Sesc São Paulo apresenta a exposição A Parábola do Progresso
Mostra inédita no Sesc Pompeia discute aspectos
de nação, identidade e "país do futuro" no modernismo brasileiro a
partir das potências de espaços de trocas e convivências
Ribeira, série Sobre a terra, fotografia, 2020.
Acervo Laje / Daniele Rodrigues
De 27 de outubro de 2022 até 2 de abril de
2023, o Sesc Pompeia recebe a exposição A Parábola
do Progresso, em sua Área de Convivência. Com coordenação curatorial de Lisette
Lagnado e os curadores
associados André Pitol e Yudi Rafael,
a mostra marca o 40o
aniversário da unidade, inaugurada em 1982. Desde então, por meio de suas ações
voltadas para a cultura, o lazer, o bem-estar social e
a saúde, o Sesc Pompeia tornou-se palco de numerosas manifestações de caráter
lúdico e coletivo, qualidades e valores tão importantes neste momento de
distopia global.
A efeméride coincide ainda com o
bicentenário da Independência do Brasil (1822) e o centenário da Semana de Arte
Moderna de São Paulo (1922), duas datas históricas que atravessam a concepção
do projeto, inserido na programação "Diversos 22", iniciativa do Sesc
São Paulo.
Com o objetivo de discutir o legado de
Lina Bo Bardi para o Sesc Pompeia, um ícone arquitetônico
da cidade, a curadoria traz outras referências
para somar camadas vivenciais e sociais ao projeto. Sendo assim, cinco
territórios dialógicos participam da exposição, cada um com uma singularidade própria: o Acervo da Laje
(subúrbio ferroviário de Salvador – BA), a Aldeia Kalipety (São Paulo – SP), a
Casa do Povo (São Paulo – SP), o Quilombo Santa Rosa dos Pretos (Itapecuru
Mirim – MA) e o Savvy Contemporary – the Laboratory of form-ideas (Berlim –
Alemanha). Em comum, são diferentes forças sociais que têm conseguido se
organizar e gerar espaços de hospitalidade aptos a amparar sua comunidade.
“Inicialmente,
quando se pensou em fazer uma exposição que conjugaria tantas datas
importantes, chegou-se rapidamente à conclusão de que a grande singularidade do
Sesc Pompeia é ser esse espaço de convivência. Fazer outra homenagem a Lina não
teria tanto interesse do ponto de vista formal, nos pareceu mais importante
pensar a partir da ética e do modus operandi da Lina”, comenta a coordenadora curatorial
Lisette Lagnado. O grande
número de trabalhos que compõe A Parábola do Progresso – como esculturas, fotografias, desenhos, vídeos e azulejos
– foi definido em um processo de curadoria compartilhada com os territórios
dialógicos, em um trabalho de trocas regulares.
Para Danilo Santos de Miranda, diretor do
Sesc São Paulo, a exposição
acompanha a trajetória do Sesc Pompeia. “Amarrado ao nosso ímpeto de pensar no
impacto do modernismo de forma crítica e sob a ótica de uma construção
sócio-histórica, um dos disparadores de nosso projeto transversal ‘Diversos
22’, esta mostra olha para personagens, coletivos, artistas e documentos que
nem sempre são discutidos na historiografia da arte brasileira", afirma
Miranda. "Ao mesmo tempo, é curiosa a possibilidade de trazer ao
espaço do Sesc Pompeia, em sua essência como lugar do encontro e da troca,
discussões contemporâneas sobre o que é convivência – seja na relação com as
obras de arte ou na vivência de nosso público –, seu impacto no cenário
cultural de São Paulo e as transformações que
ainda estão por vir”, completa.
Diálogos na
Cidadela da Liberdade
Articuladores da produção cultural
dentro de uma perspectiva de cuidados, sensibilização e convivialidade, esses
cinco centros de encontro, somados ao Espaço de Convivência do Sesc Pompeia,
potencializam sua vocação de “cidadela da liberdade”, conforme desejo do Sesc
São Paulo quando convidou Lina Bo Bardi e sua equipe para “construir uma outra
realidade” no trabalho de ressignificação da fábrica industrial de tambores.
