejam nesses editais, o que
inicialmente já cria um problema, pois o correto é elaborar o projeto a partir
dos problemas existentes e o fornecedor te dirá o que é necessário para
resolver. Uma espécie de RFI (Request
for Information), um pedido com as informações necessárias.
Exemplo, queremos reduzir o nosso custo com combustível em 30% é bem diferente
do que pedir o equipamento XPTO 3G, com X entradas analógicas, Y digitais, e Z
saídas. O primeiro é aberto e permite avaliar uma vasta gama de ideias de como
solucionar o problema, enquanto o segundo presume que o primeiro já foi feito,
e que você sabe ao certo qual é o melhor caminho. Na grande maioria dos casos,
é apenas um erro processual, onde a empresa na pressão de obter resultados
rápidos, tenta pular etapas; a consequência será fracasso na implantação, nos
resultados obtidos, pessoas vão perder o emprego, e todo processo irá começar
de novo.
Ou seja, neste caso, focar no problema
nesses editais é de fato o primordial, na operação, número de subsidiárias,
pessoas, equipamentos e KPIs. Deixem que os fornecedores irão propor as soluções.
Ao invés de pontuar o “como”, melhor é focar no “o que”, resultado que
gostariam de obter. Vejo, por exemplo, empresas pedindo para que sejam usados
sensores do tipo ADAS, que são específicos para tentar reconhecer
ultrapassagens perigosas, distância do veículo da frente, presença em faixa de
pedestres, entre outros, para uma frota de mil veículos, em que 800 vão rodar
off-road.
Detalhe, esses sensores não funcionam
bem no off-road, foram otimizados para cidades. Mas quem é o fornecedor para
questionar? A venda é feita, e a frustração predomina.
Olhando historicamente nós tínhamos na
década de 80 a função de analista de sistemas, que olhava o processo, o negócio
e desenhava a solução. Mas com um mercado cada vez mais competitivo, etapas
foram puladas e profissionais acabaram perdendo suas funções que eram
respeitadas. Dedicar mais tempo na parte de analise e planejamento é uma ação
que funciona e deve ser mantida para redução de custos e otimização dos
processos.
As empresas já aprenderam que a IoT traz
benefícios substanciais e isso é inquestionável, quando implantada da forma
correta. Mas vejam, se mesmo a Microsoft com seu enormes 20 bilhões de dólares
dedicados a pesquisas e desenvolvimentos ainda não conseguiu resolver
completamente a tela azul do Windows, não dá para se esperar que a primeira
versão de uma tecnologia, desenvolvimento ou customização seja 100% estável.
Então se a sua ideia é entrar em projetos de inovação, é preciso entender que
existem riscos, é preciso ter tolerância a eles, estar aberto a ajustes e ter
procedimentos que sustentem esse tipo de ações.
Resumindo, um bom projeto é aquele
especificado com base em objetivos claros, mensuração eficaz e retorno sobre o
investimento convincente, é isso que vai permitir que o IoT entregue todo o seu
potencial a sua organização.
Daniel Schnaider é CEO da Pointer by Powerfleet Brasil, líder mundial em soluções de IoT para redução de custo, prevenção de acidentes e roubos em frotas. Integrou a Unidade Global de Tecnologia da IBM e a 8200 unidade de Inteligência Israelense. Especialista em logística, tecnologias disruptivas, economista e autor da obra "Pense com calma, aja rápido".
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