Jovens com até 30 anos querem ter um negócio próprio, diz pesquisa
Marco Antonio Spinelli*
Acho que uma coisa
passou despercebida da maioria das pessoas e mesmo dos profissionais de
Psiquiatria e Neurociência chamados a opinar sobre o julgamento das
celebridades Johnny Depp x Amber Heard: foi o laudo da perita indicada pela
equipe do ator Johnny Depp, que indicava um duplo diagnóstico para Amber:
Transtorno Borderline de Personalidade e Transtorno Histriônico de
Personalidade. O que ninguém notou, inclusive a equipe Tabajara de Defesa da
atriz, é que esses diagnósticos são mutuamente excludentes e faziam parte da
tentativa da equipe de acusação de demonizar Amber Heard e pintá-la como uma
louca inconsequente, no que foram completamente bem sucedidos.
Para quem não
acompanhou essa espécie de Surreality Show de Tribunal, a mídia acompanhou
avidamente cada dia desse embate judicial, com toneladas de fake news e
tentativas de manipulação de júri e opinião pública. Tudo isso começou em 2016
e 2017, quando após o divórcio do curto casamento entre o ator de “Piratas do
Caribe” Johnny Depp e a atriz menos consagrada Amber Heard, mais de duas
décadas mais jovem, veio a público um artigo em que a moça afirmava ter sido
vítima de maus tratos e violência física da parte de seu ex-marido. Johnny
Depp, que tinha histórico de explosões de temperamento e comportamento violento
contra mobílias de hotel por conta de abuso de álcool e outras drogas, teve sua
carreira destroçada pela denúncia, com a cascata de cancelamentos que
caracterizam nossa sociedade digital. Perdeu papéis importantes, vendeu
propriedades e passou a ser visto como um covarde espancador daquela esposa
jovem e magrela. Finalmente, ele abriu um processo por Calúnia e Difamação, o
que rendeu o tal julgamento de quase dois meses. Johnny ganhou a causa e limpou
o seu nome, Amber Heard virou a monstra que todos amamos odiar. Como eu tendo a
achar que a opinião pública e o senso comum estão sempre errados, vamos ver a
estratégia desenhada pela equipe de Johnny Depp para emparedar a equipe
adversária (com grande sucesso).
Por que o Transtorno
Borderline é mutuamente excludente com o Transtorno Histriônico de
Personalidade? O Transtorno Borderline é um quadro crônico e grave de mudanças
de Humor e Comportamento geradas pelo pavor e reação violenta a rejeições e
abandonos, reais ou imaginários. Essa intolerância ao abandono gera a ativação
de áreas cerebrais vinculadas à dor, o que pode gerar comportamento de
autoagressão e em casos mais severos, tentativas de suicídio. É difícil uma
moça com esse quadro ter uma carreira de sucesso. Amber Heard é mimada e
prepotente e, pudemos notar, tem muita gente da Indústria do Entretenimento que
não gosta ou abomina a moça. Ela não fica tentando desesperadamente ser aceita
ou não ser abandonada. Antes disso, ela costuma rejeitar, abandonar e maltratar
as pessoas e não a si mesma.
O Transtorno
Histriônico se caracteriza pelo afeto superficial, a necessidade de manipulação
de todos à sua volta, com a intenção consciente ou inconsciente de ser sempre o
centro das atenções. Ao contrário do Transtorno Borderline, onde tudo vira um
drama profundo e visceral, o Transtorno Histriônico está relacionado com pessoas
com um afeto de plástico, uma quase ausente capacidade de vínculo ou de cuidado
com as pessoas, embora consiga teatralizar que amam muito quando não amam quase
nada. Parece uma descrição mais acurada das queixas de Johnny Depp com a moça.
Como o leitor e a leitora podem notar, a contradição entre os diagnósticos da
loira e bonitérrima perita de Johnny Depp poderiam facilmente levar outro
perito a jogar toda a sua análise do caso no lixo, mesmo lugar para onde foi a
carreira de Amber Heard.
Nas considerações
finais da advogada de Johnny Depp, a também bonitérrima Camille Vasquez, foi
construída à perfeição o argumento que Amber Heard, com sua necessidade
absoluta de chamar a atenção sobre si, forjou uma história de agressão e abuso
que não existiram, seja para se vingar, seja para se colocar no Trono da
Vítima, lugar muito disputado nesses tempos de Redes Sociais. Trata-se de um
jogo de expor publicamente quem sofreu a maior violência e quem é o maior
monstro perpetrador. Isso esvazia as histórias VERDADEIRAS sobre abandono,
abuso e violência que estão sempre acontecendo nos lares e nas relações
humanas, muito frequentemente as mais próximas. Depois da fake News, temos as
fake victims, que obscurecem e desvalorizam as milhares e milhares de mulheres
que sofrem de violência e abuso doméstico. Camille Vasquez pintou a atriz Amber
Heard como uma fake victim, que montou uma acusação teatral para receber
atenção, clicks e likes. Camille ganhou a ação e, antes disso, a opinião
pública.
Uma outra terapeuta, a
do Casal, falou (e ninguém notou), que Johnny e Amber tinham um casamento
disfuncional, com violências e agressões de parte a parte. A pessoa que atendeu
e viu de perto o casal indicou, e ninguém percebeu, que a alegação de violência
psíquica e ameaças físicas foi referendada pela única pessoa com uma visão
imparcial de como a dupla funcionava. Como na maioria absoluta dos casamentos
disfuncionais, nunca há só um mocinho nem só um bandido.
Esse caso lança luz
sobre nossa era de linchamentos digitais e a pressa em condenar antes de saber
o que minimamente aconteceu. A necessidade de se ter opinião sobre todos os
assuntos, principalmente aqueles que não conhecemos. E, infelizmente, tira o
peso das alegações de quem realmente sofreu violência e abuso.
*Marco Antonio Spinelli é médico, com mestrado em psiquiatria pela Universidade São Paulo, psicoterapeuta de orientação junguiana e autor do livro “Stress o coelho de Alice tem sempre muita pressa”
Nenhum comentário