A Guerra nos Negócios e as "Sete Grandes"
Rodrigo Catani, head de potencializar vendas da
AGR Consultores
Uma das maiores dificuldades das atuais
lideranças das organizações é mapear as ameaças de disrupção em seus mercados.
As mudanças são muito rápidas, muito voláteis, o volume de informações que
recebemos é descomunal, gera ansiedade e muitas vezes, paralisia. Li recentemente
o livro “Unlocking The
Customer Value Chain” (“Desvendando a Cadeia de Valor do
Cliente” na versão em português) do brasileiro Thales Teixeira, professor de
Harvard e MIT e consultor de grandes empresas. O livro traz uma série de
insights e exemplos muito interessantes de como a cadeia de valor do consumidor
é “rompida” por diversas empresas, geralmente startups, e não por competidores
conhecidos, e que tomam o lugar de grandes corporações tradicionais e até então
bem estabelecidas. E diferentemente do que muitos pensam, não é a tecnologia
que gera essa disrupção, mas sim o real entendimento dos consumidores, seus
hábitos e ocasiões de consumo. A cadeia de valor do consumidor é rompida por um
novo modelo de negócios que satisfaz suas demandas e anseios e ao mesmo tempo
elimina ou reduz muitas atividades que não geram valor.
Gostaria de destacar dois pontos do
livro que chamaram muito a atenção. O primeiro diz respeito ao foco excessivo
na concorrência. Segundo ele, as analogias com as guerras, tão usadas no mundo
dos negócios, fizeram com que as empresas ficassem obcecadas pelo que os
competidores estão fazendo e parassem de prestar atenção a quem realmente
importa, os consumidores. Aqui vale a definição que ele usa para um modelo de
negócios do ponto de vista do cliente: “Um modelo de negócios é composto pelo
valor que um negócio cria para mim, o que cobra de mim em troca daquele valor e
que valor desgasta para mim.”
O segundo é uma simplificação muito
interessante proposta pelo autor para facilitar essa “missão quase impossível”
de entender os movimentos dos consumidores e as tendências de consumo. Ele nos
apresenta o conceito que chamamos de “As Sete Grandes”. É possível identificar
as grandes ondas de disrupção global considerando apenas sete grandes
categorias de consumo, que representam mais de 95% dos gastos das pessoas*. São
elas:
- Onde morar –
moradia, produtos para casa e manutenção do lar
- Como se locomover –
transporte e mobilidade
- O que comer –
alimentos, bebidas e itens para seus preparos
- O que vestir –
moda, cosméticos e higiene pessoal
- Como aprender –
educação formal e informal
- Como se entreter –
mídias, eletrônicos e esportes
- Como se cuidar –
tratamentos de saúde, físicos e mentais
Além de sua enorme representatividade,
estas categorias geram uma influência não somente entre si, mas também em
outras não relacionadas, no que diz respeito às necessidades dos consumidores,
causando uma espécie de “efeito contagioso”. Uma vez que os consumidores se
acostumam a um patamar de serviços em uma delas, passam a buscá-lo em todas as
demais.
A possibilidade de rastrear como as
pessoas alocam a maior parte do seu dinheiro e do seu tempo, torna mais fácil
identificar como podem nascer as próximas ondas de disrupção que poderão
impactar um negócio ou segmento de mercado. Este foco no comportamento e nas
motivações no consumidor e não nos concorrentes, faz com que as empresas
consigam ser mais bem sucedidas nessa árdua missão de estar sempre antenadas e
em busca de satisfazer as demandas dos consumidores com diferentes modelos de
negócios.
* Dados de consumo dos lares americanos com base na Consumer Expenditure Survey, do US Department of Labor
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