O que a série Sandman tem em comum com "transparência radical" em conselhos empresariais?
*Por Claudia Elisa Soares
Claudia Elisa Soares
Divulgação
Sandman estreou na
plataforma de streaming Netflix no início de agosto e logo de cara se tornou a
série mais vista da plataforma no Brasil, segundo ranking do site FlixPatrol. A
produção fictícia se baseia na HQ de mesmo nome escrita por Neil Gaiman. Na trama,
o objeto chamado "rubi" tem o poder de alterar a realidade e é
utilizado no quinto episódio pelo vilão John para compelir as pessoas a falarem
apenas a verdade.
Esta passagem lembra
muito o princípio de transparência radical defendido e adotado por Ray Dalio,
fundador da Bridgewater, uma das maiores gestoras de fundos de investimento do
mundo. Dalio defende que o time inteiro de uma empresa, independentemente
do cargo, tempo de casa ou idade, deve se manifestar livremente, desde que seja
em prol da melhoria da empresa. E, com isso, ser o mais transparente
possível.
A relação acontece
porque no episódio da série, o personagem John está cansado das mentiras e
omissões das pessoas e passa a usar o artefato "rubi" para que só
sejam ditos os reais desejos, mesmo que isso soe rude ou irreal. Apesar de ter
funcionado muito bem na Bridgewater (na vida real) e algumas outras companhias,
não deu certo na série. As pessoas acabam passando do ponto e machucando umas
às outras.
Claudia Elisa Soares,
especialista em ESG e conselheira em mais 5 empresas, acredita que a
"transparência radical" não seja passível de adoção global nas
empresas, "principalmente em uma cultura corporativa acostumada a 'dourar
a pílula', como a latino-americana", explica..
Apesar disso, a
especialista acredita que os pontos-chave da teoria devem ser adotados em
conselhos, já que a transparência é um dos quatro princípios da governança
corporativa, junto com equidade, prestação de contas e responsabilidade
corporativa.
"Acredito que a
transparência máxima, quando inserida de forma respeitosa no diálogo, tem o
poder de qualificar exponencialmente a tomada de decisões. Nas reuniões de
conselhos, tratamos de pautas com forte viés estratégico e o que for alinhado
dentro da sala certamente impactará no futuro da companhia. Por isso, cada item
deve ser analisado com muito critério, responsabilidade e rigor. A fim de
chegar à melhor decisão, todos devem colocar seus pontos de vista sobre a mesa,
de forma clara, direta e sem receios de ferir suscetibilidades”, afirma.
Ainda de acordo com
Claudia Elisa, no processo de colocar todos os “pingos nos is”, a transparência
torna-se fundamental, servindo como uma das balizadoras da decisão final, que
deve ser aquela que trará mais benefícios para a companhia.
"Por isso, o
conselheiro nunca deve tomar algo como pessoal, principalmente quando uma
defesa de tese sua for contrariada. O papel do board é escolher o melhor para o
coletivo, e não para o indivíduo. Particularmente, aprecio muito dinâmicas
neste estilo, com a troca madura e franca de ideias em alto nível, pois acaba
sendo não apenas um método de trabalho, mas também um exercício de cidadania,
democracia e respeito", finaliza.
Sobre
Claudia Elisa Soares
É especialista em ESG e transformação de negócios e líderes e conselheira em companhias abertas e familiares — Camil, Tupy, Even, Grupo Cassol, Bernoulli Educação e Gouvêa Ecosystem
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