A pandemia dos camelôs virtuais
Por
Daniel Grajwer
Minha filha queria muito uma chuteira de
futebol, e o tio dela presenteou-a com o artigo esportivo. Porém, após usar
apenas uma vez, ficou com dores insuportáveis nos pés que demoraram entre um ou
dois meses para sarar.
As suspeitas eram bem vagas, uma vez que
o calçado era de uma marca bastante conhecida e apropriada para o esporte. E
depois de uma profunda busca comparativa veio a confirmação: a chuteira era
falsa. Quando questionado, assustado o tio abriu o site de um dos maiores e-commerces da América
Latina, fez a busca e estava lá, o primeiro link, o qual ele realizou a compra.
A pergunta do milhão é: como vamos saber
que aquela loja, dentro do site de vendas online
que reúne multimarcas famosas, vende produtos originais?
Saímos da garantia de um site que
poderia nos eximir de qualquer produto contrafeito, para a versão virtual do
que há muito acontece nas ruas. Aquele lojista que paga todos seus impostos
compete com a banca de rua, ou lojinhas de galerias, que vendem ou mercadorias
roubadas ou mesmo falsificadas.
Então, pensamos, temos dois tipos de
Brasil, o que defende a lei do consumidor, que tem o direito de saber
exatamente o que está comprando; e o Brasil da máfia, que está nas ruas e lojas
virtuais enganando com produtos frutos do crime, embora sejam os únicos
comércios acessíveis a grande massa trabalhadora do nosso país.
Além de toda a problemática do comércio,
entramos também na esfera das questões prejudiciais como produtos tóxicos, como
exemplo bebidas alcóolicas, que colocam a vida humana em risco.
Ou seja, todo esse contexto, sem a
ferrenha fiscalização, deixamos de colaborar e, mais ainda, prejudicamos as
pessoas que estão seguindo as leis, e corroboramos com o crime organizado. E,
no final desta matemática, o consumidor quem fica com a conta a ser paga,
afinal, acredita que comprou um produto original, contando com a qualidade da
marca, e recebe um paralelo. E não podemos contar com os sete dias para a
troca, uma vez que por vezes demoramos a descobrir que o produto é falso,
afinal, não temos a expertise no assunto.
Quando levamos para o panorama da loja
física, ainda conseguimos distinguir uma multimarca, por exemplo, que assegura
que aquele produto é original. Porém, quando estamos no cenário virtual, nem
sempre é assim.
Os grandes sites de e-commerce são proporcionais
aos shoppings físicos renomados, e quando imaginaríamos que o produto adquirido
é fruto de furtos, roubos, fraudes, contrabando, entre outros?
A primeira solução que nos vem a cabeça
é a fiscalização dentro do próprio site de comércio eletrônico, mas não podemos
esquecer que isso não é necessariamente interesse deles, não existe incentivo,
uma vez que se comportam como meio de pagamento, no qual eles têm uma
porcentagem em cima do produto vendido.
Existem algumas soluções tecnológicas,
na natureza do blockchain
que irão ajudar no combate dessas atividades. Infelizmente, não acredito que a
solução virá do Congresso Nacional ao instituir políticas públicas para impedir
essa problemática. Isso nos traz um problema ainda maior, quando há intervenção
do governo, ele logo tem o interesse de criar mais uma autarquia para
fiscalizar que aumenta os custos de arrecadação com impostos, mas não
necessariamente traz valor social compatível. Então se uma agência reguladora
que irá burocratizar não é a solução, o que funcionaria?
Além de incentivar o debate, exigir como
consumidores que estes sites comecem a tomar atitudes que demonstrem com “selo”
quem são as lojas confiáveis de marca, talvez uma regulamentação privada
através do seguro onde o cliente tenha a garantia de retorno se o produto for
falsificado ou contrabandeado. Gritar para que o exército proteja melhor as
fronteiras, pressionar para um estado menor, onde ao decrescer os impostos o
incentivo pelos caminhos escusos diminui.
Ainda, grandes marcas precisam se unir
para apoiar tecnologias e movimentos de combate à pirataria e o contrabando.
Afinal, é o nome deles que está em jogo.
Nada simples, ou mesmo fácil, mas pelos
seus familiares e os meus, algo precisa ser feito.
Daniel Grajwer é jornalista, autor e economista pela universidade Haptuha de Israel.
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