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Bolsonaro entre "podcaster" evangélicos


Por Gutierres Fernandes Siqueira*

Na última segunda-feira, 12 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, concedeu entrevista de quase quatro horas para influenciadores que possuem grande entrada entre os jovens evangélicos através de pregações e músicas. Como é típico do formato, a conversa foi amistosa e pouco confrontadora. O entusiasmo do anfitrião do podcast diante do convidado já indicava desde o início que o programa não seria desconfortável para Bolsonaro.

Os podcasts não são programas jornalísticos e não faz sentido esperar isenção e assertividade dos entrevistadores. O escritor Millôr Fernandes dizia que "jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." Os podcasts estão mais próximos do mecanismo de propaganda. Esse formato de mídia, pela primeira vez em nossa história, vem desempenhando papel eleitoral e, infelizmente, estão servindo como palanque de pouco senso crítico. Como ambiente controlado, os podcasts servem aos candidatos para mandar recados e posicionar estratégias em determinados nichos do eleitorado.

Aliás, como é típico dos diversos graus de populismo, Jair Bolsonaro, sempre que possível, apenas se expõe em mídias simpáticas ao seu governo. Lula, também, quando presidente, evitava a “imprensa não amiga”. No tempo em que o PT estava no governo, os apoiadores do presidente Lula chamavam a imprensa de “PIG” (porco, em inglês) para indicar o suposto “partido da imprensa golpista”. Bolsonaro, com retórica ainda mais virulenta, acredita ser perseguido pela imprensa, cujos apoiadores do presidente costumam rotulá-la de “lixo” e “comunista”.

A agressividade do presidente, especialmente com repórteres mulheres, ficou evidente neste mandato. A qualidade da liberdade dos jornalistas caiu neste governo e agora o Brasil está na posição em 110 no ranking de liberdade de imprensa da ONG Repórteres sem Fronteiras que engloba 180 países. Em 2016, estávamos na posição 99 – o que era ruim só piorou.

Mas, hoje, não existe político que saiba dialogar melhor com o universo evangélico do que Jair Bolsonaro. No podcast dos influenciadores evangélicos ele mostrou essa maestria mais uma vez. Bolsonaro chegou a concordar em pedir perdão pelas falas desastrosas do auge da pandemia (“não sou coveiro”). Os evangélicos amam histórias e testemunhos de perdão.  Certamente que, ali, ele ganhou alguns pontos no público.

O pedido de perdão mostra vulnerabilidade e humildade e isso ajuda a melhorar a imagem do “presidente agressivo” entre os evangélicos. O pedido é sincero ou estratégia eleitoral de última hora? Só Deus e os marqueteiros da campanha sabem.

*Gutierres Fernandes Siqueira é jornalista e teólogo. Autor do livro “Quem tem medo dos evangélicos?” (Editora Mundo Cristão).

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