O Brasil possui um Estado Forte ou um Estado Fraco?
Por Alexandre Aroeira Salles*
Quando se trata de melhorar o Brasil,
nós brasileiros ficamos dando “murro em ponta de faca”. Há mais de cem anos,
estamos “batendo na mesma tecla”, errada e desafinada, do atalho imediatista e
do não desenvolvimento duradouro e sustentável de toda a nação. Para piorar,
colocamos erradamente a culpa no ‘ser brasileiro’, que nada de diferente tem
dos demais seres humanos, e assim deixamos de atuar onde de fato poderíamos
acelerar nossa modernização.
Ao longo das décadas, conseguimos criar
um ‘Estado Fraco’,
que não consegue proteger os honestos contra os desonestos, e nem prestar os
mais básicos serviços públicos de saúde, educação, segurança e infraestrutura.
Paradoxalmente, conseguimos, ao mesmo tempo, estruturar um ‘Estado Forte’, que
atrapalha o empreendedor e o trabalhador quando tentam criar riqueza e levar
prosperidade a todos.
O Estado é fraco quando não
consegue evitar: mais de cinquenta mil assassinatos por ano; milhões de
agressões e estupros contra mulheres e crianças; roubos de toda ordem,
devedores contumazes dando calotes nos credores impunemente; bairros sob o
comando do tráfico de drogas ou de milícias; a corrupção sistêmica e a
violência como forma de agir das autoridades; desmatamentos ilegais na
Amazônia; e a captura dos cofres públicos de municípios, estados e da União por
corporações de empresas, políticos e altos funcionários públicos, sugando
“legalmente” os recursos que deveriam ir para os mais necessitados.
Por outro lado, temos um Estado FORTE em criar milhares
de regras que colocam o cidadão de joelhos em um cipoal ineficiente de entraves
burocráticos, com órgãos lotados de funcionários públicos desmotivados e
impacientes, além de mais de 500 ineficientes empresas estatais. É forte também para multar
e tributar desproporcionalmente o trabalhador e o empreendedor; ao mesmo tempo
em que é forte
para dar privilégios, subsídios e isenções tributárias a setores empresariais
organizados, assim como para ampliar a já altíssima remuneração e
aposentadorias de membros do Judiciário, do Ministério Público e do
Legislativo, concedendo-lhes carros, motoristas, prédios suntuosos e
penduricalhos de toda ordem, além das férias superiores a 30 dias por ano.
Não se pode esquecer do absurdo a que o
empreendedor pequeno, médio ou grande do agronegócio está sujeito perante tal “Estado Forte”, quando se
vê rapidamente multado e até processado criminalmente por haver limpado arbustos
na sua área sem prévia autorização de órgão ambiental, enquanto espera anos por
uma licença para iniciar a produção.
A cada arranjo que se faz aqui ou ali, o
que se tem é a demonstração clara da ausência de foco e prioridade na
construção de um Estado
que deveria cumprir as suas principais missões de: (i) prestar bons serviços públicos (educação,
saúde e segurança pública); (ii)
proteger os honestos contra os desonestos, garantindo, ainda, o direito de
propriedade do credor contra o devedor (inclusive quando é o Estado o mau
pagador); (iii)
investigar eficientemente o corrupto, o ladrão, o estuprador, o traficante e o
assassino para, depois de processá-los com agilidade e seguindo o devido
processo legal, puni-los exemplarmente; (iv)
viabilizar, direta ou indiretamente, boa infraestrutura e desenvolvimento
urbano; (v)
regular bem a sociedade para evitar abusos, preconceitos e injustiças,
combatendo toda forma de discriminação; (vi)
cobrar impostos com isonomia, sem gastar mais do que arrecada, e tributando
progressivamente a renda para diminuir a desigualdade social; (vii) inserir o
Brasil nas cadeias produtivas e comerciais globais e o fortalecimento da
cooperação concreta e efetiva entre os povos, atuando, ainda, pela difusão do
potencial econômico, ambiental, cultural e turístico do país.
Perceba-se que tal missão não é um
dilema de partidos ditos de esquerda, centro ou de direita, mas sim uma
prioridade civilizatória comum para todos nós. Se fôssemos uma nação
verdadeiramente comprometida com nossos filhos e netos, não deveria haver
qualquer diferença entre os programas dos partidos políticos vigentes, todos
teriam que dizer e propagar políticas públicas na mesma direção. Temos que nos
unir para, primeiramente, fazer o óbvio e o prioritário. Depois de feito,
podemos nos dividir, para afinar o instrumento em direção mais progressista ou
mais conservadora nos costumes e na economia.
A culpa de nosso intermediário
desenvolvimento socioeconômico não decorre do nosso clima, de nossa cultura e
nem de nossos vizinhos; mas sim da nossa persistente omissão em fortalecer as
instituições públicas para que incentivem nos brasileiros comportamentos
positivos e construtivos, protegendo os honestos contra os desonestos e
promovendo políticas públicas que revertam para o genuíno benefício de toda a
Nação.
* Alexandre é doutor em Direito e sócio-fundador da banca Aroeira Salles Advogados
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