Julho das Pretas: 25/07, Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha busca ampliar a consciência sobre desigualdades de raça e gênero
Liliane Rocha, empreendedora negra e uma das 50
Mulheres de Impacto da América Latina, atua para aumentar a presença de
mulheres negras nas empresas
Liliane Rocha_CEO E Fundadora da Gestão Kairós
Mario Bock
Com o objetivo de visibilizar a luta das
mulheres negras contra o preconceito, opressão e falta de oportunidades em
diversos setores, o Dia da
Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha passou a ser celebrado em 25 de julho.
A data foi criada em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres
Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, que aconteceu em Santo Domingo,
República Dominicana, um importante marco que estimulou a Organização das
Nações Unidas (ONU) a assumir a responsabilidade de pautar questões de raça e
gênero em suas estratégias.
Aqui no Brasil, a data também celebra a
líder quilombola, Tereza de Benguela, símbolo de luta e resistência do povo
negro, que foi reconhecida pela Lei nº 12.987, de 2 de junho de 2014, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da
Mulher Negra, data de mobilização por igualdade de direitos.
Na América Latina e Caribe cerca de 200
milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, correspondendo a 30%
da população dessas regiões, segundo a Associação Rede de Mulheres
Afro-Latinas, Afro-Caribenhas e da Diáspora (Mujeres Afro). Apesar da presença
expressiva nessas populações, negros ainda são as pessoas mais afetadas pela
pobreza, marginalização e pelo racismo, sendo que mulheres negras enfrentam
barreiras ainda maiores.
Um estudo de 2018 do pesquisador
brasileiro e PHD em Sociologia Luiz Valério Trindade mostra que 81% dos
comentários depreciativos nas redes sociais brasileiras tem mulheres negras
como alvo. Para a executiva negra, CEO e Fundadora da Gestão Kairós, Liliane
Rocha, isso se dá por conta do racismo estrutural. “Quando as mulheres negras
passam a se destacar e serem reconhecidas em suas áreas de atuação, e esse
sucesso começa a repercutir nas redes sociais, há a prova de que, apesar das
desigualdades sociais, elas conseguiram, em alguma medida, romper um ciclo e
sair da posição subalterna. Os ataques são a manifestação do racismo enraizado
na sociedade brasileira”.
Outro dado que reforça as desigualdades
enfrentadas pelas mulheres negras na região é da Comissão Econômica para
América Latina e Caribe (Cepal). Em um relatório divulgado no início de junho,
a instituição aponta um cenário econômico preocupante no curto prazo, no qual
33% da população da América Latina estará em situação de pobreza. Desses, quase
15% estará em situação de pobreza extrema, ou seja, são pessoas que terão menos
de R$ 9 por dia para viver. Outro dado ainda mais assustador: até dezembro de
2022, 94,4 milhões de pessoas da região não conseguirão fazer três refeições
diárias. A pesquisa também destaca que as famílias negras chefiadas por
mulheres são as mais atingidas pela falta de comida, com 63% dos lares em algum
patamar de insegurança alimentar.
E o emprego é um dos caminhos para
minimizar o impacto desses números! No Brasil, o salário das mulheres negras
ainda é 57% menor do que de homens brancos, 42% menor do que de mulheres
brancas e ainda recebem 14% a menos do que os homens negros. Os dados são de um
levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e levam
em conta os rendimentos de 2019.
Além dessa diferença salarial, outro
ponto que precisa ser analisado é a baixa empregabilidade de mulheres negras.
Aqui no Brasil, essa questão ainda está longe de ser resolvida considerando os
dados do estudo inédito Representatividade,
Diversidade e Percepção - Censo Multissetorial da Gestão Kairós, confirmando
um abismo de desigualdade para mulheres negras em atuação nas empresas. O
estudo contou com a participação de mais de 26 mil respondentes, apontando que
mulheres negras no quadro geral das empresas é de somente 8,9%, em um
contingente de 32% de mulheres. Já em cargos de gerência e acima, o cenário é
ainda mais desafiador, com apenas 3% de mulheres negras em uma população de 25%
de mulheres líderes.
“É possível observar que, quanto mais
marcadores identitários, menor é a representatividade de mulheres negras dentro
das empresas. Estamos acostumados a universalizar a questão da mulher pela
mulher branca e quando olhamos para a mulher negra a gente vê que,
estatisticamente, o abismo de direitos ganha proporções ainda maiores, por isso
é urgente que as lideranças das empresas criem políticas que garantam
efetivamente a igualdade racial e de gênero, assegurando o acesso a
oportunidades e direitos básicos como educação, saúde e emprego, além, é claro,
de combater a discriminação em todos os espaços. Só dessa forma conseguiremos
acabar com a invisibilidade das mulheres negras”, acredita Liliane Rocha.
Sobre a especialista:
Liliane Rocha - Fundadora e CEO da Gestão Kairós –
Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade. Especialista há 17 anos em
Sustentabilidade e Diversidade em grandes empresas. Foi eleita recentemente uma
das 50 Mulheres de Impacto da América Latina pela Bloomberg Línea. É
Conselheira Consultiva de Diversidade da AmBev, da Novelis do Brasil, do CEO’s
Legacy - Iniciativa da Fundação Dom Cabral e do Conselho do Futuro do IBGC
(Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).
Docente na Pós-Graduação de
Sustentabilidade e Diversidade na FIA /USP, no SENAC e na Pós-PUCPR Digital.
Mestre em Políticas Públicas e MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade pela
FGV, Especialização em Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação
Dom Cabral, e Relações Públicas pela Cásper Líbero.
Autora do livro “Como ser um líder inclusivo”, detentora oficial do conceito Diversitywashing – Lavagem da Diversidade – no Brasil, desde 2016. Colunista da Época Negócios, na coluna Diversifique-se, da VOGUE, na coluna Negócios e, mais recentemente, do InvestNews, na coluna ESG News com Liliane Rocha. Reconhecida por três anos consecutivos como uma das 101 Lideranças Globais de Diversidade e Inclusão pelo World HRD Congress.
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