A crescente ESG e o impacto direto no futuro dos combustíveis
*Antonio Ticianeli
A filosofia ESG, uma abreviatura inglesa
que em livre tradução significa Meio Ambiente, Social e Governança, tem percolado
grandes corporações globais no ano de 2022 angariando interesse de vários
setores, demonstrando que será algo perene, diferentemente de outras ondas de
mesmo viés que hoje encontram-se no ostracismo corporativo.
O ESG é uma abordagem com perspectiva em
estabelecer e compreender como as organizações estão engajadas nos quesitos
sociais e ambientais, além da maximização dos seus lucros através destas para
seus acionistas. Em linhas gerais, a perspectiva ESG visa criar metodologias,
rotinas e ações, que lhes permitam alcançar os objetivos e metas traçadas, de
tal sorte sejam atualizadas constantemente a formar um ciclo perene.
Existem diversos mitos que devem ser
desfeitos acerca da doutrina ESG, como essas ações sociais de governança e
ambientais que não geram valor às empresas estão sendo usadas de forma ilusória
e distorcendo a realidade.
Então, em minha opinião e contrariando
os adeptos do ESG que entendem que essa é uma visão antidiluviana, para que o
ESG não se enderece para o mesmo destino de seus antecessores, que é o
ostracismo, é preciso compreender que as suas ações, tanto de responsabilidade
social, quanto ambientais, devem sempre buscar o aumento do “valuation” da
empresa neste longo prazo e não de curto prazo como tem sido pregado pelos
adeptos do ESG.
Em linhas gerais e segundo os conceitos
do liberalismo, o ESG é o inverso da doutrina Friedman. A doutrina Friedman foi
definida por Hélio Beltrão em um de seus artigos como a doutrina que pleiteia
que a responsabilidade social da empresa sempre deve aumentar lucros, ou em
termos mais modernos, aumentando o “valuation” da empresa. Hélio Beltrão ainda
sintetiza que as ações que realmente geram valor são praticadas desde muito
antes da crescente ESG, ou seja, o ESG é apenas uma roupagem nova de um conceito
antigo, mas isso é um tema para outras discussões. O que buscamos neste artigo
é demonstrar como a onda da doutrina ESG pode impactar positivamente o
desenvolvimento de novos combustíveis como foco do atingimento das metas
ambientais em curto prazo, sempre com foco no aumento do “valuation” da
companhia como previsto pela doutrina Friedman.
O engajamento corporativo em relação ao
meio ambiente tem trazido ao mercado grande ações ambientais através de
projetos e iniciativas privadas e governamentais, além de mecanismos
econômicos, fazendo com que haja uma consolidação das questões ambientais em
níveis mais elevados.
Dentre essas ações podemos citar o
Índice de Carbono Eficiente (ICO2), que foi desenvolvido em parceria entre a
B3, uma das principais empresas de infraestrutura de mercado com atuação em
ambiente de bolsa e de balcão, juntamente com o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Esse índice é composto por ações
das companhias participantes do Índice BRX50 da B3 que adotaram práticas
transparentes com relação às suas emissões de gases do efeito estufa. Esse
índice leva em consideração o grau de eficiência de emissões de gases de efeito
estufa de cada empresa, ou seja, quanto mais sólida as políticas e ações no
sentido da redução das emissões, mais atrativas serão suas ações na bolsa,
permitindo a possibilidade de captação de investimentos com base nesse índice.
Obviamente, o primeiro pensamento que
vem à mente é a eletrificação dos meios de condução de forma massiva, mas, que como
exposto anteriormente, ainda está distante de uma realidade exequível ao menos
no Brasil.
Em um segundo instante se pode pensar
nos “green Fuels” e nos biocombustíveis, ou ainda a aplicação de aditivos
tecnológicos para estes combustíveis verdes, biocombustíveis e standard, como
uma ferramenta de atendimento da demanda ESG em curto prazo.
Mas por que a utilização de aditivos
tecnológicos para essa gama de combustíveis seria uma boa ideia?
