A indústria de refrigeração e seu papel para uma economia sustentável
Por Guilherme Almeida*
O Instituto Internacional de
Refrigeração (IIR) estima que 47% das 3,6 bilhões de toneladas de alimentos
produzidos no mundo hoje precisam de refrigeração, porém menos da metade é
devidamente refrigerada. Por causa disso, cerca de 13% da produção global é simplesmente
perdida. Esse volume não aproveitado, teoricamente, poderia alimentar 950
milhões de pessoas por ano e melhorar a qualidade nutricional de populações
inteiras. Os dados da pesquisa, publicada em 2020, destacam a importância
da indústria de refrigeração para a sociedade.
Por outro lado, é necessário falar
também sobre seus impactos. Um refrigerador, seja para fins comerciais,
industriais ou residenciais, deve permanecer ligado 24 horas por dia, de forma
que o ganho para a preservação de alimentos precisa ser contrabalançado pelo
gasto com eletricidade. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aponta
que o consumo médio de uma geladeira nova, com capacidade de 280 litros, é de
25 kWh por mês, já para um modelo de duas portas, com freezer acoplado e
capacidade de 400 litros, o consumo pode chegar a 58,1 kWh. É um dos
eletrodomésticos que mais consome energia elétrica numa casa, ao lado do
ar-condicionado e do chuveiro.
A fim de dosar esse gasto, a indústria
tem investido em pesquisa e desenvolvimento de produtos com maior eficiência
energética. O governo brasileiro também puxou este movimento ao, recentemente,
atualizar o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) para refrigeradores
residenciais. Desenvolvida pelo Inmetro, a portaria indica a adoção, a partir
de junho, de três novas categorias nas etiquetas. As subclasses A+, A++ e A+++
representam redução no consumo de energia de 10%, 20% e 30%,
respectivamente. A partir de janeiro de 2026, essas três novas subclasses
darão lugar à reclassificação dos selos, que voltarão a ir de A a F. O novo A,
por exemplo, será mais rigoroso do que o atual - um refrigerador fabricado no
país, de duas portas, frost-free,
que atualmente é catalogado como A, terá de reduzir seu consumo em 44% para
permanecer na categoria. Ao final de 2030, o nível de consumo para permanecer
na classe A passa a ser ainda mais rigoroso: em média 61% menos consumo de
energia do que a classificação A aceita hoje.
Além disso, o Brasil passou a integrar a
lista dos 14 países que assinaram o Product
Efficiency Call to Action, uma iniciativa do governo britânico,
lançada na Conferência do Clima (COP26), realizada na Escócia em 2021, que visa
dobrar a eficiência até 2030 de quatro produtos prioritários - condicionadores
de ar, refrigeradores, sistemas de motores industriais e iluminação - que
correspondem a 40% do consumo global de energia, de acordo com dados do
relatório produzido pela Agência Internacional de Energia (da sigla inglês
IEA). O acordo pretende impulsionar padrões de eficiência energética dos
produtos para reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa, promover a
inovação nos negócios e garantir o acesso do consumidor a tecnologias de alto
desempenho.
Descarbonização global
Outra questão ambiental presente na
indústria de refrigeração é a necessidade de reduzir as emissões de carbono em
todo o ciclo de vida dos produtos. De acordo com estimativas levantadas pela
Universidade de Birmingham, da Inglaterra, a indústria de refrigeração e
ar-condicionado é responsável por cerca de 10% da emissão global de CO2, sendo
que, desse total, 75% seriam provenientes do consumo de energia durante o uso
dos equipamentos. As pesquisas apontam que os cerca de 20% a 25% das emissões
de CO2 equivalente do setor de refrigeração são produzidos por vazamentos de
fluidos refrigerantes de hidrofluorcarbono (HFC ou gases F).
Nas últimas décadas, um esforço mundial
conjunto tem sido feito para diminuir esse impacto. A substituição dos
refrigerantes vem sendo debatida desde a década de 1980, quando se observou que
os CFCs (clorofluorcarbonetos) eram responsáveis por destruir a camada de
ozônio. Os HFCs (hidrofluorcarbonetos) foram os substitutos ideais à época.
Porém, com o passar do tempo, pesquisas apontaram que eles representavam outra
ameaça ao meio ambiente, por atuarem diretamente no agravamento do aquecimento
global. Nos dias atuais, é consenso a necessidade de gradualmente deixar de
utilizar os HFCs. E os fluidos que têm se mostrado excelentes alternativas são
os hidrocarbonetos (isobutano R600a e propano R290), refrigerantes naturais que
são reconhecidos por sua eficiência energética e menor impacto ambiental.
Reforço a máxima de que refrigeração é
sinônimo de qualidade de vida, seja por meio da conservação de alimentos e
bebidas ou também das tão necessárias vacinas e medicamentos. Ao mesmo tempo,
indústria, governos e consumidores precisam encarar de frente – e mais do que
isso, em conjunto - a tarefa/provocação de que a questão da qualidade de vida
deve também ser estendida ao se pensar no uso de refrigeradores cada vez mais
eficientes, que contribuam com as metas globais para um planeta mais
sustentável.
*Guilherme Almeida é Presidente Adjunto
da da Nidec Global Appliance.
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