Precisando de Crédito?
*Por Manoel Pereira de Queiroz
Por mais incrível que possa parecer,
ainda recebo ligações de clientes perguntando qual é a taxa que cobramos por um
determinado empréstimo. Tal pergunta denota certo desconhecimento de como os
bancos aprovam e operam crédito para os seus clientes. Conhecer minimamente
esse assunto é importante, pois ajuda as empresas direcionarem suas demandas
financeiras de forma mais assertiva.
À exceção de algumas linhas de repasse
cujo “spread” do banco é definido pela instituição provedora do “funding” (como
por exemplo algumas linhas do BNDES), o preço cobrado em uma operação
financeira se dá em função da qualidade de crédito do tomador, da estrutura da
operação em questão e da concorrência entre as instituições financeiras. Por
isso, é praticamente impossível responder à pergunta sobre a taxa sem fazer uma
profunda análise desse cliente. Resumindo, salvo algumas exceções, o preço de
uma operação é muito mais em decorrência da qualidade de crédito do próprio
cliente do que da linha a ser contratada.
Os bancos em geral possuem uma área de
crédito, onde profissionais especializados analisam: a credibilidade do
cliente, a capacidade da empresa de honrar com as obrigações assumidas, o
capital da companhia, sua capacidade de reagir a condições externas adversas, o
conglomerado à qual pertence e a estrutura de garantias da operação proposta.
Com base em uma análise quantitativa e qualitativa desses itens, esses
profissionais conferem uma nota interna para cada cliente e operação, conhecida
como “rating”. Bancos operam sempre de olho no retorno sobre o risco que
consideram que estão correndo. Maiores riscos (piores ratings) requerem retorno
maior, portanto “spreads” maiores e, consequentemente, taxas de juros mais
elevadas. Menores riscos (melhores ratings) exigem retorno menor e, assim,
taxas de juros menores.
Outra confusão bastante comum, é um
potencial tomador procurar oferecer uma garantia de bate pronto, como se uma
boa garantia por si só fosse o único aspecto a ser considerado na concessão do
crédito. Como vimos acima, a garantia é apenas um dos itens levados em conta na
análise. Vale notar que, quando a qualidade do crédito é muito boa, ou seja, os
outros cinco itens são muito bem avaliados, consegue-se em alguns casos tomar
recursos sem garantia nenhuma.
Tudo isso é muito importante, mas como
diz um antigo ditado “à mulher de César não basta ser honesta, é preciso
parecer honesta”. Fazer uma apresentação bem estruturada, abordando com total
transparência todos os itens importantes para a análise de crédito e usando
todos os recursos disponíveis (gráficos, tabelas, fotos, etc), contribui muito
para que as instituições financeiras entendam a empresa de forma adequada e,
consequentemente, para o aumento da confiança. Não à toa, hoje em dia já
é comum companhias, mesmo sendo de capital fechado, prestarem contas
rotineiramente a bancos e investidores, através de videoconferências e
apresentações regulares, independentemente de terem ou não a obrigação legal de
fazê-lo.
Por fim, vale a pena observar que tudo
que mencionamos neste artigo, vale, guardadas as proporções, não só para
empresas corporativas, mas também empresas familiares, cooperativas e negócios
conduzidos na pessoa física, como é comum na nossa agricultura. A boa gestão
dos passivos financeiros passa obrigatoriamente pela boa qualidade de crédito,
que deve ser feita de forma ativa pelo credor. Quanto melhor a qualidade e a
comunicação com o mercado, menores as taxas, maiores os prazos e menores as garantias.
*Manoel Pereira de Queiroz é Superintendente de Agronegócio do Banco Alfa e membro do Conselho Superior do Agronegócio da FIESP
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