Trata-se de espaços que operam como
condutores de esperança dentro da parábola do Positivismo, chamada para
ilustrar a mítica relação deste "país do futuro", desde sua
colonização e o tráfico afro-atlântico, passando por diversos fluxos
migratórios que construíram a idílica imagem de uma nação hospitaleira, terra
abençoada por uma natureza exuberante, a generosidade e expansividade emocional
de um povo que teria encontrado sua felicidade na mestiçagem de suas raízes.
Conhecido pela valorização da cultura popular, o trabalho de Lina Bo Bardi
adquire também novas inflexões hoje na esteira dos estudos decoloniais, atentos
ao reconhecimento de diferentes graus de extrativismos e silenciamentos.
Ideias de “nação” e “identidade”
atravessaram o modernismo brasileiro em todos os matizes encontrados, do
Manifesto Pau-Brasil à Antropofagia Cultural, erguendo narrativas tributárias
do modelo nacional-ocidental. Nesse sentido, os “territórios dialógicos”
oferecem campos de ações complementares que permitem vislumbrar iniciativas de
constituição de corpos sociais, tanto por meio de sua resistência contra
políticas de apagamento como pela sua ancestralidade.
Tendo em mente tais balizas históricas,
a equipe curatorial levantou alguns conteúdos em litígio no modernismo
brasileiro, como questões de raça, gênero e classe, ao revisitar obras de
Tarsila do Amaral, Emiliano di Cavalcanti, Cândido Portinari, Vicente do Rego
Monteiro, Lasar Segall, Anita Malfatti, em confronto com a produção de artistas
como Alice Yura, Amador Jr. e Segurança Patrimonial Ltda., Barbara Marcel,
Emilia Estrada, Márcia Falcão, Pélagie Gbaguidi, Edival Ramosa e Tiago
Gualberto.
Também se destaca na exposição a
participação do artista maya kaqchikel, Edgar Calel (Comalapa, Guatemala), cuja
obra é resultado
de um período de dois meses na residência artística da Fundação Armando Alvares
Penteado, em parceria firmada com o Sesc São Paulo. A vinda do artista para
realizar um trabalho comissionado constitui uma oportunidade de discussão de
temas como migração, língua, natureza e identidade, presentes tanto em sua
poética quanto no arco curatorial da mostra.
Além das obras que compõem a exposição,
há ainda o Núcleo documental,
que reúne arquivos sobre diáspora, migrações,
território e relações com o estado, possibilitando um olhar sobre o projeto de
embranquecimento e de apagamentos empreendidos no país. A seleção de documentos
evidencia os esforços políticos nos últimos séculos para construir uma ideia de
nação restrita, com projetos pedagógicos guiados por uma diretriz eurocêntrica.
Durante todo período que estiver em
cartaz, A
Parábola do Progresso irá contar
com diversas ativações pensadas junto aos territórios dialógicos, como
oficinas, rodas de conversa, apresentações, performances, rituais e visitação
guiada.
Sobre o Acervo da Laje (BA): Espaço de memória artística, cultural e de pesquisa sobre o
Subúrbio Ferroviário de Salvador, localizado especificamente no bairro do São
João do Cabrito. É formado por duas casas que contêm bibliotecas, hemeroteca, coleções de discos, manuscritos,
croquis, conchas, tijolos, azulejos e porcelanas antigas, artefatos históricos,
quadros, esculturas em madeira e alumínio, fotografias e objetos que contam a
história do Subúrbio Ferroviário de Salvador.
Sobre a Aldeia Kalipety (SP): Localizada a três quilômetros ao sul do bairro da Barragem e
atualmente habitada por cerca de 70 pessoas, a Aldeia Kalipety faz parte de uma área que foi reocupada pelos Guarani da TI
Tenondé Porã em 2013. É atualmente referência em práticas agroecológicas a
partir da combinação de saberes tradicionais guarani com técnicas alternativas
do mundo não indígena. Tem desenvolvido visitações relacionadas à cooperação e formação dos
visitantes em mutirões de agroecologia, palestras para educadores, realizadas
preferencialmente no mês de abril, e vivências comunitárias para imersão na cultura
guarani.
Sobre a Casa do
Povo (SP): Centro cultural que revisita e reinventa
as noções de cultura, comunidade e memória. Habitada por uma dezena de grupos,
movimentos e coletivos, alguns há décadas e outros mais recentes, a Casa do
Povo atua no campo expandido da cultura. Sua programação transdisciplinar,
processual e engajada entende a arte como ferramenta crítica dentro de um
processo de transformação social.
