Governança corporativa além do cumprimento protocolar de regras
A cada dia, ganha mais força a
implementação de boas práticas de governança nas empresas brasileiras,
resultado de uma crescente conscientização de que essas práticas formam um
importante diferencial para os negócios. Em meio a um processo contínuo de
aprimoramento da regulação do mercado de capitais brasileiro, de fortalecimento
desse mercado e de ampliação das demandas ESG (sigla para fatores ambientais,
sociais e de governança), ainda se fazem necessários ajustes de rota dentro de
muitas empresas. É preciso reforçar o engajamento das lideranças com a agenda
de governança e também os conselhos de administração.
A despeito da evolução recente, continua
claro que há muito caminho pela frente. Tome-se como exemplo o Novo Mercado,
segmento em que as exigências de governança são as mais rigorosas para as
companhias abertas no Brasil. São cerca de 320 empresas listadas nesse segmento
— em que, por sinal, foi feita a maior parte das operações de abertura de
capital (IPOs) nos últimos anos —, mas o cumprimento do checklist exigido pelas
regras do Novo Mercado não necessariamente significa avanços práticos na
governança dessas companhias. Em outras palavras, essas exigências formais não
garantem mudanças nas práticas empresariais, na alta administração e na própria
cultura do mercado investidor brasileiro.
Como bem observa o especialista em
reestruturação de empresas e membro de conselhos de administração, Richard
Doern, falta intensificar os esforços para que as empresas, seus conselhos de
administração e executivos efetivamente mudem sua visão em termos de
governança. É preciso ir além do que pedem regulamentos de mercado, numa
atitude proativa que só tem a beneficiar as partes envolvidas.
Nesse sentido, tem fundamental
relevância o papel dos conselhos de administração na melhora dos padrões de
governança das empresas brasileiras. Fazem parte dessa dinâmica desejável para
as organizações um firme engajamento dos executivos nas questões de governança,
um pensamento estratégico voltado à garantia de perenidade do negócio, uma
atenção especial às demandas de todos os stakeholders — afinal, nenhuma empresa
pode, hoje, se esquivar de encarar pontos controversos de suas operações. Ações
que estão em linha do que se espera das empresas a essa altura do século 21.
Particularmente, no caso dos conselhos de administração, a rota passa necessariamente
por ampliação de diversidade, com membros de diferentes idades, origens,
formações e experiências, capazes de oferecer novas visões e mentalidades
variadas.
O ponto da diversidade é central neste
momento do mercado de capitais brasileiro. Não por acaso, está em audiência
pública promovida pela bolsa um conjunto de regras sobre representatividade nas
empresas listadas (e não só nas que estão no Novo Mercado). Uma das sugestões é
de que cada companhia tenha, em seu conselho de administração, pelo menos uma
mulher e um membro de minorias sociais (representantes da diversidade de raça,
integrantes da comunidade LGBTQIA+ e pessoas com deficiência). Sinal de
amadurecimento do mercado.
A plena evolução das companhias
brasileiras em termos de governança passa, assim, pela diminuição da distância
entre o cumprimento protocolar de regras e as ações efetivas das empresas no
mundo real. E isso requer maturidade, algo que aos poucos está sendo construído
no Brasil, com a força e a resiliência de todos os agentes de governança
envolvidos nesse processo.
Luiz Marcatti, sócio e presidente da MESA Corporate
Governance.
Herbert Steinberg, sócio, fundador e presidente do
conselho da MESA Corporate Governance.
Sobre a MESA
A MESA Corporate Governance trabalha a governança corporativa e familiar na dimensão humana do poder, dinheiro e afeto. A empresa é constituída por uma equipe de consultores especialistas e experientes que atendem às necessidades nos diferentes momentos de modernização de empresas de origem familiar ou multissocietárias, quer sejam de capital fechado ou com ações listadas em bolsas de valores. Também é filiada às seguintes entidades e instituições: AMCHAM Brasil, IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, ICGN – International Corporate Governance Network, FBN – Family Business Network e NACD – National Association of Corporate Directors.
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