Últimas

Para estimular criatividade nos negócios, gestores devem ir além da decoração do escritório

Escritor Uranio Bonoldi aponta caminhos para que gestores mantenham as ideias arejadas e consigam trazer soluções e estratégias mais interessantes

Sabe-se que decoração colorida, pufes, jogos e outros itens lúdicos nos escritórios tem sido o estereótipo de como as corporações buscam manter seus colaboradores mais criativos, aliviando as tensões da rotina de trabalho com toques de irreverência. Contudo, existem outras formas de estimular a criatividade no mundo corporativo. Para Uranio Bonoldi, escritor e especialista em carreira e tomadas de decisão, é importante que executivos mantenham a si próprios com as ideias arejadas, de modo a criar um ambiente de trabalho em que o pensamento criativo seja valorizado.

Autor de “Decisões de alto impacto: como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos negócios”, Bonoldi acredita que a criatividade vai muito além de tentar “reinventar a roda”, sendo a capacidade de olhar as situações, analisar dados e entender o que eles nos dizem, ligar os pontos e solucionar problemas que, num primeiro momento, pareçam intransponíveis. E é possível estimular essa habilidade de cognição de muitas formas. “É recomendável que os executivos descansem, tenham rotinas saudáveis para a mente e para o corpo, e mantenham hobbies não relacionados com o trabalho. Informem-se sobre o mundo como um todo, consumam diferentes formas de arte”. É válido ainda observar outros tipos de negócios, analisando como as pessoas “fazem acontecer” em outros campos que não o seu. “Muitas das ideias surgem de forma espontânea, intuitiva, não programada, a partir de hábitos que temos fora do expediente”, afirma.

Bonoldi cita como exemplo o que aconteceu com o próprio filho ao ingressar no mercado de trabalho corporativo. “Ele me confidenciou que, em uma das entrevistas de emprego, foi indagado sobre o que fazia nas horas de lazer. Respondeu que lia e colecionava revistas em quadrinhos e jogava Pokémon. Surpreso, perguntei ao meu filho: “Sério?! Você disse que jogava Pokémon para o seu, talvez, futuro chefe?” Com a maior naturalidade ele disse que sim e que seu hoje líder ficou entusiasmado, pois também jogava Pokémon! Ambos, após sua contratação, foram inúmeras vezes “caçar” Pokémons e discutir negócios juntos. Um hobby nada relacionado com os negócios se tornou um elo saudável para o ambiente de trabalho”, conta.

Abertura para a criatividade

O espaço físico pode, sim, contribuir para um estímulo à criatividade, mas muito dessa capacidade vem da cultura da empresa em valorizar o pensamento criativo. “O exemplo sempre vem de cima. Quando o executivo busca ser mais criativo e mostra como faz, começará a influenciar os demais a serem também. Por exemplo, o líder pode estimular sua equipe a frequentar peças de teatro, assistir a filmes, a ir em mostras de cinema, ler artigos e livros variados sobre outros setores ou até temas ficcionais”, diz. Bonoldi acredita que um gestor criativo dará espaço para que pessoas tragam suas ideias com mais confiança e determinação. 

Um aspecto importante é dar abertura para os colaboradores contribuírem com suas ideias sem o receio de serem julgados. “Estamos todos sujeitos a falhas, a apresentar uma ideia que nos parece genial, mas que para outras pessoas não é. O próprio executivo não pode ter medo de pensar diferente”, diz o escritor. Assim, inibir o surgimento de novas ideias está justamente na contramão da criatividade. “É importante que os colaboradores se sintam seguros, confiantes, porque sabem que o gestor irá ouvir e dar um feedback honesto, bem humorado, mesmo que seja negativo, sem impedir que novas ideias surjam”, pontua.

É necessário, porém, cuidado para não se deixar levar pelo ego. “Não tente ser você o mais ou o único criativo, valorizando apenas as próprias ideias e rechaçando aqueles que podem contribuir para o desenvolvimento dos negócios. É necessário abrir mão da vaidade que muitas vezes vem atrelada à criatividade. Quando o objetivo é o bom desenvolvimento dos negócios, as boas ideias devem ser sempre valorizadas, e está aí, o Pokémon, que não me deixa mentir”, finaliza.

Sobre o autor:

Uranio Bonoldi é palestrante e especialista em negócios e tomada de decisão, e professor do Executive MBA da Fundação Dom Cabral, onde leciona sobre "Poder e Tomada de Decisão". Educado pelo método Waldorf, sua graduação e em seguida a pós-graduação em administração de empresas foi feita na FGV-SP. Atuou em grandes empresas como diretor e CEO. 

Nenhum comentário