Insumos falsificados ou contrabandeados: prejuízo não é apenas financeiro, é risco à segurança dos alimentos
Por Fábio Kagi, agrônomo pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e gerente de relações institucionais e regulatório do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg)
As
adversidades fitossanitárias representam um grande e constante desafio para a
agricultura brasileira. No primeiro semestre do ano, por exemplo, os cultivos
de soja, milho e cana-de-açúcar sofreram bastante com a alta incidência de
insetos, como mosca-branca, cigarrinhas e percevejos. No algodão, o
principal problema foi o bicudo. Não menos relevante foi a disseminação de
fungos e plantas daninhas, facilitada pelas características ambientais do país.
Prova da
importância desse crescente desafio no campo, aumenta continuamente o
investimento dos produtores rurais em defensivos agrícolas. De janeiro a junho,
mais de 741 milhões de hectares foram tratados com esses insumos essenciais –
cerca de 1,7 milhão de hectares a mais que em igual período do ano anterior.
Essas aplicações envolveram R$ 34,264 bilhões, sendo 37% do valor em
inseticidas, 26% em herbicidas, 25% em fungicidas e 6% em tratamento de
sementes.
No Brasil,
todo defensivo agrícola deve ser submetido a uma rigorosa avaliação pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para que seja registrado. O
agricultor que utilizar um produto que não tenha passado pela avaliação oficial
coloca em risco o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores e dos consumidores,
além de sua própria lavoura, pois os produtos podem conter componentes
proibidos no Brasil.
É importante
lembrar, ainda, que o uso de produtos sem registro é crime, sujeito a penas de
multa e prisão, além da destruição de todo cultivo em que o produto ilegal foi
aplicado.
Para não
correr risco de aplicar produtos falsos, contrabandeados e sem registro, os
agricultores devem adquiri-los de distribuidores, cooperativas ou diretamente
de fabricantes confiáveis e idôneos, sempre exigindo nota fiscal e receituário
agronômico, além de ter referências prévias do vendedor. Além disso, é preciso
estar atento e suspeitar de insumos oferecidos no mercado a preços muito abaixo
daqueles praticados no mercado, especialmente na internet.
Outros
indícios de ilegalidade são rótulos sobrepostos ou em línguas estrangeiras e
lacres com sinais de adulteração.
Em caso de
qualquer suspeita de ilegalidade, é fundamental que seja realizada uma denúncia
ao Disque Denúncia (181) ou à Linha Verde do Ibama (0800-061-8080), para que as
autoridades possam direcionar ações de desmantelamento da rede de crime
organizado. É preciso reforçar que todas as ligações garantem o anonimato dos
denunciantes, de forma que não é possível, nem mesmo para o sistema,
identificar o nome, o número e o local de onde foi realizada a chamada. Essa
medida dá segurança para quem quiser contribuir com informações.
O processo
ideal de aquisição de insumos é uma das "Regras de ouro para o uso de
defensivos agrícolas", conteúdo elaborado pelo Sindiveg para orientar os
agricultores sobre o uso correto e seguro desses produtos. A entidade
também oferece treinamento on-line, gratuito e com certificado para os
interessados em saber mais sobre a importância e o uso inadequado dos
defensivos. Ambos os conteúdos estão disponíveis em www.sindiveg.org.br.
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