Pesquisas Eleitorais: conjuntura x previsão
Fábio Pereira de Andrade
Durante as últimas semanas fomos
bombardeados com resultados de pesquisas eleitorais. Essa proliferação pode
suscitar múltiplas sensações. Há uma dimensão caracterizada pelo excesso de
informações, o qual levanta outro ponto, como lidar com as diferentes
informações que recebemos? Há ainda o grupo de pessoas que duvida da validade
de pesquisas, afinal de contas “eu nunca fui entrevistado, ninguém que conheço
foi, como posso acreditar?”, por fim, há o grupo que duvida da seriedade dos
institutos de pesquisa, associando-os ao grupo de Instituições Políticas que
devem ser varridas do mapa.
No início de maio organizamos um evento
sobre pesquisas eleitorais, o qual contou com profissionais com experiência
acumulada na elaboração de pesquisas e acompanhamento de eleições. Alguns
pontos destacados podem ajudar em uma melhor compreensão sobre os alcances e
limites dessas pesquisas.
Em primeiro lugar, cabe destacar que a
função das pesquisas é revelar apenas um retrato do momento político! No
entanto, é comum ocorrer extrapolação, isto é, a utilização do diagnóstico da
conjuntura política para elaboração de um prognóstico do resultado eleitoral.
Nesse sentido, os resultados de diferentes pesquisas indicam que o momento
político é mais favorável à candidatura de Oposição. Contudo, esse é retrato
político de maio, enquanto o primeiro turno das eleições será em outubro.
Em segundo lugar, a elaboração de
pesquisas é um trabalho sério, realizado por Instituições e Pessoas que possuem
reputações a zelar. Ainda nesse sentido, a necessidade registro das pesquisas
junto ao Tribunal Superior Eleitoral implica na divulgação de informações
relativas a custos, financiadores, procedimentos de construção da amostra,
técnica de entrevistas, etc. Ou seja, realização de pesquisas demandam
transparência, postura que não é necessária na realização de enquetes populares
em mídia sociais.
A construção de amostra permite análise
crítica, porém a partir de avalição técnica. A amostragem depende de base de
dados nacionais, de maneira salutar o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) disponibiliza dados populacionais com atualização trimestral
através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua (PNAD).
Todavia, cabe o primeiro reparo, pois a PNAD cobre municípios próximos à
capitais ou ligados às regiões metropolitanas. Logo, municípios com populações
menores e mais afastados não estão contidos na amostra, por consequência essa
base de dados cria um viés populacional para amostras de pesquisas eleitorais.
Esse viés pode ser diminuído? Sim, com a utilização de dados censitários, porém
nosso último censo foi em 2010.
Ainda no tema amostragem, a defasagem
dos dados pode comprometer os procedimentos amostrais probabilísticos e não
probabilísticos. No procedimento probabilístico, a inadequação dos dados pode
alterar a seleção de municípios para aplicação de pesquisa. Enquanto no
procedimento não probabilístico a seleção de municípios ponderada por gênero,
idade, escolaridade e setor de atividade econômica pode ser inadequada.
Em síntese, a base de dados utilizado
como referência na amostra pode criar vieses, independente do trabalho dos
Institutos de Pesquisa. No entanto, tais vieses são menores se comparados aos
procedimentos de enquetes e a simples observação do “entorno”.
Por fim, outro ponto que suscita
avaliação crítica diz respeito à forma de entrevista. Pesquisas com entrevistas
feitas pessoalmente (por pesquisa em domicílio ou em ponto de fluxo) são mais
caras, porém, tendem a ser mais assertivas na captação de respostas, em
especial junto à públicos dos extratos inferiores de renda. As pesquisas
através de contato telefônica são mais baratas, porém tem dificuldade de captar
de forma assertiva respostas junto ao público de baixa renda e menor
escolaridade, em especial as pesquisas telefônicas feitas por robôs. Com o
advento da Pandemia, houve uma ampliação das pesquisas eleitorais realizadas
por telefone. Assim, cabe destacar que há possibilidade de os retratos
eleitorais desfocarem a parcela relativa ao público de baixa renda.
Em política, conjuntura além de momento
e parte constitutiva de um acontecimento amplo, em um paralelo, as pesquisas
nos ofertam um pedaço estruturado de um quebra-cabeça, para o qual a imagem
final ainda não é revelada. Há grupos que não gostam da imagem parcial e
desejam desmontar tudo e tentar construir algo diferente do zero! Cabe lembrar,
estamos diante de um pedaço de imagem, que pode explicar o retrato final, ser
uma miniatura da imagem completa, ou ser um fragmento completamente distinto!
Os Institutos de Pesquisa e o TSE podem difundir informações sobre os alcances
e limites de pesquisas, academia, imprensa e atores políticos partidários
também. Em síntese, diante de pesquisas oficiais recordemos duas palavras:
momento e prudência.
Fábio Pereira de Andrade é professor de Relações Internacionais
na ESPM. É doutor em Administração Pública e Governo e mestre em Economia.
Sobre a ESPM
A ESPM é uma escola de negócios inovadora, referência brasileira no ensino superior nas áreas de Comunicação, Marketing, Consumo, Administração e Economia Criativa. Seus 12 600 alunos dos cursos de graduação e de pós-graduação e mais de 1 100 funcionários estão distribuídos em cinco campi - dois em São Paulo, um no Rio de Janeiro, um em Porto Alegre e um em Florianópolis. O lifelong learning, aprendizagem ao longo da vida profissional, o ensino de excelência e o foco no mercado são as bases da ESPM.
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