Dia Nacional da Doação de Órgãos
Dentes também são considerados órgãos - Saiba
como eles podem ser doados e suas possíveis utilizações
O Dia Nacional de Doação de Órgãos,
celebrado em 27 de setembro, foi criado para conscientizar a sociedade sobre a
importância da doação de órgãos. O Brasil está entre os maiores
transplantadores de órgãos, tecidos e células do mundo. Porém, o que muitas
pessoas não sabem é que o dente tecnicamente também é considerado um órgão e,
como qualquer outro órgão do corpo humano, pode ser doado.
Seja o dente de leite que está caindo ou
o permanente extraído, a sua doação é de extrema importância, por isso, não
deve ser descartado. O indicado é encaminhar esse dente aos biobancos ou bancos
de dentes, onde terá um destino apropriado.
A Cirurgiã-Dentista e especialista em
Implantodontia Dra. Claudia Pires Miguel lembra que a realidade da Odontologia
brasileira no século passado consistia em peregrinar entre cemitérios para
captar elementos dentários para estudos. “De acordo com o regulatório atual, as
instituições de ensino de Odontologia precisam manter os seus próprios bancos
de dentes ou buscarem parcerias para viabilizar a disponibilização deste nobre
material para seus alunos, coibindo desta forma qualquer tipo de ação
criminosa, como o comércio de órgãos dentais”. No entanto, ela explica que nem
somente de dentes depende a pesquisa em Odontologia. “Materiais biológicos
humanos, como pedaços de ossos, gengiva, saco pericoronário e demais tecidos
biológicos que contêm, inclusive, DNA, podem ser armazenados em biobancos”.
Outra modalidade de armazenamento de
material biológico citada pela Implantodontista são os Centros de
Processamento Celular (CPC), que processam e armazenam células humanas para
utilização futura (autólogo ou homólogo). Os CPCs podem ser públicos ou
privados, já os biobancos, incluindo os bancos de dentes, são exclusivamente
sem fins lucrativos e em geral estão ligados a uma instituição de ensino ou de
pesquisa.
“Uma característica de um CPC é que,
diferentemente de um Banco de Dentes, no CPC as células são armazenadas
“vivas”, ou ao menos com potencial de viabilidade, podendo retomar à atividade
celular. Portanto, a coleta do material pressupõe ausência total de
contaminantes (sem cáries ou tártaro, no caso de células coletadas nos dentes)
e, uma vez coletado, o material precisa ser colocado em um recipiente estéril
com um líquido especial, cheio de nutrientes, fornecido pelo próprio CPC. Por
isso, esta coleta precisa ser programada com antecedência”.
Como é feita a doação de dente
Para a doação de dentes ou material
biológico aos bancos de dentes e/ou biobancos, Dra. Claudia explica que o
material em geral é acondicionado em um frasco limpo, contendo água limpa, que
deve ser trocada uma vez por semana até a entrega para a doação. Alguns bancos
também recomendam o uso de água destilada ou soro fisiológico.
Para todos os casos de doação de
material biológico é preciso enviar também o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) assinado pelo paciente e/ou seu responsável (quando paciente
menor de 18 anos). Um Termo de Assentimento (TA) também é recomendado para que
as crianças também tomem conhecimento e permitam a doação do seu material para
uso em pesquisa e/ou para fins didáticos.
Dra. Claudia lembra que a colega,
implantodontista e assessora técnica do Conselho Federal de Odontologia na área
de células, sangue, tecidos e órgãos junto à Anvisa, Dra. Moira Pedroso Leão,
costuma ressaltar que as leis, resoluções e demais normas regulatórias no setor
acompanham uma tendência mundial em viabilizar o uso do material biológico para
a prática da medicina regenerativa e permitir estudos na área da genética. “A
literatura científica mostra que pedaços de dentes autólogos já foram usados de
forma bem-sucedida para recuperar a visão de pacientes cegos em uma técnica
conhecida por Osteo-Odonto-Queratoprótese Modificada”, compartilhou Dr. Moira.
Mais recentemente, a implantodontia,
periodontia e a cirurgia têm utilizado a dentina particulada (também autóloga)
como um enxerto que serve de arcabouço para formação de novo tecido ósseo. De
acordo com Dra. Claudia, os transplantes dentários autógenos, quando um dente é
deslocado de um local para outro, popularizaram-se no Brasil na década de 1980,
seguindo um protocolo estabelecido há mais de 42 anos nos países escandinavos.
