O fim da globalização? Como as crises estão remodelando as cadeias de suprimentos
* Por Mourad Tamoud, Chief Supply Chain
Officer global da Schneider Electric
A pandemia, as mudanças climáticas
aceleradas e as tensões geopolíticas levaram muitas pessoas a questionar
o futuro da globalização e, também, fizeram que empresas de todo o mundo
repensassem suas estratégias da cadeia de suprimentos.
O segmento, aliás, passa por desafios
com frequência. Tempestades, greves e sanções interrompem os fluxos comerciais
há séculos. No entanto, desta vez é diferente: a globalização e a tecnologia
tornaram o mundo mais interconectado do que nunca. Eventos em uma parte do
mundo podem se espalhar e repercutirem semanas, dias ou até horas. Dessa forma,
quando as crises ocorrem, os gerentes da cadeia de suprimentos ficam lutando
contra vários obstáculos em várias frentes.
Deixando de lado o “malabarismo”
imediato com a crise, os gerentes da cadeia de suprimentos também precisam
considerar a resposta de longo prazo a esse cenário imprevisível.
Remodelagem das cadeias de
suprimentos
Acompanhando esse movimento, uma pesquisa
da McKinsey com executivos seniores da cadeia de suprimentos mostrou que
melhorar a flexibilidade, agilidade e resiliência do setor estava no topo da
lista de prioridades. A maneira que encontraram de fazer isso foi a
regionalização.
Há lógica nesse pensamento. Nearshoring ou reshoring – ou seja,
fabricação, montagem e distribuição mais perto de onde os produtos serão
vendidos. Isso aproxima as operações de seus clientes e, assim, ajuda as
empresas a melhorar a forma como fazem o atendimento.
Talvez ainda mais importante, nearshoring também significa
que as companhias precisam desenvolver novos ecossistemas, trabalhar em
sincronia com fornecedores e parceiros – de matérias-primas a peças, transporte
e montagem final. Esse processo facilita a troca de conhecimento, experiência e
colaboração, o que, por sua vez, permite que as empresas inovem e se adaptem
mais rapidamente às necessidades dos clientes e às tendências do setor.
Equilíbrio entre global
e local
No entanto, as cadeias de suprimentos
locais têm vulnerabilidades significativas. Como elas estão mais expostas a
interrupções que podem surgir localmente, os gerentes precisam ter planos de backup que permite que a
fabricação seja selecionada ou mantida em outro lugar, se necessário.
A padronização global de processos e
produção, em contrapartida, fornece a espinha dorsal necessária, melhorando a
resiliência geral do segmento. E sempre haverá uma porcentagem de oferta global
– certas matérias-primas como plásticos e componentes eletrônicos, incluindo semicondutores,
por exemplo.
Em outras palavras, a resiliência da
cadeia de suprimentos não é algo global ou local, mas busca um equilíbrio que
colha os benefícios e reduza os riscos de ambos. Além disso, com esse
princípio, a tecnologia está ajudando que os desafios – mesmo que corriqueiros
– se tornem cada vez mais amenos e gerem menos impactos nas operações
como um todo.
Sustentabilidade
Há também um imperativo de
sustentabilidade: as cadeias de suprimentos mais curtas têm menos impacto no
meio ambiente do planeta.
As cadeias de suprimentos das empresas
de consumo normalmente respondem por mais de 80% de suas emissões totais de
gases de efeito estufa e mais de 90% de seu impacto na terra, água,
biodiversidade e nos recursos geológicos, de acordo com a McKinsey.
Por isso, os líderes de negócios e da
cadeia de suprimentos têm a responsabilidade de reduzir esse impacto. Nearshoring e cadeias de
suprimentos mais curtas são uma maneira de fazer isso, assim como as
tecnologias digitais para gestão e eficiência de energia e recursos.
Seja fornecendo energia verde, reduzindo
embalagens ou dando aos produtos uma segunda vida, há muitas maneiras concretas
pelas quais as empresas podem e devem agir.
Há muita retórica sobre o fim da globalização. A realidade, no entanto, é muito mais sutil. Maior agilidade e resiliência nas cadeias de suprimentos não é um caso de preto e branco ou algo como local versus global. Em vez disso, trata-se de encontrar um equilíbrio entre os dois – agora e no futuro.
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