Respeito à cultura indígena se aprende desde cedo
Estudantes de escola da região de Pinheiros, em
São Paulo, desenvolvem projeto com educadora indígena e terá evento especial na
semana do Dia Internacional dos Povos Indígenas.
Alunos durante o projeto Argila Criativa
Divulgação
Estima-se que há entre 370 a 500 milhões
de indígenas no mundo, vivendo em mais de 90 países. Apesar de serem menos de
5% da população mundial, representam 15% dos mais pobres e vulneráveis. Além
disso, sofrem discriminação e violência, sendo que uma a cada três mulheres
indígenas é agredida sexualmente ao longo da sua vida. Esses dados preocupantes
são do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Mas por outro lado, o levantamento
aponta que as comunidades indígenas são líderes na proteção do meio ambiente,
sendo que quase 70 milhões de indígenas dependem exclusivamente das florestas
para sua subsistência. Eles lutam contra a mudança climática e suas florestas
armazenam pelo menos um quarto de todo o carbono das florestas tropicais do
mundo, cerca de 55 trilhões de toneladas métricas. Sem dúvida, os povos
indígenas são fundamentais para a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável.
Por essas e uma série de outras razões,
em 1995, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu que o Dia Internacional dos Povos Indígenas
passaria a ser celebrado anualmente em 09 de agosto. A data comemorativa tem
extrema relevância no Brasil visto que, segundo o Censo Demográfico do IBGE,
realizado em 2010, vivem 896.917 pessoas que se declaram como indígenas no
país. Desse total, 57,7% vivem em terras indígenas oficialmente reconhecidas.
Com isso, existem atualmente 305 etnias e 274 línguas indígenas. A maioria dos
indígenas brasileiros não falam a língua indígena (57%), pois a maioria já se
comunica em português e é alfabetizada (77%).
Os caminhos da educação
Para garantir que os Direitos Humanos
dos indígenas sejam respeitados e suas tradições continuem existindo, algumas
instituições acreditam que o melhor caminho seja pela educação. É o caso da
escola Lumiar que, desde 2003, vem transformando a maneira de educar crianças e
adolescentes no Brasil, por meio de uma metodologia que prioriza a autonomia e
a individualidade de cada estudante. Ao longo da formação do estudante, o
ensino é promovido através de contextos específicos, de acordo com os
interesses de cada turma e, com isso, a cada trimestre os próprios estudantes
definem projetos.
Na unidade Pinheiros, em São Paulo -SP,
vinte alunos da tutora Luciana Mendes Kim, que tem entre 6 e 8 anos e estão
entre o 1º e o 3º anos do ensino fundamental, demonstraram interesse em
aprender mais sobre a Amazônia. Ao pesquisar sobre a região, viram que haviam
muitos indígenas e se surpreenderam ao descobrir que as etnias indígenas
estavam espalhadas pelo Brasil - não somente na Amazônia.
Foi, então, que entraram em contato com
a indígena Kuanadiki, da tribo in˜y (karajá), que mora na Ilha do Bananal, no
Tocantins. E, para ampliar o conhecimento da turma sobre a cultura desses povos
originários, a convidaram para exercer o papel de professora convidada do
projeto.
Nos primeiros encontros com os alunos,
Kuanadiki apresentou seu olhar sobre a cultura indígena e, para contextualizar,
levou alguns objetos de sua tribo. Entre eles, haviam pequenas esculturas de
animais feitas com um tipo específico de argila, que despertaram a curiosidade
dos estudantes. Foi então que o projeto ganhou o nome de Argila Criativa, em
razão do interesse dos alunos em aprender a técnica para fazer essas
esculturas.
Assim como todos os projetos trimestrais
das escolas Lumiar, trata-se de uma iniciativa transdisciplinar. No caso, os
estudantes estão traçando um panorama geral das tribos e povos indígenas no
Brasil e como cada fator influencia a cultura, a alimentação e o modo de vida
deles. “Estudam biologia e geografia através da fauna e dos biomas das regiões
indígenas. Aprendem artes por meio das tatuagens e das pinturas corporais dos
indígenas e farão as esculturas, que depois serão pintadas com tintas feitas à
base de jenipapo, urucum e açafrão. E, o mais bacana, agora sabem que os
indígenas do nosso país não moram apenas na Amazônia”, aponta Luciana.
Para a Lumiar, essa proximidade com os
assuntos de cada projeto é essencial para a educação e o desenvolvimento de
crianças e adolescentes. “A ampliação da visão de mundo, conexão e
interação com outras realidades e culturas são essenciais para uma educação
integral. Humanizar esse conhecimento é uma forma autêntica de cultivar
respeito e admiração”, aponta Dalila Parente, diretora pedagógica da Lumiar
Pinheiros.
O Projeto Argila Criativa teve início em
20 de maio e será encerrado em 09 de setembro. Na semana do Dia Internacional
dos Povos Indígenas, a escola fará uma celebração especial, em que a mestra
apresentará músicas, danças e curiosidades acerca da sua tribo de origem, com o
intuito de aproximar ainda mais os estudantes de sua cultura.
Sobre a escola Lumiar
Fundada em 2003, a escola Lumiar surgiu como uma iniciativa de educadores de vanguarda para transformar a educação. Através de uma metodologia que prioriza a autonomia e a individualidade de cada estudante, o aprendizado se fundamenta em seis pilares: tutores e mestres; currículo em Mosaico; aprendizagem ativa; avaliação integrada; possibilidade de multietariedade e gestão participativa.
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