Planejar sempre para não sucumbir ao sistema de cobrança de tributos no Brasil
Por Luiz Marcatti e Herbert Steinberg*
Levantamento do Instituto Brasileiro de
Planejamento Tributário (IBPT) encontrou dados alarmantes. Desde a promulgação
da Constituição Federal de 1988 foram editadas no Brasil cerca de 6,7 milhões
de normas, das quais aproximadamente 443 mil tratam de matéria tributária. Se
isso não fosse suficiente para caracterizar um cenário peculiar, para dizer o
mínimo, ainda houve nesses quase 36 anos um total de 122 emendas
constitucionais. Esses números por si só evidenciam as dificuldades e os
entraves que as empresas brasileiras precisam enfrentar para operar e para se
perpetuar. Uma verdadeira maratona, não uma corrida de 100 metros.
E os tentáculos de uma implementação
equivocada do sistema tributário nacional não se limitam a alcançar as
empresas: eles se estendem às pessoas físicas empresárias, o que funciona como
um complicador a mais para quem deseja empreender no Brasil, manter de pé seus
negócios e ter a tranquilidade de deixar um patrimônio para os herdeiros. Tanto
num caso quanto no outro, o antídoto passa, necessariamente, por um bom
planejamento. Pessoas físicas e jurídicas precisam estar sempre atentas a
novidades legislativas e a decisões (muitas vezes contraditórias) do
Judiciário.
Essas são algumas das importantes
reflexões do advogado tributarista Marcelo Salomão, professor e sócio do Brasil
Salomão e Matthes Advocacia, que foi o convidado de julho do Mesa ao vivo, espaço de
debates no canal do YouTube da Mesa Corporate Governance. “Planejamento é a
palavra-chave quando se trata de tributos no Brasil”, diz o mantra do
tributarista. Planejar é tarefa para ontem, reforça, lembrando que sempre “há
dinheiro na mesa” quando uma empresa faz um mapeamento correto de sua situação
tributária.
Salomão destaca que o problema não está
tanto no sistema tributário estabelecido pela Carta de 1988 — sistema,
inclusive, alvo de elogios de especialistas internacionais. A questão está na
aplicação, representada pelo excesso de intervenções do Legislativo nas
matérias tributárias (e na própria Constituição) e pela desencontrada atuação
do Supremo Tribunal Federal (STF) quando julga a constitucionalidade de leis
que envolvem tributos. A combinação desses fatores, pondera, leva a uma
perigosa insegurança jurídica e a um movimento de judicialização de temas
tributários.
O quebra-cabeça tributário brasileiro
sobrepõe cobranças (como os tributos sobre a renda e sobre o lucro das
empresas) e cria aberrações como tributos sobre o faturamento, o que
evidentemente atravanca o avanço das empresas e limita a geração de emprego e
renda. É preciso, nesse ambiente, enfrentar a complexidade gerada pelas
ingerências dos parlamentares sobre o sistema e pelas questionáveis decisões do
STF.
Outro ponto frágil, observa Salomão,
está na relação ainda pouco madura entre os entes federativos no Brasil. A
dinâmica da tributação no País a cada dia mais fortalece muito um dos entes (no
caso, a União), em detrimento de estados e municípios. Tal estado de coisas
deixa os contribuintes — sejam empresas ou pessoas físicas — reféns, na
prática, de interesses políticos que muito pouco têm a ver com o fortalecimento
dos negócios ou com o desenvolvimento da economia. A distorção do ICMS, por
exemplo, provoca guerras tributárias entre os estados, ao mesmo tempo em que
obriga a gestão das empresas a traçar uma complicada logística para tomar
decisões como de que estado comprar e onde instalar um centro de distribuição.
Interessante notar que um bom
planejamento de questões tributárias está também muito vinculado a uma boa
governança — esses dois aspectos devem caminhar juntos nas empresas. O momento
de organização de uma sucessão, só para tomar um exemplo, necessariamente vai
abarcar pontos como a tributação da transferência do patrimônio ou a
pertinência da constituição de estruturas que possam abrigar melhor esse
patrimônio.
Planejar, planejar, planejar: é essa a
receita sugerida por Salomão, profissional que está amparado pela sabedoria e
pelo conhecimento do pai, Brasil do Pinhal Pereira Salomão — o fundador do escritório,
ainda hoje no conselho — para empresas e pessoas físicas que queiram garantir
um mínimo de segurança no intrincado processo tributário no Brasil.
*Respectivamente, sócio e presidente; e
sócio, fundador e presidente do conselho da MESA Corporate Governance
Sobre a MESA Corporate Governance
A MESA Corporate
Governance trabalha a governança corporativa e familiar na dimensão humana do
poder, dinheiro e afeto. A empresa é constituída por uma equipe de consultores
especialistas e experientes que atendem às necessidades nos diferentes momentos
de modernização de empresas de origem familiar ou multissocietárias, quer sejam
de capital fechado ou com ações listadas em bolsas de valores. Também é filiada
às seguintes entidades e instituições: AMCHAM Brasil, IBGC – Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa, ICGN – International Corporate Governance
Network, FBN – Family Business Network e NACD – National Association of
Corporate Directors.
Luiz Marcatti - sócio e presidente da MESA
Corporate Governance Luiz Marcatti - sócio e presidente da MESA
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