Como o aumento de casos de insuficiência renal e a pandemia de Covid-19 estão relacionados?
Por Dr. Carlos André Vieira
Durante a pandemia da Covid-19, houve um
aumento de pacientes que desenvolveram insuficiência renal e que, agora,
necessitam de hemodiálise. Segundo um estudo feito por pesquisadores da USP
(Universidade de São Paulo) e da Escola Paulista de Medicina, em 2021, cerca de
36% dos pacientes, que apresentaram sintomas graves de Covid-19, desenvolvem
lesão renal aguda (LRA). A causa não é bem esclarecida, mas parece ser
multifatorial.
Dentro disso, a citotoxicidade do
próprio vírus, microangiopatia trombótica e alterações sistêmicas hemodinâmicas
são os principais fatores. Os termos são complexos, mas é de extrema
importância o conhecimento sobre a comprovada relação causal da insuficiência
renal com casos graves de Covid-19. A pandemia trouxe à tona temas que vão além
do comprometimento pulmonar.
A doença é leve na maioria dos casos,
mas, para alguns, pode ser multissistêmica, complexa e acometer qualquer órgão.
Em geral, compromete quem já tem fatores de risco, mas há muitos casos
conhecidos de quem necessita de hemodiálise ou mesmo de transplante renal sendo
completamente hígidos previamente.
Entretanto, um estudo publicado no
periódico Frontiers in
Physiology no último ano mostrou que o fator principal que leva o
novo coronavírus a afetar o sistema renal, é a interação do vírus com uma
enzima chamada ‘conversora de angiotensina 2’, responsável por permitir que o
vírus se replique no organismo.
Além disso, ela também regula a pressão
arterial do corpo humano. Quando essa enzima entra em contato com o Sars-cov-2 pode
ter o comprometimento do fluxo sanguíneo e da filtragem do sangue pelos rins,
causando a insuficiência renal.
Uma vez identificado o quadro de
insuficiência renal, é necessário o acompanhamento com dois especialistas: o
médico nefrologista e o cirurgião vascular. O primeiro definirá qual a
gravidade do quadro e a necessidade de se iniciar hemodiálise ou não. O
vascular será aquele quem irá prover e preservar o acesso pelo qual a
hemodiálise é realizada.
Pacientes com essas condições devem ser
anualmente avaliados quanto a função renal e, em caso de qualquer alteração,
como aumento da creatinina no sangue ou níveis de proteína elevados na urina,
devem ser encaminhados ao médico nefrologista.
A forma mais segura, com menor risco de
reinternações e, comprovadamente, de maior sobrevida a longo prazo, é através
da fístula arteriovenosa. Ela consiste na comunicação de uma veia com uma
artéria, em que torna possível, através de agulhas, a aspiração e devolução do
sangue que será filtrado pela máquina de hemodiálise.
Esse é um tema que gera muitas dúvidas e
medo aos pacientes. Por conta disso, o vascular precisa ser consultado, pois
muitos paradigmas podem ser quebrados em relação ao acesso para hemodiálise.
Nesse cenário, é preciso frisar que pacientes com fístulas arteriovenosas
apresentam baixa taxa de infecção, diminuição no número de internações
hospitalares e, consequentemente, menor taxa de mortalidade.
A insuficiência renal é uma doença
silenciosa e, no Brasil, as principais causas são hipertensão crônica e
diabetes. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) em
2019, estima-se que mais de 10 milhões de pessoas tenham alguma condição renal
no país. A maioria das pessoas que identifica a redução da função renal
precocemente consegue parar ou mesmo reverter o quadro de piora da função dos
rins e vive normalmente sem que um dia necessite de hemodiálise.
Sobre o Dr. Carlos André
Pereira Vieira
É médico com 15 anos de experiência (2007). Graduação em medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo (2002-2007), fez residência médica em Cirurgia Geral pela Irmandade Santa Casa de São Paulo (2008-2010) e residência em Cirurgia Vascular no Hospital do Servidor Público Estadual (IAMSPE) 2010-2012. Possui Título de Especialista em Cirurgia Vascular, Endovascular e Ecodoppler pela SBACV e CBR desde 2013. Médico titular em cirurgia vascular no Hospital Paulistano de 2012 a 2019. Atualmente, é médico titular no principal hospital do Grupo DASA em São Paulo (Hospital Nove de Julho). Atua em consultório próprio na realização de exames e consultas na Av. Paulista, 91, conj. 307.
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