Sobre o
Quilombo Santa Rosa dos Pretos (MA): A comunidade quilombola Santa Rosa dos
Pretos (também conhecida como Santa Rosa do Barão) está localizada no município
maranhense de Itapecuru-Mirim. Por suas características mais notáveis, como a
coesão, a pluralidade e a qualidade de suas manifestações culturais, a
comunidade de Santa Rosa dos Pretos é uma espécie de referência ao se tratar de
comunidades remanescentes de quilombos em termos regionais e nacionais.
Sobre o SAVVY
Contemporary: The Laboratory of form-ideas (Berlim – Alemanha): Como espaço de
arte, plataforma discursiva, local para comer e beber, casa njangi, espaço de
convívio, o SAVVY Contemporary situa-se no limiar das noções e construções do
Ocidente e do não-ocidente, principalmente para compreender e negociar entre
eles e, obviamente, para desconstruir ideologias e conotações dessas
construções.
Sobre o projeto
Diversos 22
“Diversos 22 - Projetos, Memórias, Conexões” é
uma ação em rede do Sesc São Paulo, em celebração ao Centenário da Semana de
Arte Moderna de 1922 e ao Bicentenário da Independência do Brasil em 1822, com
atividades artísticas e socioeducativas, programações virtuais e presenciais em
unidades na capital, interior e litoral do estado de São Paulo, com o objetivo
de marcar um arco temporal que evoca celebrações e reflexões de naturezas
diferentes, mas integradas e em diálogo, acerca dos projetos, memórias e
conexões relativos à efeméride, no sentido de discuti-los, aprofundá-los e
ressignificá-los, em face dos desafios apresentados no tempo presente. A
programação teve início em setembro de 2021, com a realização do Seminário
“Diversos 22: Levantes Modernistas”, e encerra-se em dezembro de 2022. Mais
informações, acesse.
Sobre o Sesc
São Paulo
Com 76 anos de atuação, o Sesc – Serviço Social
do Comércio conta com uma rede de 45 unidades operacionais no estado de São
Paulo e desenvolve ações com o objetivo de promover bem-estar e qualidade de
vida aos trabalhadores do comércio, serviços, turismo e para toda a sociedade.
Mantido pelos empresários do setor, o Sesc é uma entidade privada que atua nas
dimensões físico-esportiva, meio ambiente, saúde, odontologia, turismo social,
artes, alimentação e segurança alimentar, inclusão, diversidade e cidadania. As
iniciativas da instituição partem das perspectivas cultural e educativa
voltadas para todas as faixas etárias, com o objetivo de contribuir para
experiências mais duradouras e significativas. São atendidas nas unidades do
estado de São Paulo cerca de 30 milhões de pessoas por ano. Hoje,
aproximadamente 50 organizações nacionais e internacionais do campo das artes,
esportes, cultura, saúde, meio ambiente, turismo, serviço social e direitos
humanos contam com representantes do Sesc São Paulo em suas instâncias
consultivas e deliberativas. Mais informações, clique aqui.
Ficha Técnica:
Concepção e
coordenação curatorial
Lisette Lagnado
Curadores
associados
André Pitol
Yudi Rafael
Programa
Público
Plataforma Explode! (Cláudio Bueno, João
Simões) com Vânia Medeiros
Territórios
dialógicos
Acervo da Laje (Salvador – BA)
Aldeia Kalipety (São Paulo – SP)
Casa do Povo (São Paulo – SP)
Quilombo Santa Rosa dos Pretos
(Itapecuru-Mirim – MA)
SAVVY Contemporary: The Laboratory of
form-ideas (Berlim – Alemanha)
Serviço:
A Parábola do
Progresso
Local: Sesc Pompeia (Área de Convivência)
Abertura: 26 de outubro,
às 18h
Período expositivo: 27 de outubro
de 2022 a 10 de abril de 2023
Horário de visitação: terça a sábado, das 10h às 21h;
domingos e feriados, das 10h às 18h.
Não tem
estacionamento | Entrada gratuita
Classificação indicativa: Livre
Sesc Pompeia
Rua Clélia, 93, Pompeia – São Paulo
sescsp.org.br/pompeia
Facebook, Instagram e Twitter:
@sescpompeia
😷 Protocolos de segurança
O uso da máscara, cobrindo boca e nariz, é recomendado. Se você apresentar os sintomas relacionados à Covid-19, procure o serviço de saúde e permaneça em isolamento social.
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