Academia Mineira de Letras apresenta exposição "Cartografia Imaginária: Rua da Bahia"
COM CURADORIA DE MARCONI DRUMMOND E
MAURÍCIO MEIRELLES, MOSTRA FICA EM CARTAZ DE 03/10 A 15/11
No traçado de uma nova e moderna cidade, Belo Horizonte nasceu como se
seu mapa fosse um grande tabuleiro de xadrez e a Rua da Bahia ganhou posição estratégica,
ligando pontos importantes da capital planejada. Não à toa, ela se consolidou
como parte essencial da vida de quem por aqui passou e é isso que a exposição
“Cartografia
Imaginária: Rua da Bahia” traz para o público. A
mostra, que é inaugurada dia 3 de outubro e fica em cartaz de 4 de outubro
a 15 de novembro na da Academia Mineira de Letras, tem curadoria
de Marconi Drummond e Maurício Meirelles e reúne literatura, artes visuais,
arquitetura, história urbana e escritas sobre a cidade. O evento acontece no
âmbito do projeto: Rua da Bahia: Cartografias Literárias número:
2018.12.0089, Fundo Estadual de Cultura com a
parceria do Festival Verbo Gentileza, apoio do SESC PALLADIUM, da Associação dos Amigos da AML- AMIGOS e da Associação
Comercial de Minas Gerais- ACMinas .
“A cidade é um território de memórias e de afetos. Com
a Rua da Bahia, não é diferente. Ela guarda muitas histórias e é uma das vias
urbanas mais celebradas pela Literatura feita em Minas. A exposição que ora
temos a alegria de inaugurar recria algumas dessas narrativas, reativando a
presença de personalidades que marcaram época e de lugares importantes na
trajetória cultural da capital. Vale a pena embarcar nesse passeio pelo tempo.
A curadoria de Marconi Drummond e de Maurício Meirelles resultou numa mostra de
altíssimo nível, que merece ser apreciada”, comenta o presidente da Academia
Mineira de Letras, Rogério Tavares.
A mostra propõe um olhar contemporâneo sobre a história
literária e urbana da Rua da Bahia. Tomando a via como personagem, a intenção
dos curadores do projeto é investigar e narrar a trajetória da construção
material e simbólica da Rua da Bahia ao longo do tempo.
O público é convidado a percorrer diversas temporalidades
dessa rua que é o principal “território literário” da cidade: o Bar do Ponto, a
Livraria Francisco Alves, o Café Estrela, locais onde se reunia a geração
modernista de Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava e Emílio Moura; o Grande
Hotel, que hospedou, em 1924, a célebre “Caravana Paulista” de Mário e Oswald
de Andrade e Tarsila do Amaral; os bares do Edifício Maletta, palco da Poesia
Marginal e das publicações independentes, nas décadas de 1970 e 1980; os
baixios do viaduto Santa Tereza, que abrigam, atualmente, o movimento Hip Hop
dos MC’s – são múltiplas as geografias literárias e as dimensões culturais da
Rua da Bahia.
“Nenhuma rua em Belo Horizonte carrega tanto significado
quanto a da Bahia. Ao revisitar tantos clássicos da literatura brasileira e a própria
história da cidade, é natural parafrasear Pedro Nava e dizer que todos os
caminhos levam à Rua da Bahia. Importantes momentos da vida cultural de Belo
Horizonte e do país aconteceram – e continuam acontecendo – ali: é como se o
tempo criasse uma linha que parece infinita para quem a percorre com
sensibilidade: a Rua da Bahia continua se transformando e sendo ponto de
encontro de várias gerações”, destaca Marconi Drummond.
Organizada em torno de dez núcleos expositivos que
dialogam entre si, a exposição percorre a via e suas cercanias, desde o
Ribeirão Arrudas até a Praça da Liberdade. Antes de adotar um conceito linear e
temático, a estrutura da exposição toma a Rua da Bahia como síntese das ideias
de “cidade alta” – diurna e solar, ligada ao poder e às regras sociais – e
“cidade baixa” – noturna e profana, ligada ao corpo e suas práticas: os dois
focos de uma elipse cujo ponto de partida é também o de chegada, na bela
imagem-metáfora criada pelo professor João
Antonio de Paula para se referir à Rua da Bahia.
“Se a literatura produzida sobre a capital mineira tivesse
uma cartografia, certamente a Rua da Bahia seria seu eixo principal. Foi a
partir dessa ideia que criamos a exposição, de modo que o “mapeamento
literário” da cidade, feito por sucessivas gerações de narradores, permita ao
público investigar sua própria relação com esse território cultural de Belo
Horizonte”, completa Maurício Meirelles.
A mostra também conversa com a exposição “Cartografia
Imaginária: a cidade e suas escritas”, realizada na Galeria GTO do SESC
PALLADIUM, em 2018.
Um
passeio pela Rua da Bahia: 10 núcleos expositivos
Uma
Rua além da rua: simples reta urbana no projeto de Belo Horizonte, indistinta
das demais ruas que lhe são paralelas, a Rua da Bahia ganhou, por meio da literatura,
uma dimensão afetiva e poética que transcende seus limites físicos, ou, nos
dizeres de Pedro Nava: “Da rua da Bahia partiam vias para os fundos do fim do
mundo, para os tramontes dos acabaminas [...], círculo infinito...”
