Últimas

Blindagem automotiva: conhecer o material e o processo para fazer escolhas seguras

Por Marcelo Fonseca

O Brasil está entre os países com maior frota per capita de carros particulares blindados, uma realidade que reflete a preocupação de muitos motoristas com sua segurança pessoal e familiar. A evolução acelerada da blindagem veicular no país é comprovada por meio dos números da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem): segundo a entidade, entre 2007 e 2017, o número de carros com a estrutura reforçada passou de 5,3 mil veículos para 15,1 mil, um salto de quase 185%.

 

Diante desses dados, e diante de um assunto tão importante quanto a proteção das pessoas que dirigem e de suas famílias, não resta dúvida de que precisamos falar mais sobre as tecnologias utilizadas na blindagem dos carros. Afinal, conhecer os detalhes técnicos, além de relevante, é essencial para ajudar os consumidores, e mesmo os profissionais do mercado, a conhecer as opções oferecidas e a fazer escolhas mais seguras e conscientes.

 

Em relação à tecnologia, nada revolucionou mais esse mercado do que as mantas de aramida: se antes a blindagem das partes opacas (sem considerar os vidros) dependia quase que 100% de placas de aço balístico, já faz muito tempo que o uso desse material se limita a cerca de 10%. De forma simplificada, a manta de aramida é uma trama produzida com um material especial e ultrarresistente. Suas fibras são tão bem tecidas que é quase impossível separá-las. 

 

No uso de proteção balística, sua principal característica é o alto poder de dissipação da energia do impacto, impedindo a passagem de projéteis. Por ser maleável e sete vezes mais leve que o aço, sua aplicação foi adotada em larga escala na blindagem, sendo utilizada em uma variada gama de camadas - a depender do local onde é aplicada e do nível de proteção desejado..

 

Não é de hoje que o mercado oferece uma opção, também de aramida, mas com algumas peculiaridades, como a possibilidade de ser moldada de acordo com o formato das partes do veículo, tornando sua instalação mais rápida. É uma tecnologia que já é utilizada há muito tempo para perfis e situações específicas de blindagem, e o uso mais comum é quando o processo de blindagem é de fábrica. 

 

Trata-se de um composto com fibras sobrepostas de forma unidirecional, com propriedades de resistência balística similares às tramas convencionais. Nestes casos, essa manta de aramida moldável tem suas partes projetadas dentro das especificações de forma e tamanho do modelo a ser fabricado. Embora seja um material de qualidade indiscutível, o trabalho de moldar a manta para o encaixe na estrutura do veículo apresenta pontos de atenção quanto à sua plena eficácia.

 

O primeiro deles se refere à própria dobra, cuja geometria pode provocar rugas em seus vincos, tornando estes pontos localizados mais vulneráveis. Se a peça não estiver bem dimensionada, haverá pontos de tensão da manta, o que pode enfraquecer sua estrutura.

 

Outro aspecto que merece atenção está relacionado à durabilidade e estabilidade do material que foi moldado, especialmente em relação ao calor. O Brasil é um país com muitas regiões de temperaturas elevadas. Um carro fechado sob o sol pode atingir mais de 70º C internamente. Sem uma trama cruzada de fios de proteção balística, essa condição pode provocar um desgaste mais rápido no material, incluindo a delaminação, que é a separação lenta e gradual de suas camadas.

 

Por isso, é importante considerar o ponto a ser avaliado em um material flexível no que diz respeito à sua integridade estrutural após ser moldado, principalmente quando não foi projetado dentro das especificações do formato para o qual será utilizado. Afinal, mais do que um serviço em um veículo, a blindagem veicular é uma proteção externa para proteger os ocupantes de situações adversas. Para além de garantir sua eficiência sem descaracterizar o bem, estamos falando de vidas humanas, por isso, é preciso responsabilidade para que a solução seja oferecida com materiais e processos reconhecidos e, principalmente, certificados na indústria. 

 

Marcelo Fonseca é líder do segmento de Defesa para a América Latina da DuPont

Nenhum comentário