O Pêndulo dos Pitches
* Por Francisco Perez
Quando um ecossistema de inovação
alcança graus mais avançados de maturidade significa que já abriga alguns
milhares de empreendimentos e, certamente, pelo menos várias dezenas de
gestoras de fundos de capital de risco. No caso do Brasil, segundo o VC Radar elaborado pelo Emerging VC Fellows, o
número de casas investidoras ultrapassa a marca das 210.
O Brasil deu partida ao financiamento
sistemático de startups quase que exclusivamente por meio de recursos públicos,
com raras iniciativas de risco privado, particularmente no período que vai de
1967 a 2006. Nesta fase pioneira, praticamente só havia o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e a Financiadora de Estudos de
Projetos (FINEP) que dominavam um cenário ainda bastante incipiente. Somente a
partir dos anos 2010 o capital de risco privado passou a desempenhar um papel
mais decisivo no ecossistema nacional.
Fonte: VC
Radar (2022)
Em qualquer contexto de intensa escassez
na oferta, a demanda fica de joelhos. Essa é uma das mais antigas leis dos
mercados. Por isso, até pouco tempo os chamados pitches reversos ainda eram uma novidade. O
esperado era que a startup vendesse o seu peixe de porta em porta. Não são
raros os fundadores que afirmam terem apresentados mais de mil pitches.
Esse padrão se manteve por tanto tempo
que acabou naturalizando ideias equivocadas do ponto de vista dos negócios, de
que existe um desequilíbrio entre empreendedores e investidores, sempre a favor
dos últimos. O fato é que nem o empreendimento é menos valioso do que o recurso
financeiro, nem o investidor é mais importante do que o empreendedor.
Pelo contrário, o pêndulo entre esses
atores oscila, ora para um lado, ora para o outro. Essa, sim, é a natureza do
mundo dos negócios: a alternância das posições de liderança na volátil dinâmica
dos interesses, no caso, o sofisticado jogo do Venture Capital, um jogo que
requer muita atenção e sensibilidade. Nele, os mais experientes e bem-sucedidos
são aqueles que já aprenderam a valorizar todas as partes, sabendo que elas
precisam atuar em colaboração para o crescimento dos empreendimentos.
Fonte: ABStartups;
número de startups projetado retroativamente de 2015 a 2000 a uma razão de
-19% aa
Curiosamente, nem o crescimento
vertiginoso da quantidade de startups no ecossistema brasileiro, especialmente
a partir de 2017, superou, proporcionalmente, o número de deals realizados.
Fonte: Distrito
Inside Venture Capital número de deals projetado retroativamente de
2010 a 2000 a uma razão de -21% aa.
Embora pareça até certo ponto
contraintuitivo, a proporção entre o número de deals e startups entre 2000 e 2021 na verdade
está em crescimento. Mesmo as atuais 14.065 startups identificadas pela
ABStartups não alteram a tendência de aumento da razão Deals ÷ Startup. Ou seja,
por mais que o número de startups seja grande, ainda assim, cada vez mais,
existem mais oportunidades de negócio.
O crescimento do ecossistema é bom para
todo mundo. Mais do que nunca, tanto empreendedores, quanto investidores,
precisam ter seus pitches
na ponta da língua. O mercado de VC oferece oportunidades cada vez melhores
para todos.
*Francisco Perez é diretor de Novos Negócios, responsável pelo Hub de Inovação Alfa Collab e pela Área de ESG do Alfa
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