Precisamos voltar a fazer o simples: os desafios do setor de logística no pós-covid
Por Bruno Pelikan, CEO da Rabbot , plataforma
de automação e orquestração do ecossistema de frotas
Esqueça tudo que você sabia antes da
pandemia. Nada disso servirá para o novo mundo. Quem nos fez esse alerta foi
Steve Blank, um dos expoentes do empreendedorismo que evoco para falar dos
desafios do setor de logística no pós-pandemia.
Não é de hoje que os recursos são
escassos e, mais do que nunca, a tecnologia é uma aliada à carência de um dos
principais deles, o tempo. O mundo muda rápido e as soluções precisam ser
ágeis, simples e inovadoras. Em se tratando do setor de logística, na prática,
é preciso mudar o mindset de
toda a cadeia para resolver problemas que se repetem no dia a dia.
Já temos ao alcance das mãos um
aplicativo que traz, por exemplo, o raio-X do caminhão e que avisa ao motorista
que, se há um furo na carroceria e que vai chover nas próximas horas, não é um
bom dia para sair da garagem com esse veículo. Se sair, a carga estará molhada
e os prejuízos serão certos ao chegar para a entrega. O futuro já chegou e as
startups captaram isso mais rápido que o mercado tradicional de
transportadoras, ainda preso a soluções analógicas, planilhas ou buscando
desenvolver seus próprios sistemas. Se por um lado temos esse boom de inovação,
do outro, vemos empresas presas no tempo com dinâmicas obsoletas.
Antes do advento da covid-19, o contexto
era outro: liquidez excessiva no mercado, consumo em alta. Em linhas gerais, o
mercado estava menos preocupado com eficiência para a logística. Quando veio a
pandemia, em março de 2020, Steve Blank, nos alertou: reset tudo que você sabe
sobre o mundo até agora. Só que esse reset não é tão óbvio, vem a passos lentos
na economia tradicional. Parece intangível, não é mesmo?
Enquanto empresas de logística e as
pessoas que ali trabalham acordarem pensando em fazer o mesmo trabalho que elas
fizeram no dia anterior, não tem nenhuma chance de obterem um resultado
diferente.
Essa mudança de mindset, no entanto,
encontra uma barreira no meio do caminho, que é uma barreira tecnológica e que
o covid acelerou. As pessoas não estavam preparadas para resolver problemas com
tecnologia e não estudaram para isso. Nossas faculdades não nos
prepararam para esse momento. Agora imagine esse desafio na cadeia logística,
principal modal brasileiro e que historicamente tem uma dinâmica sistêmica de
resolver problemas diários, profissionais que raramente possuem tempo e
oportunidade para sair desse looping, como fazer tecnologia chegar nas mãos
desse setor? Definitivamente é preciso preencher esse gap, ensinar e aprender
novas habilidades àqueles que sabem do problema, mas não possuem ferramentas
para resolver.
A tecnologia e a pandemia aceleraram a
democratização das informações. Ninguém mais quer ser refém de conhecimentos
concentrados em áreas específicas, e o papel de todos nas empresas em
intermediar e facilitar trocas de conhecimento passa a ser central, não mais
opcional. Vimos movimentos parecidos em outras áreas como a Jurídica,
Contabilidade, e agora vemos em Tecnologia, em que precisamos ser mais
facilitadores do processo de evolução e intermediar discussões estratégicas, de
negócio e de resultados.
Todos, de uma forma ou de outra, tiveram
que resolver com suas próprias mãos os problemas, pois não tivemos tempo para
esperar o outro resolver.. Passamos a sofrer com esse “nó operacional”, em que
não conseguimos mais aguardar e suportar financeiramente e/ou no tempo,
dinâmicas de projetos que se alongam por meses, agravado por falta de recursos
por conta de todo o cenário global e baixo retorno de investimento. É nesse
contexto que todos tentaram, de alguma forma, resolver cada um por si.
Nesse contexto, a pandemia nos mostrou
que, mais do que inventar soluções mirabolantes e complexas, precisamos voltar
a fazer o simples, o básico. Assim como paramos de comer em restaurantes e
voltamos a cozinhar em casa, durante o isolamento social, o setor de logística
poderá usar o que está à sua volta. Isso inclui, por exemplo, o celular que
está na mão de todos, a conexão que já existe, a combinação de tecnologias
eficientes, um checklist inteligente, automação para tratar os dados, ou
qualquer recurso para integrar à realidade operacional para conseguir obter
eficiência em escala. Está na hora de colocar em prática.
Bruno
Pelikan, CEO e cofundador da Rabbot
Bruno Pelikan é cofundador da Rabbot, plataforma de automação e orquestração
do ecossistema de frotas. Formado em direito pela PUC-Campinas, com mestrado em
economia pela FGV e em inteligência artificial pela University of California,
fez cursos de inovação e marketing digital na Stanford University e na
Northwestern University. Antes de cofundar a Rabbot, em 2018, Pelikan atuou na
International Paper e BPartner.
Nenhum comentário