O papel dos sistemas corporativos na agenda ESG
Por Marcelo Murilo
“Não temos um plano B, porque não temos um
Planeta B.” Esta frase foi dita pelo Secretário-Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, em outubro de 2015, durante uma visita à
Eslováquia, às vésperas da COP21 (tratado internacional contra as mudanças
climáticas causadas pelo ser humano), que aconteceu em Paris. Esta frase
certamente, traz à tona uma grande reflexão sobre a consciência ambiental
tornar-se cada vez mais prioritária e alinhada aos propósitos das organizações.
Diante deste cenário, é imprescindível
priorizar a sustentabilidade, apoiar a diversidade e inclusão social - dentro e
fora da empresa -, concentrando-se em fortalecer a governança corporativa e as
relações com os parceiros e demais públicos estratégicos.
É notável que há uma geração mais
consciente de seus direitos e responsabilidades com as questões ecológicas e
sustentáveis. Por isso, tornou-se cada vez mais comum, as companhias
depararem-se com novos talentos que possuem preocupações que vão muito além da
remuneração e plano de carreira.
Esta nova geração, que busca empresas
sustentáveis e transformadoras, começa a ocupar os cargos de direção nas
organizações defendendo estes valores, tanto internamente, quanto junto ao
mercado. Ou seja, os novos gestores serão muito mais criteriosos na escolha de
seus fornecedores, em especial no que tange a indicadores de sustentabilidade.
Por isso, conhecer e se conectar com o
propósito transformador massivo de uma empresa, é um dos maiores atrativos para
os novos talentos. E, esse comportamento, não se reflete apenas na busca por
empregos, mas também nos hábitos de consumo.
Segundo estudos da Confederação Nacional da
Indústria (CNI), 38% dos consumidores checam, antes da compra, se um produto
foi produzido de forma ambientalmente correta e 62% boicotam marcas que, de
alguma forma, violam direitos fundamentais de pessoas ou animais e não são
sustentáveis ou inclusivas.
Além disso, a agência de pesquisa
norte-americana Union + Webster, também apresenta dados que reforçam esse
movimento. De acordo com o levantamento, 87% da população brasileira prefere
comprar produtos e serviços de empresas sustentáveis e 70% dos entrevistados
disseram que não se importar em pagar um pouco mais por isso.
Por fim, precisamos relembrar que, em 2020,
Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, em sua carta
anual aos CEOs das empresas investidas, informou que, a partir daquele momento,
nas avaliações de investimento, passaria a considerar o risco das práticas no
mesmo patamar das avaliações de crédito e liquidez.
Ou seja, para mantermos nossa
atratividade para talentos, clientes e investidores é fundamental que a agenda
ESG - Environmental, Social and Corporate Governance (Ambiente,
Social e Governança Empresarial, na tradução) ganhe
destaque nas empresas, com o alinhamento de iniciativas e a adoção de métricas
e ferramentas que permitam o estabelecimento de políticas, controles e,
fundamentalmente, de uma cultura de sustentabilidade.
Responsabilidade Ambiental: é
preciso medir para reduzir e compensar
Uma das medidas que pode ser
citada é a pegada de carbono, que consiste no cálculo da emissão de carbono
equivalente lançado na atmosfera por uma determinada empresa e que permite seu
controle, redução e compensação anual.
É por isso que os sistemas corporativos, em
sua totalidade, precisam estar preparados para este novo momento, uma vez que
congregam boa parte das informações necessárias para o seu projeto ESG, e este
deve ser um fator importante no momento da escolha de um sistema corporativo.
É no ERP que serão encontrados
os dados referentes ao consumo de papel e energia, viagens corporativas, sobre
a produção de resíduos industriais, dentre outros fatores levados em
consideração no cálculo.
Já no sistema de RH, existem dados
referentes ao deslocamento de funcionários, distância, frequência e tipo de
meio de transporte. Neste sentido, é fundamental que os seus sistemas de ERP e
RH permitam a compilação destes dados, o cálculo e acompanhamento da sua pegada
de carbono segundo os critérios do Greenhouse Gas Protocol e da ISO
14064 e 4067, a qual deve ser, preferencialmente, exposta para todos os
colaboradores em painéis indicativos, buscando o engajamento do time e a
redução constante.
Quando se fala sobre responsabilidade
social, o papel do RH é ainda mais fundamental, pois é dele que serão extraídas
as informações necessárias para compor, medir, analisar e definir ações que
tornem a empresa mais alinhada com as práticas ESG. Desta forma, é imperativo
que a solução de RH permita avaliar, medir e expor a composição e remuneração
do quadro de colaboradores e gestores conforme raça, religião, sexo, gênero ou
orientação sexual, buscando máximo de diversidade no time e de equidade nas
oportunidades.
Contudo, responsabilidade social não é
apenas quanto ao time, mas também perante a comunidade e a sociedade em geral.
Indicadores referentes a ações sociais, em especial, frente à comunidade em que
a empresa está inserida, devem estar contemplados em seus sistemas corporativos.
E, é quando falamos do papel social da
empresa e de sua relação com a sociedade, que outros sistemas corporativos
também ganham importância, como por exemplo, na área jurídica. A quantidade de
ações judiciais que a empresa detém, por exemplo, denota sua relação com os
colaboradores, clientes, fornecedores e o governo, portanto seu sistema de
gestão de processos judiciais também deve fornecer informações precisas e
evolutivas, mostrando a preocupação da companhia com a melhoria destas relações
com a sociedade.
Por fim, não se pode esquecer do CRM, uma
vez que lá serão encontrados um dos mais relevantes indicadores de
sustentabilidade corporativa, o NPS, que também é um indicador ESG. O Net
Promote Score – NPS, mede o grau de satisfação dos seus clientes e o
quanto eles estariam dispostos a indicar a sua empresa para outras pessoas. Ou
seja, ele demonstra a relação da organização com seus clientes e denota a sua
sustentabilidade. Portanto, uma boa gestão deste indicador, dentro do CRM, ou
de uma ferramenta específica, gerida pelo time de Customer Success,
faz-se imprescindível.
ESG is the new black
Assim, ao avaliar todo este movimento, a única conclusão que podemos
chegar é que, se as empresas não investirem na agenda de sustentabilidade,
usando como base os indicadores ESG, não será possível recrutar e reter os
talentos da nova geração, nem ser atrativo para os clientes (empresas e
consumidores finais), e sequer, atrair investimentos. Ou seja, como alguns já
cunharam recentemente, “ESG is the new black”, é o básico, sem o qual
sua empresa não irá sobreviver.
Lembre-se que, sem ESG quer dizer, a médio prazo, sem time, sem clientes
e sem investidores!
Marcelo Murilo é VP de Inovação e Tecnologia do Grupo Benner, empresa que disponibiliza informações por meio de softwares e processos com o objetivo de revolucionar os negócios.
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