O setembro amarelo provocando reflexões sobre o péssimo hábito de viver se comparando aos outros
Psicanalista lembra que cada ser humano é único e tem emoções e sentimentos peculiares
No momento em que retomamos discussões e
reflexões sobre a prevenção do suicídio, neste setembro amarelo, temos
importantes apontamentos a serem observados. Lembrando que um dos principais
deles é não se esquecer de que, pensar na prevenção do suicídio e em ajudar a
impedir potenciais candidatos de tirar sua vida, deve ser feito ao longo dos
365 dias do ano. A cada minuto alguém pode estar entrando em estado de total
desespero, desamparo e depressão, a ponto de enxergar apenas o suicídio como
uma solução definitiva e cruel para aninhar sua angústia.
Uma situação dramática como essa aponta
um fator que, com o advento tecnológico e as inovações de redes sociais fica
muito mais evidente: a necessidade que o ser humano possui em estar sempre
comparando sua vida com a dos outros, diante das exposições jogadas e expostas
nas mídias.
Comparar-se é natural, pois estamos em
constante busca de critérios para julgar o certo e o errado. Buscamos referências
a todo custo. E as redes sociais nos proporcionam isso com muita facilidade, já
que se apresenta como um território bem fértil para adventos comparativos.
Mas a maior questão é que, devemos nos
conscientizar de que existe o lado bom e o lado ruim de tudo. Lembra da
história de que a grama do vizinho é sempre mais verde que a nossa? Não. Ela
não é.
O que ocorre é que as redes sociais só
demonstram o que o outro deseja mostrar. A parte que lhe importa. Nem sempre
aquela pessoa da foto, com o sorriso mais lindo em um dia ensolarado, está
mesmo tão feliz como está aparentando. O que se passa dentro de cada um não
pode ser genuinamente evidenciado de forma real. Cada um possui uma
individualidade e vive um determinado contexto particular.
Portanto, o maior cuidado que devemos
tomar é buscar entender que a internet é uma vitrine irreal. Se a comparação
for desigual, certamente, o indivíduo que já se encontra fragilizado ou
depressivo por qualquer que seja o motivo, poderá ter sua autoestima afetada, a
partir da criação de falsas expectativas e falsas ilusões. Corre o risco de
entrar em um processo de negação de sua própria realidade, recusa de sua
trajetória individual e estará sujeito a deixar de trabalhar os mecanismos de
ponderação de sua essência.
Na prática, quando ficamos limitados a
ver a vida do outro por um único ponto de vista, somos tentados a entrar em
armadilhas ilusórias que alimentam apenas o que nos convém. Fortalece os
desejos fantasmagóricos que temos em mente, contribuindo para que possamos nos
sentir mais inferiorizados, sem ter o discernimento de enxergar que todos temos
bons e maus momentos. Situações alegres, positivas, mas também difíceis e
angustiantes. E está tudo bem. Isso é perfeitamente
normal.
E aqui entra a necessidade, em muitos
casos, de se tirar a própria vida, movido por uma tentativa frustrada de
evidenciar uma tristeza instalada e mal compreendida. Tristeza que dói. E o ato
de suicídio é exatamente uma infeliz decisão de se eliminar essa dor. Portanto,
ao perceber que as conquistas do outro estão criando empecilhos para que você
consiga criar e valorizar seus próprios passos, ligue seu botão de alerta.
Conscientize-se de que cada ser humano é
único e tem emoções e sentimentos muito peculiares. Desejos, metas e conquistas
são inerentes a todos. E se o outro consegue, você também pode conseguir. É
importante avaliar e refletir o que possa estar lhe impedindo de ter um olhar
mais crítico para perceber o que o afasta de sua felicidade. Só quando nos
organizamos por dentro é que as coisas começam a tomar forma e a caminhar de
vez, em todos os sentidos de nossa vida.
E como mudar essa energia? Como alterar
esses pensamentos limitantes? Saiba que uma situação não pode ser mudada apenas
se enchendo de certezas negativas. Ao se comparar com os outros, ninguém está
te julgando mais do que você mesmo.
Fato é que estamos comprometidos com
situações que podem nos impedir de seguir em uma busca por uma mente mais
saudável. Buscamos respostas e nem sempre as encontramos de imediato.
Portanto, encare sua própria mudança
interna. Não se compare a ninguém. Somos seres divergentes. Lições,
experiências, necessidades e trajetórias diferentes.
O outro não é tão grande e especial assim
como lhe parece. Não se sinta insignificante ou menor com aquilo que está sendo
exposto em uma rede social. Aprenda a lidar com seus defeitos, pois estes temos
todos, até mesmo o carinha mais feliz da internet. Aquele que parece perfeito e
esbanja felicidade a todo minuto, mas que lá no mais profundo do íntimo pode
estar tão destruído emocionalmente que não demonstra, não verbaliza ou mesmo
não busca ajuda profissional.
Veste apenas uma máscara irreal e fica
preso a seus sabotadores. Lidamos com dificuldades diariamente e disso ninguém
escapa. Fuja da tentação de entrar na desilusão imposta por um “feed” perfeito
que retrata apenas melhores momentos com filtros aplicados.
Portanto, valorize sua vida. Valorize
cada dor, cada dúvida e cada conquista. Aprenda que é permitido crescer tanto
com as coisas boas, quanto com as ruins que acontecem conosco. Tirar a vida por
se sentir inferiorizado não o tornará vencedor. Será vitorioso ao conseguir
reconhecer suas falhas, suas forças e dentro desse cenário poder promover um
autoconhecimento que lhe permita ressaltar suas qualidades e evidenciar o que
tem de melhor. Não meça sua vida pela régua dos outros. Lamentar aquilo que não
se tem é uma forma de desperdiçar o que já possui de melhor. Sua vida importa e
muito.
Pense nisso e vida cada mais feliz e
realizado, perseguindo seus objetivos e conquistando seus espaços merecidos.
Dra. Andréa Ladislau
Psicanalista
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