Inicialmente, podemos utilizar o próprio
conceito do ESG para conservação do meio ambiente com resultados de curto
prazo, e que em grande parte das ações se direciona para a redução das emissões
atmosféricas através da redução do consumo de combustíveis ou da substituição
de combustíveis fósseis por “green” e “bio fuels”.
Nesse caso, os aditivos tecnológicos,
como o produzido pela ecomanda, podem se encaixar perfeitamente, pois conseguem
promover uma redução de emissões atmosféricas dos GEEs (Gases do Efeito Estufa)
em até 17% quando aplicados em combustíveis fósseis. Portanto, se forem
aplicados em “green” e “bio fuels”, que naturalmente geram menos emissões
atmosféricas, a presença desses aditivos tecnológicos terão um efeito sinérgico
e reduzirão em índices ainda maiores que os potenciais 17%.
Posteriormente, ao aplicarmos o conceito
da doutrina Friedman alinhadas ao ESG em que essas ações sempre devem aumentar
o “valuation” da empresa, podemos unir o útil ao agradável. A explicação para
isso tem fundamento ao se analisar o processo de queima dos combustíveis em geral
e por motores movidos à combustão interna.
Neste caso, a formação dos gases de
exaustão, especificamente o dióxido de carbono (CO2) são formados de
forma proporcional a quantidade de combustível queimado. Portanto, se o consumo
de combustível é reduzido, a formação do dióxido de carbono também será
reduzida na mesma proporção, na escala de 1:1. Isto significa que a cada 1.00%
da emissão de dióxido de carbono equivale a 1.00% na redução do consumo de
combustível.
Pode-se, portanto, notar que a demanda
ambiental pode ser satisfeita sob os dois prismas distintos, no atingimento das
metas ambientais de curto prazo no tocante das emissões atmosféricas conforme
preconizado pela doutrina ESG e o aumento do “valuation” da empresa seguindo a
doutrina Friedman, que se dá pela redução dos custos e despesas primárias
atreladas à aquisição e consumo de combustível aumentando o lucro bruto e
aumentando o valor do EBTIDA ou LAJIDA (Lucros Antes de Juros, Impostos,
Depreciação e Amortização).
Delongando o exposto neste artigo fica
claro que a doutrina ESG se faz crescente e muito provavelmente será perene no
mundo corporativo e que diferentemente ao conceito pregado pelo discípulos
dessa doutrina, é possível realizar ações perenes e substancialmente viáveis do
ponto vista econômico, não necessitando para isso uma nova invenção da roda,
entremente, se deve melhor aproveitar as tecnologias presentes alternativamente
a vultuosos projetos como desenvolvidos num passado recente pelos parentes
ostracistas do ESG.
E, mantendo essa vertente, é possível se
afirmar que anteriormente à utilização de tecnologias energéticas eletrificadas
e hidrogênicas, talvez, o melhor caminho seja “atualizar” combustíveis
carbônicos através dos aditivos tecnológicos, melhorando sua relação com o meio
ambiente pela redução real e direta das emissões atmosféricas, sem que haja a
necessidade de investimentos vultuosos em eliminação das emissões atmosféricas
por métodos indiretos, aumentando a lucratividade pela própria redução do
consumo global de combustíveis e por conseguinte aumentando o “valuation” da
companhia.
Em síntese, estamos em um processo sem
retorno no que tange ao ESG e suas ondas de impacto, restando as corporações
compreendê-lo em sua plenitude para que seja possível atrelar suas ações aos ganhos
econômicos para que perdurem a longo prazo.
No tocante dos combustíveis fica
evidente que o ESG forçará os combustíveis fósseis em um primeiro momento a
serem atualizados, num segundo momento serem substituídos por biocombustíveis,
e, por fim, aposentados. No entanto, arrisco dizer que isso não será em um
curto espaço de tempo, mas a médio e longo prazo. Especialmente quando falamos
dos biocombustíveis, que dependem de matérias primas alimentares como
cana-de-açúcar e soja, pois anteriormente à produção de combustíveis deve-se
atentar para a escassez de alimentos.
*Antonio Ticianeli é engenheiro químico, especialista em regulação e mercado de petróleo e derivados
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