Saúde mental e bem-estar viram empreendedorismo e impulsionam startups
Michael Citadin*
A saúde
mental deixou de ser tabu nas empresas, especialmente desde que o burnout, o
esgotamento ligado ao excesso de tarefas, tornou-se uma doença do trabalho
reconhecida mundialmente. A demanda por programas de bem-estar psicológico teve
um grande salto, impulsionando tanto startups especializadas quanto empresas de
saúde que veem uma possibilidade de ganhos extras no setor. Com isso,
conseguimos ver que a pandemia acelerou o desenvolvimento de temas
imprescindíveis para o momento que vivemos e a saúde mental e o bem-estar, que
já estavam nas pautas das empresas, ganharam ainda mais relevância,
proporcionando oportunidades de negócios para atender essa demanda social.
De acordo com o hub de inovação Distrito
com o apoio da consultoria KPMG, o Brasil já conta com 542 startups de saúde.
Esse crescimento se deve pelo fato das pessoas estarem ressignificando o
trabalho, movimentos como quiet
quitting evidenciam essa ação, na qual as pessoas almejam o work-life balance. Vejo que esse
movimento de startups criando soluções para essa dor das empresas, já acontecia
muito antes da pandemia, mas que foi potencialmente acelerado, trazendo mais
intensidade ao tema, especialmente pelo isolamento social.
Quando olhamos para as linhas de despesas
nos balanços das empresas, o plano de saúde é o segundo principal, ficando
atrás apenas dos salários, obviamente. A companhia que oferece acesso à saúde é
praticamente uma commodity na estratégia de atração e retenção de
profissionais, aqui é outra variável importante que dá espaço para inovação e
criação de startups, que podem oferecer vantagem competitiva para que empresas
possam ir além do tradicional plano de saúde e odontológico, que já é oferecido
à décadas pela maioria dos negócios. Além disso, trabalhar a saúde para além do
plano é imprescindível para ter equipe saudável, engajada e produtiva, temas
que certamente vem impulsionando esse setor.
Ao avaliar a cultura organizacional e a
forma de se relacionar com colaboradores, podemos apontar que o maior cuidado
das empresas é o movimento puxado por startups e empresas mais jovens, as quais
conseguem ser muito ágeis e com isso propor soluções que agregam valor para a
sociedade de forma rápida e eficaz, inclusive, melhorando o produto com feedbacks
dados por usuários reais. Sem sombra de dúvidas, a agilidade das startups se
torna uma vantagem competitiva frente a players mais tradicionais.
Mesmo sendo um segmento que cresceu
exponencialmente em 2020 e com boas perspectivas de receber investimentos, o
setor possui obstáculos, mas como sempre gosto de destacar, é preciso resolver
uma dor real do mercado, de forma simples e que permita que o negócio seja
escalável. Para além disso, é imprescindível ter o que chamamos de “essencial
bem feito”, isso é oferecer um produto, serviço ou solução que o mercado
precisa e que esteja disposto a pagar, ter um plano e modelo de negócios que
seja sustentável ao longo do tempo, criar um time alinhado aos valores e à
cultura da startup e ter uma ótima estratégia go-to market. Caso um desses
temas não tenha sido bem desenvolvido, receber investimentos e crescer na
direção certa pode ser um obstáculo.
O tema saúde faz parte do nosso
cotidiano e iniciativas como as que temos observado geram valor ao profissional
e é de suma importância para a estratégia de atração e retenção de pessoas.
Precisamos, como sociedade, ir além do tradicional e oferecer acesso a outras
iniciativas. As empresas têm um papel fundamental na sociedade e podem gerar
valor oferecendo um ambiente com segurança psicológica e acesso às mais
diversas soluções que visam a qualidade de vida e bem estar, incluindo a
dimensão psicológica e emocional, e isso tudo ao passo que o negócio também
possa escalar de forma sustentável.
*Michael Citadin é cofundador e CPO da Unicorn Factory. Além disso, conta com PhD em Administração Estratégica pela Universidade do Minho e Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Com quase 20 anos de mercado profissional, Michael acumula experiência na área de Pessoas e Cultura, em importantes empresas brasileiras e multinacionais de diferentes segmentos e portes.
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