Para onde caminham os investidores?
Investir em startups é algo sempre arriscado. Claro que em momentos de escassez de capital no mercado ou mesmo em tempos de aumento de taxas de juros com incertezas econômicas, esse bom humor de investidores tão usual ao mercado acaba sofrendo um pouco. Afinal, estamos no segundo semestre de 2022 e ainda temos pela frente diversos desafios com eleições e previsões não tão animadoras para o primeiro trimestre de 2023, com perspectivas de baixo crescimento, segundo analistas do setor.
Neste contexto, assistimos empresas
desacelerando seus investimentos em startups, ou mesmo vendendo as
participações como foi o caso recente do Softbank com a retirada de
participações na Alibaba e Uber, entre outros. Os investidores estão de fato
sofrendo com as instabilidades, mesmo com aquelas startups caracterizadas com
performance de crescimento exponencial. E no mundo da tecnologia isso está
acontecendo de forma mais acentuada.
Investimentos agressivos em empresas que
nem sempre estavam bem alinhadas na equação de geração de valor podem trazer
resultados aquém das expectativas e muitas vezes serem especulativos. Grandes
inovações devem transformar e gerar valor de verdade para os setores da
economia e não apenas prometer grandes mudanças sem análises aprofundadas sobre
suas potencialidades.
É claro que não podemos ignorar a
situação econômica desequilibrada, mas dentro de um “beabá” de investimentos em
startups deveria estar o reconhecimento sobre os valores que serão entregues
por essas empresas e não apenas suas promessas de escalabilidade financeira,
visto que esse resultado vai depender dos propósitos dessas empresas.
O fato é que o ecossistema de inovação
no país passou por um ciclo vertiginoso, conforme aponta o relatório Brazil
Digital Report 2022, recentemente publicado pela MCKinsey na conferência
Brazil at Silicon Valley. De acordo com o estudo, só em 2021 investiu-se o
equivalente à soma de todos os anos anteriores juntos, dobrando o número e
negócios e com a presença de capital internacional, além do nacional.
Não é muito fácil reconhecer a startup
que realmente vai “criar raízes” na inovação, mas alguns pontos extras na
avaliação dos investidores precisam ser considerados: investidor menos paciente
com a relação lifetime value (LTV) versus custo de aquisição do cliente (CAC) e
a garantia de um caixa maior; pressão crescente sobre o tempo para testarem,
errarem, corrigirem, testarem novamente, etc, natural para o desenvolvimento
dessas empresas, mas cada vez mais reduzido, para que entreguem o quanto antes
resultados tangíveis, com menos recursos e pessoas; exigência de uma gestão
cada vez mais profissional, assim como a análise do engajamento e maturidade
dos sócios; e por fim o temido Vale da Morte, etapa que define o espaço entre o
lançamento e o sucesso em termos de caixa. As mudanças de rota comuns neste
período estão restritas e a pressão cada vez maior para saírem dessa etapa o
mais rápido possível.
Segundo o Relatório
da CBInsights existem pontos em comum em startups que falham. Além da falta
de capital (em 38% dessas empresas), entre as três causas principais, estão
ainda a não necessidade de existência, ou seja, a ineficiência de sua atividade
no mercado, que aparece como a segunda maior causa de falências em startups,
com 35% das empresas e o got
outcompeted, em 20% das startups, que significa que o negócio em si
estimado foi superado, pode estar ultrapassado.
Dessa forma, muito mais do que avaliar o
valuation da
startup (valor de mercado), seus diferenciais ou escalabilidade financeira, é
fundamental entender o perfil de seus fundadores e os propósitos que os levaram
a criar o negócio. Será mesmo que a startup vai entregar valor? Essa resposta
também pode estar conectada com o tempo da empresa no mercado.
Logo, startups mais maduras, com maior
experiência, inclusive em rodadas de investimentos, podem ser as mais
interessantes porque a perenidade sobre a entrega de seus valores como negócio
podem ser mais impactantes no mercado. Vale prestar muita atenção à nova norma
da CVM sobre o crowdfunding, Resolução
88 que altera os pontos de atenção nas rodadas de investimentos.
Quando falamos sobre o mercado de
proptechs e construtechs, o cenário para investimentos é otimista. Segundo o 6º Mapa de
Construtechs e Proptechs da Terracotta
Ventures, mesmo com a desaceleração no número de startups, a tendência
segue de crescimento. De maio de 2021 a maio de 2022, houve aumento de 13,82%
em construtechs e proptechs ativas, com rodadas de investimentos que
movimentaram R$ 5,83 bilhões. A pesquisa mostra que das 955 ativas, 64,58% são
proptechs e 35,42% construtechs. A grande aposta está nas empresas que
realmente podem transformar o setor, com tecnologias capazes de entregar valor
resolvendo questões latentes do mercado e da sociedade.
O propósito é, sem dúvidas, o motor para
alavancar o futuro dos investimentos em startups. Convido à reflexão de Tom
Gardner, da Motley Fool, “Encontre
líderes notáveis e uma missão para o longo da vida”. É disso que se
trata: valor, eficiência e longevidade.
* Alexandre Quinze é o co-founder e CEO da TruTec. Formado em Engenharia pela Universidade de São Paulo (USP), com especializações em Supply Chain, na Universidade da Califórnia, em Inovação Tecnológica, na Universidade Estadual de Campinas, e MBA em Administração, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), instituição na qual é professor há mais de 11 anos. Possui sólida experiência, com mais de 30 anos, em empresas nacionais e internacionais de grande porte, como Philips, Rimini Street, PwC Brasil, CBMM e Flextronics Internacional.
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