Quatro erros graves ao liderar uma mudança de marca
*Por Calebe Asafe Bezerra
É inegável: o rebranding tá on. Nos
últimos três anos, por motivos tão diversos quanto digitalização, perda de
performance ou apenas para se manter relevante, muitas marcas líderes
revisitaram seu posicionamento, propósito, personalidade e identidade visual.
A evolução da marca é necessária e
saudável. Às vezes, muda-se para corrigir uma rota errada, ou afastar uma
crise. Em outros casos, muda-se porque está dando tudo muito certo, e queremos
que continue assim. Em time que está ganhando, se mexe.
Toda mudança implica em escolhas, e toda
escolha implica em perda. Não falo de perda financeira, mas da perda
psicológica de quem decide. Quando escolhemos algo, estamos abrindo mão de todo
um universo de não-possibilidades a partir dali. E quando somos obrigados a
fazer uma escolha de grande impacto, embora a façamos com o coração, precisamos
de muito mais motivos racionais para embasá-la, e assim diminuir o nosso medo
de errar.
Aprender com os erros é importante. Mas
aprender com os erros dos outros é bem melhor do que com os nossos. É por isso
que você vai gostar de ler este texto até o final: eu vou listar abaixo os
quatro erros mais graves que eu testemunhei nesses 15 anos trabalhando com
marcas de todos os portes.
Se você nunca trabalhou com marca, esses
erros podem parecer básicos. Mas só quem viveu na pele os desafios de um
projeto de mudança de marca, sabe o quanto as decisões podem ser complexas,
especialmente quando se está no caminho errado.
Vamos lá:
1- Falta de clareza sobre o que precisa
mudar
Quando o exame é ruim, o diagnóstico é
impreciso e o remédio prescrito pode até surtir o efeito contrário. É o que
acontece mais do que deveria em processos de mudança de marca: não há clareza,
ou consenso, sobre a estratégia, e o time criativo se vê num fogo-cruzado entre
stakeholders, tateando soluções pouco convincentes porque não têm embasamento
suficiente.
Antes de avançar para a fase criativa, é
fundamental esgotar a fase estratégica, envolver todos os decisores e consensar
um design criteria, isto é, os critérios pelos quais a solução de design será
considerada adequada ou não. Quando tudo o que temos são divergências de cunho
pessoal, a opinião da pessoa mais bem-paga na mesa é a que vence. Só que
ninguém sai ganhando com isso.
2- Falta de apoio das instâncias
superiores
Mais grave que a falta de clareza, é
quando os responsáveis pela decisão final só são consultados… no final. Quer
dizer, com o projeto aprovado, pronto para entrar em produção, eles aparecem
como uma nova potencial barreira, cuja desaprovação é intransponível. E o
projeto, que estava no final, pode voltar à estaca zero, ou mesmo deixar de ser
executado. É raro, mas acontece muito.
Ter o patrocínio dos decisores desde o
kickoff, o envolvimento nas etapas-chave e a clareza da necessidade de mudança,
são itens mais do que obrigatórios para um projeto de sucesso.
3- Necessidade de agradar a todo mundo
Uma mudança de marca pode desagradar a
algumas pessoas na organização ou fora dela, por vários motivos. Alguns, são
apenas apegados demais às coisas, e não mudam para não mudar. Outros, foram
deixados de fora do processo, e se ressentem. Pode ser que alguém simplesmente
não goste da pessoa que está liderando a mudança, e queira sabotá-la. E por aí
vai.
Estes não são motivos técnicos, e
certamente tentar agradar essas pessoas não vai levar à melhor decisão. Estamos
em uma era em que somos pressionados a ter opiniões sobre tudo, até quando não
temos a menor ideia do que estamos falando.
Isso não significa que o usuário final
não deva ser considerado. Pelo contrário, deve-se ouvi-lo o suficiente no
começo para não precisar pedir a sua opinião lá no final da estrada.
Alguns tentam se esquivar da
responsabilidade de decidir, e evocam "a voz do povo". Já vi enquetes
se muda ou não muda, votações por uma versão preferida e até concursos de
marca. O que nunca vi, foi um deles que deu certo.
A mudança de marca não deve ser um
processo democrático. Nem todos precisam se apaixonar pela nova estratégia de
marca para segui-la. Esse romantismo utópico de unanimidade não existe em tantos
outros setores da organização, então porque deveria existir na estratégia de
marca? Mudança definida, pronto: quem não adorar, precisa apenas aceitar. E
quem não aceitar, precisa sair.
4- Fit do contratante com o escritório
de design
O parceiro perfeito para apoiar o
processo de mudança é aquele que dá conta de entregar na qualidade, prazo e
preço desejados e superando todas as expectativas. Mas você já sabe que esse
parceiro não existe.
Quando falamos em fit, é uma relação
equilibrada entre cliente e escritório, em que os dois saem ganhando. O
escritório se sente bem remunerado pelo projeto, consegue entregar na qualidade
adequada e dentro do prazo proposto; o cliente sente que recebeu uma entrega de
valor compatível com o que investiu, no prazo que precisava, por um valor que
ele conseguiu pagar.
O fit começa com um feeling. Sim, depois
de tanto tecnicismo, acho que também tem que "bater o santo". Você
não trabalha bem com pessoas que não se relaciona bem, especialmente em um
projeto de alta complexidade e muito envolvimento.
O fit passa pelo porte: se o projeto é
grande demais para o escritório, ele pode não dar conta do recado, ou fazer
concessões em exagero e acabar se perdendo no meio do caminho. Se o escritório
é grande demais para o projeto, talvez não lhe dê a devida importância, ou não
se empenhe da mesma forma, por não ter tanta relevância para ele. É claro que o
escritório está errado em aceitá-lo, mas novamente: é raro, mas acontece muito.
E por último, o fit precisa de
expertise. Um escritório com um gap de expertise em relação ao cliente, acaba
caindo numa relação de mero executor. O cliente vira flanelinha de layout, e o
designer, desenhador de logomarca. Já quando o escritório tem uma expertise
muito maior do que o cliente consegue absorver, este pode estar comprando mais
do que precisa, ou até do que é capaz de executar.
E por último, não se esqueça: é o piloto
do helicóptero que decide se o tempo está bom o suficiente para levantar vôo. E
são os bons profissionais de marca que saberão direcionar a estratégia, o
arquétipo, o tom de voz, a identidade verbal, a identidade visual e qualquer
outra entrega prevista no seu projeto de mudança de marca. Escute-os, e decida
junto com eles. Mas aprenda que todos precisamos mudar para permanecer do jeito
que somos.
SOBRE O AUTOR
Calebe Asafe Bezerra (@calebeas) é CEO e Fundador da Calebe_, um escritório de marcas, produtos e estratégias digitais, além de professor e mentor. Ocupa atualmente a vice-presidência da ABEDESIGN.
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