95% dos médicos brasileiros se preocupam com a falta de acesso a cuidados médicos para os pacientes
40% dos entrevistados afirmaram que a
dificuldade dos pacientes no acesso a cuidados de saúde tem impacto em suas
vidas privadas e 2 em cada 10 participantes do estudo observaram situações de
desigualdade racial em seu local de trabalho no que diz respeito ao tratamento
dos funcionários.
Com a divisão do país em relação a
muitos temas fundamentais para o futuro, e buscando contribuir para o debate
sobre os desafios sociais que atualmente surgem no Brasil, o Medscape em português
realizou um levantamento para identificar as questões sociais que mais
preocupam a comunidade médica brasileira. A pesquisa, realizada entre 9 de
agosto e 15 de junho de 2022, contou com a participação de 652 médicos, de 41
especialidades, ativos no Brasil.
A pesquisa discutiu tópicos desde
violência doméstica até mudança climática, direitos reprodutivos, desigualdades
raciais, direitos LGBTQIA+, acesso à saúde, controle de armas e dependência
química. Para 95% dos médicos brasileiros, a falta de acesso a cuidados médicos
para os pacientes é uma das principais questões sociais. A pandemia de
covid-19 tem sobrecarregado ainda mais os sistemas de saúde, que já estavam sob
forte pressão. Para 81% dos entrevistados, a violência doméstica é também uma
das questões que preocupam. "O reconhecimento da importância deste
problema muito grave é um progresso muito importante que ecoa as mudanças que
vêm ocorrendo na sociedade brasileira", disse ao Medscape o Dr. Gonzalo
Vecina, professor da Fundação Getúlio Vargas e da Escola de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo.
A pesquisa Medscape também investigou o
impacto das questões sociais abordadas na vida privada dos médicos e 40%
disseram que a dificuldade de acesso a cuidados de saúde tem um impacto em suas
vidas pessoais. Entre as razões apresentadas para a dificuldade crescente no
acesso, a falta de investimento público veio em primeiro lugar, com 59%,
seguida pela deterioração da gestão dos cuidados com (25%) e pela escassez de
médicos e profissionais de saúde em geral (4%). A maioria dos
entrevistados, 62%, também apontou uma redução na qualidade dos cuidados
médicos. Entre todos os participantes do estudo, 2 em cada 10 observaram
situações de desigualdade racial em seu local de trabalho no que diz respeito
ao tratamento dos funcionários. A proporção foi semelhante em relação ao
tratamento dado aos pacientes, no qual 17% das manifestações de racismo foram
identificadas. Cerca de 10% disseram não ter certeza se testemunharam ou não alguma
circunstância associada a desigualdades raciais. Entre os participantes da
pesquisa, 11% se declararam negros ou pardos, 82% brancos, 1% indígenas, 2%
asiáticos, 3% outros e 2% não quiseram responder.
Entre os participantes, 39% veem
desigualdades no atendimento de pacientes LGBTQIA+, 49% disseram ter
testemunhado tais situações e 12% disseram não ter opinião sobre a questão da
desigualdade no atendimento desta população. De acordo com o Dr. Sidney Glina,
professor de urologia da Faculdade de Medicina do Centro Universitário de ABC
(SP), a maioria dos médicos não tem a preparação necessária para tratar os
pacientes LGBTQIA+. "A legislação brasileira evoluiu muito neste sentido,
mas é necessário que os médicos se atualizem e estudem as especificidades da
saúde desta população". Não estamos treinados na faculdade para trabalhar
com sexualidade, e tivemos uma educação machista. Tudo isso precisa mudar e há
um longo caminho a percorrer", disse o Dr. Glina, um dos criadores da
clínica de medicina reprodutiva Pluris, focada na assistência à população
LGBTQIA+.
Levantamento completo - https://portugues.medscape.com/questoessociais-2022
Mais dados
Dos participantes, 97% são médicos e 3%
são médicos residentes; 58% são homens, 28% têm entre 55 e 64 anos e 28% têm
mais de 65 anos; 23% trabalham em um hospital e 21% têm uma prática individual
de consultório.
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