Condições para o sucesso do transplante
Para aumentar as chances de “pega” do
transplante dentário, a Implantodontista informa que é fundamental que o dente
esteja saudável e que seja removido de um local e transplantado imediatamente
para o outro local, no mesmo paciente, ou seja, é uma técnica que deve ser
sempre autóloga. “Em um transplante homólogo, em pacientes diferentes, teriam
de ser removidas todas as células diferenciadas (como as de ligamento) para
evitar a ativação do sistema imunológico, o que inviabiliza a técnica. Dentes
transplantados na fase de rizogênese (processo de formação da raiz dentária)
têm um prognóstico melhor do que os completamente formados”.
Dra. Claudia acrescenta que nos dentes
transplantados com rizogênese completa pode acontecer a necrose pulpar, o que
indicaria a necessidade de tratamento endodôntico. Ou seja, nos transplantes de
dentes com raiz formada, o tratamento de canal é indicado em todos os casos.
Os transplantes têm demonstrado um
percentual de sucesso razoável, principalmente quando aplicados nos casos de
terceiros molares inferiores transplantados na posição dos primeiros molares
condenados. “Um ponto importante deve ser ressaltado: os transplantes dentários
não se contrapõem aos implantes. Os transplantes dentários têm indicações muito
específicas para alguns casos de anodontia parcial (situações em que não há a
formação de todos os dentes esperados) e como solução de traumatismo seguidos
de perda dentária, especialmente em pacientes jovens. A limitação dos
transplantes dentários em relação aos implantes também está relacionada à
disponibilidade de órgãos dentários nos pacientes que possam ser
transplantados”.
Quanto às atividades dos CPCs, levantadas
pela Dra. Claudia junto à Dra. Moira, com a
descoberta de que células-tronco estão
presentes nos tecidos dentários abriu-se um novo campo de atuação para o
Cirurgião-Dentista, que pode atuar como protagonista na coleta e aplicação de
material biológico processado para uso em medicina regenerativa.
Segundo Dra. Claudia, não importa se é o
dente é decíduo (dente de leite) ou permanente, as células isoladas podem ser
multiplicadas e usadas para o mesmo paciente (autólogo) ou para pacientes
diferentes (homólogo), pois diferentemente das células diferenciadas, as
células-tronco não são capazes de induzir resposta imune, pois em sua
superfície não estão presentes os antígenos leucocitários, as proteínas que
sinalizam que há um “estranho” no organismo. “Em termos práticos, podemos
afirmar que as células-tronco são células que tem o potencial de recompor
tecidos danificados e, assim, auxiliar no tratamento de doenças como o
diabetes, Parkinson, Alzheimer, doenças degenerativas e autoimunes, assim como
as doenças cardíacas, vasculares e sequelas de Acidente Vascular Cerebral
(AVC)”.
Dra. Claudia conclui com a ponderação de
que, com a finalização do arcabouço regulatório em 2021, devemos vivenciar a
implantação do uso de células em terapias celulares avançadas de agora em
diante, tanto na área da Odontologia quanto em suas aplicações nas diversas
especialidades da Medicina.
Fontes:
Regulatório – Lei nº 9.434, de 4 de
fevereiro de 1997, Decreto nº 2.268, de 30
de junho de 1997, Código Civil
Brasileiro. Lei nº 10406, de 10 de janeiro de
2002, Lei nº 10.211, de 23 de março de
2001, altera dispositivos da
Lei nº 9.434. Lei nº 11.105, de 24 de
março de 2005. RDC/Anvisa - 508/2021.
Sobre o CROSP
O Conselho Regional de Odontologia de
São Paulo (CROSP) é uma Autarquia Federal dotada de personalidade jurídica
e de direito público com a finalidade de fiscalizar e supervisionar
a ética profissional em todo o Estado de São Paulo, cabendo-lhe zelar pelo
perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo prestígio e bom conceito
da profissão e dos que a exercem legalmente. Hoje, o CROSP conta com cerca
de 170 mil profissionais inscritos.
Além dos Cirurgiões-Dentistas, o CROSP
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conduta ética dos Auxiliares em Saúde Bucal (ASB), Técnicos em Saúde
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