MBA: ano da morte 2022
*Daniel Schnaider
Deparo-me com funcionários que vão fazer
um mestrado em administração (Master of Business Administration em Inglês) ou
mesmo uma pós-graduação, e isso me leva a crer veementemente que a maioria
desses cursos vai morrer.
Como executivo, vejo os currículos dos
colaboradores e não consigo encaminhá-los a nenhum mestrado que envolve
negócios, o famoso MBA ou qualquer derivado dele.
A minha conclusão é de que isso nos
mostra um problema. Qual? Dinheiro e tempo jogados no lixo. Quando você
trabalha em uma empresa, e tem uma possibilidade de carreira, a ideia é fazer
um desses cursos para ajudar na jornada. Mas quando se depara com a grade
curricular, aparece o questionamento: o que realmente ajuda o funcionário a
conquistar cargos mais altos? Dificilmente o conteúdo terá interseções com o
setor ou função que o trabalhador exerce ou mesmo quer exercer. Isso porque esses
cursos são genéricos.
Quando nos programamos para ter um
diploma no mundo dos negócios, vamos, por exemplo, estudar os processos que
atendem o consumidor, porém, estamos na área de B2B, será que isso é válido?
Vai ajudar no meu crescimento?
Atualmente, estamos na era do Lifelong
Learning, mas não adianta sair fazendo o trivial. A pergunta que deve fazer a
si mesmo é: qual é o curso que preciso fazer? Para completar um MBA de 400
horas com uma carga acadêmica que não será útil, não seria mais eficaz fazer,
por exemplo, 10 cursos de 40 horas na área que gostaria de expandir sua
carreira profissional ou que no mínimo são relevantes para a empresa onde se
encontra? Vale a reflexão.
Quando escolhemos a segunda opção, além
de estudar, iremos viver o conteúdo aprendido e de fato o benefício será
imediato.
Steve Jobs não seguiu o currículo de sua
universidade, ele foi atrás daquelas aulas que deram um embasamento conciso
para o que ele estava querendo produzir em sua empresa de tecnologia. Elon Musk
também já trouxe uma reflexão sobre o assunto. Uma vez considerou que as
pessoas fazem MBA porque querem saltar processos e cair em uma posição de
liderança, mas quando chegam lá, de verdade, elas não estão preparadas, pois
não viveram aquilo.
Quando você entra em um setor, o funil
de habilidades fica cada vez mais estreito, ou seja, a precificação, o
jurídico, a regulamentação, a situação da concorrência e o crescimento são
específicos daquele setor econômico, como agricultura, construção, tecnologia,
saúde entre outros. Um ou dois anos estudando matérias que não são alinhadas
com a necessidade da empresa que você trabalha é um tempo perdido. Você pode se
desgastar, cair em um ciclo de infelicidade, se tornar um funcionário pior e,
ainda por cima, não trazer o valor necessário para onde trabalha.
Como CEO, constantemente tento avaliar a
capacidade de pensamento abstrato e criativo, e com certeza, de 100
colaboradores, 99 não serão bem avaliados. Mas também na grande maioria dos
MBAs não serão tratados temas como “Resolução de problemas complexos”,
“Pensamento crítico”, “Flexibilidade cognitiva” ou “Proatividade”, habilidades
fundamentais em praticamente todas as empresas. Então, quando olho para o
funcionário e o vejo fazendo muito esforço e não adquirindo o que realmente
precisa, entendo que ele confiou em um sistema de estudos que não soube se
adequar a realidade atual das empresas.
Precisamos anunciar a morte do MBA. É
inevitável em um mundo online, onde você pode estudar cada curso de forma
separada e criar a grade curricular que irá determinar o seu futuro, ficarmos
estagnados. Termos em mente a customização do nosso próprio MBA já passou da
hora.
Ainda, com isso, criamos a diversidade
acadêmica e saímos daquela caixa em que colocam 30 alunos em uma sala de aula,
como se eles tivessem a mesma necessidade, tal como uma linha de produção.
No livro “Pense com Calma, Aja Rápido”
dediquei um capítulo ao tema de diagnóstico da empresa, para mostrar como cada
uma tem diferentes especificidades da sua realidade e maturidade.
O incentivo aqui não é deixar de estudar
aquilo que está fora do seu trabalho, mas se te sobra tempo, vá fazer um curso
que agregue a sua vida pessoal como história, filosofia, música, ciências
sociais, entre outros que estejam no final de sua lista. Afinal, conhecimento
geral por conhecimento geral, melhor fazer aquilo que te trará bem estar.
Daniel Schnaider é CEO da Pointer by Powerfleet Brasil, líder mundial em soluções de IoT para redução de custo, prevenção de acidentes e roubos em frotas. Integrou a Unidade Global de Tecnologia da IBM e a 8200 unidade de Inteligência Israelense. Especialista em logística, tecnologias disruptivas, economista e autor da obra "Pense com calma, aja rápido".
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