Atenções do setor imobiliário se voltam aos rumos da política fiscal do novo governo
Independentemente de quem venceu o pleito, um
cenário mais previsível é bastante relevante para a tomada de decisões pelos
participantes do mercado
(*) Por
Rogério Santos
A condução da política fiscal pelo
presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, tende a ser o principal ponto de
atenção dos diversos setores da economia em relação ao novo governo. O rumo das
contas públicas afeta o cenário de inflação e, consequentemente, da condução da
política de juros do país. E juros em queda – o que se espera para algum
momento de 2023 – fazem parte dos fundamentos para a expansão do setor
imobiliário.
Nas duas últimas reuniões, o Comitê de
Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 13,75%. Há expectativa que a taxa
básica seja reduzida, até meados do próximo ano, com reflexos na queda dos
juros cobrados pelos bancos, no financiamento habitacional, a compradores de
imóveis e a construtoras.
Outro impacto da diminuição da Selic é
que ativos reais, como a compra de imóveis para locação ou posterior revenda,
se tornam mais interessantes do que a aposta em aplicações financeiras a partir
de um certo patamar da taxa.
No mercado, há quem considere a possibilidade
de, com a mudança de governo, o Banco Central (BC) demorar um pouco mais para
reduzir a Selic. Isso pode impactar o apetite pelo crédito habitacional por
parte de instituições que fazem financiamentos com recursos de poupança,
segundo um analista ouvido pela área de conteúdo da UBlink. Mas não se espera
nenhuma mudança drástica do cenário.
No fim de outubro, a Associação
Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) divulgou
que o financiamento habitacional caiu 11,8%, de janeiro a setembro, para R$
136,48 bilhões. Nos 12 meses encerrados em setembro, a queda foi de 6,3%, para
R$ 187,2 bilhões. Ainda assim, a entidade estima que este será o segundo maior
ano em concessão de crédito imobiliário com recursos da poupança.
Em relação à produção de imóveis para a
baixa renda, a vitória de Lula é vista como positiva para o programa
habitacional. Em seu discurso após a definição da eleição majoritária, Lula
prometeu retomar o Minha Casa, Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa
renda.
Vale lembrar que, independentemente de
quem venceu o pleito, um cenário mais previsível é bastante relevante para a
tomada de decisões pelos participantes do setor imobiliário, cujos ciclos são
longos e muito afetados pelos rumos da macroeconomia.
No começo de 2023, quando as
incorporadoras divulgarem os números operacionais do quarto trimestre, ficará
claro se houve a desaceleração de lançamentos e vendas esperada para os últimos
meses de 2022.
Este deverá ser um ano com calendário
mais curto para os lançamentos de imóveis. Tradicionalmente, as empresas param
de apresentar projetos no fim da primeira quinzena de dezembro. Desta vez, a
interrupção temporária deve ocorrer em meados de novembro, quando terá início a
Copa do Mundo.
No terceiro trimestre, houve redução do
ritmo de lançamentos, mas inferior à prevista pelo mercado.
De julho a setembro, o Valor Geral de
Vendas (VGV) dos projetos apresentados pelas 16 incorporadoras listadas em
bolsa que já divulgaram prévias caiu 13,7%, para R$ 8,5 bilhões, segundo
levantamento da área de conteúdo da UBlink. No acumulado de nove meses, essas
empresas lançaram R$ 26,1 bilhões, com redução de 1,3% ante o intervalo
equivalente de 2021.
Em relação às vendas, porém, os números
consolidados apontam crescimento de 6,8%, para R$ 7,9 bilhões, no trimestre, e
aumento de 6,4%, no período de janeiro a setembro, para R$ 23,6 bilhões.
Na capital paulista – maior mercado
imobiliário do país –, o volume de unidades residenciais lançadas em setembro
teve expansão de 5,9%, para 8.225, segundo o Secovi-SP. Foram vendidas 6.255
unidades, ou seja, 22,9% a mais do que no nono mês do ano passado. Nos 12 meses
encerrados em setembro, houve crescimento de 1% no volume apresentado e de 6%
no total comercializado.
Para 2023, a demanda por residências
segue elevada, independentemente do padrão de renda. Incorporadoras têm
terrenos para desenvolver projetos e disposição para comprar mais áreas à
medida que sentirem mais confiança no cenário macroeconômico e potencial de
aumento da velocidade de vendas.
O setor segue atento também ao cenário
internacional, que afeta diretamente os preços das commodities e as cotações do
câmbio em um mundo cada vez mais interligado.
Depois de dois trimestres em queda, a
economia dos Estados Unidos voltou a crescer. Na semana passada, o Departamento
de Comércio do país divulgou prévia do Produto Interno Bruto (PIB) americano,
que aponta expansão de 2,6%, no terceiro trimestre, acima da expectativa de
mercado, de 2,4%.
Por outro lado, o FED – o Banco Central
dos Estados Unidos – ainda está no processo de elevar os juros da maior
economia do planeta para enfrentar a forte inflação vivida pelos americanos.
Nesta semana, o FED aumentou a taxa em 0,75 ponto percentual, para a faixa de
3,75% a 4% ao ano. Foi a sexta alta anunciada em 2022.
(*) Rogério Santos é um dos fundadores da UBlink
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