Um rio
(in)visível: Eixo
histórico de ligação entre a antiga Avenida do Comércio e a Praça da Liberdade,
a Rua da Bahia conecta também dois territórios simbólico-afetivos bastante
distintos: em cima, a cidade diurna e solar, ligada ao poder, às regras sociais,
àquilo que se quer mostrar; embaixo, a Belo Horizonte noturna e profana, ligada
ao corpo e sua fisiologia, àquilo que se quer esconder.
Descer: “[o] quadrilátero da zona
[...], vasta área de doze quarteirões de casas. A partir da crista de Caetés, as
ruas ladeiravam até despencarem no Arrudas. [...] daí o
significado especial de descer dado pelos belorizontinos à ação de ir à zona, à
patuscada, à farra, ao cabaré lá embaixo [...]” – Pedro Nava, em “Beira-mar”,
nos conta sobre as práticas do corpo que, perdurando até os dias atuais,
levaram à criação de um território literário conectado ao desejo e ao
desregramento dos sentidos.
Um
arco no tempo: Contemporâneo do famoso poema de Carlos Drummond de Andrade
“Uma pedra no caminho” – publicado na “Revista de Antropofagia”, em 1928 –, o
viaduto Santa Tereza trouxe ares modernos à capital. Nove décadas depois, é a
vez de os MC’s se apropriarem do lugar. Mas, ao contrário do poeta – que
atravessava o viaduto caminhando sobre um dos arcos laterais –, a nova geração
vai se interessar pela parte inferior do Santa Tereza: uma ocupação criativa e
política dos baixios da cidade.
Geografia
mutilada:
Principal área verde do plano original de Belo Horizonte, o Parque Municipal
teve sua área reduzida em cerca de setenta por cento, consequência das
transformações urbanas que o fragmentaram ao longo do tempo. Se, por um lado, a
atual configuração do parque é quase um vestígio de sua forma inicial, o lugar
é sede de narrativas e manifestações artísticas que, ao longo da história da
cidade, o constituíram num vasto território simbólico.
Periódicos:
prática da vanguarda: Servindo à difusão de ideias e práticas de sucessivas
gerações de escritores e artistas, as revistas de literatura e arte editadas em
Belo Horizonte sempre contribuíram para a renovação do cenário cultural no
Brasil: desde os anos 1920, com “A Revista” – porta-voz da geração de Carlos
Drummond de Andrade –, passando pelas publicações das décadas de 1940 e 50 – a
literatura em diálogo com outras áreas artísticas –, até as publicações atuais,
os periódicos criaram uma verdadeira tradição editorial entre nós.
O Grande Hotel Maletta: Em 1924, a vinda a Belo Horizonte da
“Caravana Paulista”, formada pelos modernistas Oswald e Mário de Andrade,
Tarsila do Amaral e outros iria influenciar decisivamente a geração de Carlos
Drummond de Andrade, Pedro Nava e Emílio Moura. O impacto desse evento no
imaginário local é tamanho que, cinco décadas depois, os movimentos literários
que marcaram a cidade nos anos 1970 e 1980 surgiram no lugar onde, antes, havia
o Grande Hotel de Belo Horizonte: os bares
do Conjunto Arcângelo Maletta.
Cartografia sentimental: Em “Beira-mar”, Pedro Nava
percorre, quase sessenta anos depois, o principal território de seus anos de
formação, vividos em Belo Horizonte na década de 1920: a região do Bar do
Ponto. Mais do que mapear literariamente lugares há muito desaparecidos, o
autor reconstrói, com a força de sua prosa poética, os lugares vividos pelos
“jovens futuristas” – como sua geração era chamada –, compondo, através da
memória afetiva, uma cartografia sentimental da Rua da Bahia.
Modernidade no Horizonte: Durante sua breve estada na capital
de Minas Gerais, em 1924, Mário de Andrade escreve o célebre poema “Noturno de
Belo Horizonte”. A partir do encontro entre o modernista e Carlos Drummond de
Andrade, inicia-se uma intensa troca de correspondências entre os dois autores,
que iria durar até o final da vida do escritor paulista. Influenciado pelas
ideias gestadas na Semana de 22, trazidas a Minas pela “Caravana Paulista”, o
poeta itabirano escreve, em 1928, o famoso poema “Uma pedra no Caminho”, que
simbolizaria, no plano literário, a entrada de Belo Horizonte na modernidade.
Os dois focos da elipse: Ligando a cidade diurna, relacionada
ao Poder, à cidade noturna e profana, a Rua da Bahia pode ser vista como o eixo
maior de uma elipse – figura geométrica dinâmica, gerada a partir de um duplo
centro – cujos focos seriam a Praça da Estação e a Praça da Liberdade. Esse
núcleo encerra a exposição, reconectando-se poeticamente, no entanto, ao núcleo
de abertura: afinal a Rua da Bahia é o “círculo infinito...” de que nos fala
Pedro Nava.
SERVIÇO:
Academia Mineira de Letras
Exposição “Cartografia Imaginária: Rua da Bahia”
Data:
Abertura: 03 de outubro, às 19H
Visitação: de 04 de outubro a 15 de novembro
Funcionamento: de terça a sexta de 10h às 19h
Sábado de 10h às 16h
Entrada gratuita
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