Do operário ao empreendedor: as principais mudanças no mercado de trabalho
Segundo análise de Uranio Bonoldi, escritor
especialista em carreira e tomada de decisão, o trabalhador hoje tende a ser
focado no desempenho individual
De acordo com a Receita Federal, o
primeiro semestre de 2022 foram criadas mais de 2 milhões de novas empresas,
das quais 78,48% são microempreendedores individuais (MEIs). Já o boletim Mapa
de Empresas do 2º Quadrimestre de 2022 aponta que os MEIs são responsáveis por
58,8% dos negócios ativos no País, e representam 76,1% das empresas abertas no
segundo quadrimestre de 2022. Ao todo, o Brasil tem mais de 11 milhões de MEIs
ativos, contra aproximadamente 20 milhões de empresas totais. Tais dados
apontam para uma importante mudança no perfil do trabalhador: se no século XIX
era o operário nas fábricas, no século XXI é alguém que busca autonomia, com
tendência ao empreendedorismo e ao gerenciamento do próprio desempenho.
O escritor Uranio Bonoldi, especialista
em carreira e tomada de decisão, aponta que o mercado viu crescer a
diversificação dos postos de trabalho desde a Revolução Industrial. “Conforme
novas empresas e novos serviços foram criados, surgiram também novas ocupações,
novas especialidades, indo além do tradicional trabalho de operação de
máquinas”, diz. E em anos mais recentes, as transformações se acentuaram.
“Antes a possibilidade de empreender estava resumida a uma classe mais
abastada, mas hoje pessoas de classes médias e baixas também se sentem
estimuladas a terem o próprio negócio, e isso traz mudanças profundas no
mercado de trabalho. Aquela pessoa que antes era subordinada a um empregador
passa a ser gestora de si mesma”, diz.
Essa mudança traz novos direitos e
deveres para esse grupo de trabalhadores, que passa a enxergar as dificuldades
de se ter um próprio negócio, encarando aspectos como gestão financeira,
legislação, recursos humanos, etc. “Mais do que isso, esse empreendedor passa a
ter que exercitar qualidades sem as quais não sobreviverá, tais como
disciplina, resiliência, saber persistir e entender quando tem que se adaptar a
novas exigências e realidades. O pequeno empresário, que antes era assalariado,
passa a se ver diante de responsabilidades que são muito desafiadoras”, aponta
Bonoldi. Por outro lado, os microempreendimentos geram oportunidades que são
valiosas para a economia como um todo. “Estabelecem-se relações de trabalho
mais fluidas, menos estáticas, como no caso do trabalhador que é contratado
como pessoa jurídica (PJ). Dessa forma é possível ir além dos padrões
estabelecidos pela CLT, com horário de expediente, salário e benefícios
negociados entre o contratante e o contratado”.
Bonoldi, que é autor do livro “Decisões de
alto impacto - como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos
negócios”, acredita que compreender essas mudanças é fundamental para que o
mercado se adeque às novas demandas. “A empresa que quer contratar um bom
profissional, hoje, precisa levar em conta o quanto é valioso oferecer
ambientes propícios para a independência dos trabalhadores. Isso irá fazer com
que eles, de forma voluntária, tenham o melhor desempenho. Do mesmo modo, é
preciso compreender que o potencial do empreendedorismo, da criação de micro e
pequenas empresas, é algo a ser explorado pelo mercado, pois gera oportunidades
de negócios que podem ser benéficas para um grande número de stakeholders”, finaliza
Bonoldi.
Sobre o autor:
Uranio Bonoldi é palestrante e especialista em negócios e tomada de decisão, e professor do Executive MBA da Fundação Dom Cabral, onde leciona sobre "Poder e Tomada de Decisão". Educado pelo método Waldorf, sua graduação e em seguida a pós-graduação em administração de empresas foi feita na FGV-SP. Atuou em grandes empresas como diretor e CEO.
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