Como o Congresso Nacional poderá afetar o próximo governo
*Ivan Barboza
O primeiro turno das eleições realizadas no domingo (02/10)
teve como resultado uma disputa acirrada entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro
(PL). Com isso, os dois candidatos se enfrentarão no
segundo turno em 30 de outubro. Porém, antes de analisarmos os cenários de
vitória de cada um dos candidatos, é preciso entender que
o presidente dependerá bastante do Congresso
Nacional, já eleito.
Em particular, porque a gestão das finanças da União
deve ser feita de acordo com a Lei Orçamentária Anual (LOA), que é anualmente
aprovada pelo Congresso e determina como
os recursos do governo serão gastos no ano seguinte.
Assim, todo presidente precisa buscar apoio da maioria dos deputados e
senadores que compõem o Congresso
para aprovar suas propostas e, por essa razão, a
composição do Congresso Nacional
influencia muito na direção que cada governo tomará. Por
isso, a eleição de nossos deputados e senadores, tão ignorada pelo público geral, merece mais atenção.
Apesar da disputa entre Bolsonaro e Lula
ter se estendido para o segundo turno, a direita
brasileira já teve uma vitória na eleição do novo Congresso Nacional, em que os partidos dessa orientação política compõem agora a maioria tanto na Câmara quanto no
Senado. O crescimento da direita veio principalmente por
causa da perda de espaço dos partidos do “Centrão”, alvos de críticas por não terem
ideologias bem delineadas e por decidirem seus posicionamentos com base, por
vezes, em motivações questionáveis. Mas, afinal, como
a nova composição do Congresso
interfere nos cenários de vitória de cada um dos
candidatos?
Com o Congresso mais inclinado à direita, Bolsonaro terá maior
governabilidade se conseguir a reeleição. Após um primeiro mandato conturbado por disputas com o
Centrão, pandemia e crises internacionais, que acabou com
menos realizações do que o esperado pela direita
brasileira, seria a chance de Bolsonaro buscar um avanço mais representativo nas pautas de liberdade econômica,
responsabilidade fiscal e melhoria da gestão pública,
temas nos quais a direita deposita suas esperanças de
romper o fardo do Brasil ser o país
com um futuro nunca alcançado.
Se Lula for eleito, terá a difícil
tarefa de equilibrar as demandas de sua base eleitoral,
que espera atuação forte do governo e aumentos de
investimentos públicos, e a oposição imposta por um Congresso hostil a essas pautas. Lula
já enfrenta essa dificuldade durante sua campanha, em que vem tentando se
aproximar do mercado e do centro para angariar votos suficientes e, ao mesmo
tempo, evita se comprometer com um plano de governo que
poderia afastar seus eleitores mais tradicionais.
De toda maneira, tanto pela nova
composição do Congresso quanto
pelas limitações que a situação do país impõe, esperamos
que o próximo governo seja focado no desenvolvimento
econômico, e nos mantemos “moderadamente otimistas”, com nossas mentes
preparadas para o pior e a eterna relutância de nutrir
grandes expectativas em um país com histórico econômico
tão frustrante, mas com nossos espíritos ainda
esperançosos.
* Ivan Barboza é sócio-gestor do Ártica
Asset Management, cujo fundo de ações Ártica Long Term FIA rendeu mais de 30%
ao ano desde sua criação, em 2013.
Fonte:Ártica
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