Centro Cultural Fiesp recebe Paisagem construída: São Paulo e Burle Marx, exposição que explora a criação de paisagens e naturezas
Mostra inova e traz ênfase para o paisagismo e
arquitetura desenvolvidos e executados por Roberto Burle Marx e seus
colaboradores na cidade de São Paulo, uma abordagem inédita na obra de um dos
mais importantes ecologistas urbanos do século XX
Anteprojeto
Parque Ibirapuera (não executado). Acervo Instituto Burle Marx.
O Centro Cultural Fiesp (CCF) recebe a
exposição Paisagem
construída: São Paulo e Burle Marx, com curadoria de Guilherme Wisnik, Helena Severo e Isabela Ono. Dividida
em três eixos principais, a mostra conta com acervo do Instituto Burle Marx, e
traz ênfase para projetos de ecologia urbana pensados por Roberto Burle Marx (1909-1994) e seus colaboradores para a na
cidade de São Paulo, um diálogo entre seus projetos e arquitetos renomados como
Rino Levi e Paulo Mendes da Rocha,
além de propostas inéditas, não executadas, para espaços públicos da cidade
como o Parque Trianon,
o Parque Ibirapuera, o
Vale do Anhangabaú e a Praça
da Sé. A mostra ressalta o ativismo ambiental e pioneirismo na
defesa da preservação dos biomas sul-americanos com o pensamento de projetos
sobre cidades verdes.
Na mostra, o público tem a oportunidade
de ver os projetos mais icônicos do paisagista e um “Jardim Efêmero” com
estruturas verticais na entrada do prédio na Avenida Paulista, desenvolvido
pelo escritório Burle Marx, além da exibição de uma animação na fachada do
edifício da FIESP.
As peças selecionadas para a exposição
refletem a pluralidade do trabalho de sete décadas em desenhos, maquetes,
plantas de projeto, croquis, fotografias e vídeos; ressaltando a
contemporaneidade da narrativa de Burle Marx e do seu legado para se repensar a
experiência de vida nas cidades e a construção de espaços públicos.
“A partir da contribuição do legado de
Burle Marx e seus colaboradores, o Instituto Burle Marx trabalha esse conceito
tão atual de construção coletiva. Para nós, o acervo é potente para inspirar e
repensar a experiência de vida nas cidades e favorecer óticas plurais,
afirmativas e colaborativas”, afirma a curadora Isabela Ono.
Débora Viana, Gerente Executiva de
Cultura do Sesi-SP, explica que sediar a exposição é uma das formas de reiterar
o compromisso que a instituição possui de fomentar o cenário cultural e
artístico por meio de obras, de artistas e da participação do público a
potenciais de criação, de reflexão e de experimentação. “Para o Sesi-SP, é de
extrema importância a formação de novos públicos em artes, a difusão e o acesso
à cultura de forma gratuita. Sendo assim, desenvolvemos e realizamos projetos
das mais diversas áreas e convidamos o público a imergir no universo do
conhecimento e da arte”, declara Débora Viana.
Burle Marx pensava além de seu tempo, já
em sua época (40-50 anos atrás) buscava colocar em prática temas tão atuais
como a renaturalização das cidades. Era capaz de ter uma visão a longo prazo,
tão cara ao desenvolvimento das grandes cidades, que hoje sentem a necessidade
de revisar seus modelos e estruturas por conta da intensa impermeabilização do
solo e carência de espaços verdes.
Os módulos “Ecologista urbano” e
“Projetos em São Paulo” acabam por assumir um tom mais político na mostra, nos
quais são apresentados alguns dos projetos elaborados por Burle Marx para a
cidade de São Paulo, a pedido do poder público.
"Burle Marx é reconhecido como o
mais importante e inovador paisagista brasileiro do século XX. Ao transformar
jardins em campos de experimentação da arte moderna, introduziu um novo
paradigma, rompendo com a tradição europeia. A exposição Paisagem Construída - São Paulo e Burle
Marx apresenta aspectos pouco explorados de sua obra. Burle
Marx foi pioneiro na construção do conceito de ecologia Urbana ao introduzir em
seus projetos elementos da flora nativa que contrastavam com as formas
geométricas e duras do concreto. É recorrente dizer que ele apontou para a
necessidade de repensar o conceito de cidade a exposição apresenta, também,
alguns projetos, elaborados por ele para a cidade de São Paulo não executados:
Ibirapuera, Parque Trianon, Praça da Se entre outros", confirma a curadora
Helena Severo.
Os três eixos da exposição:
Ecologista Urbano: ativismo pela
sustentabilidade – documentos, reportagens, fotos e filmagens das expedições de
Burle Marx.
Neste núcleo são apresentados documentos
e situações políticas nas quais Burle Marx se envolveu para protestar contra os
desmatamentos de florestas brasileiras, sobretudo aqueles realizados pelo
governo e por grandes empresas capitalistas. Burle Marx foi um defensor da
preservação da natureza e lutava contra a monocultura. “Ele fazia muitos
alardes contra a monocultura; como, por exemplo, devastar uma mata rica em
espécies e depois plantar somente eucalipto.”, comenta o curador Guilherme
Wisnik.
Obras Icônicas: obras relevantes na
construção do espaço público, memória-viva de um Brasil moderno e reverente à
natureza.
Para este segundo eixo foram
selecionadas obras muito importantes para o desenvolvimento e melhorias do
espaço público. Poderão ser vistas imagens do extenso calçadão que percorre as
praias da Zona Sul carioca; fotos do paisagismo feito por Burle Marx no Parque
do Flamengo (RJ) e do Parque del Este em Caracas, na Venezuela, por exemplo.
Integra este núcleo uma sala escura sensorial, chamada de “espaço penetrável”,
com projeções de imagens sobre tecidos pendurados na sala. A proposta é levar
ao público fotografias de jardins e calçadas criadas por Burle Marx e seus
colaboradores, oferecendo uma experiência de imersão nas obras notáveis
realizadas pelo paisagista através do Escritório Burle Marx. Uma verdadeira
experiência sensorial acompanhada pelo som de Tom Jobim – outro grande expoente
da cultura moderna brasileira e carioca.
Projetos em São Paulo:
Ocupando a área central da expografia,
este núcleo traz um conjunto de obras construídas por Burle Marx e sua equipe
no estado de São Paulo, sendo a maioria obras privadas. Aqui o público poderá
ver jardins e pisos em edifícios, casas e fazendas; além do diálogo entre projetos
executados em parceria com arquitetos renomados de São Paulo, como Rino Levi,
Marcello Fragelli, Hans Broos e Paulo Mendes da Rocha. Por fim, serão
apresentadas, também, propostas inéditas e não realizadas para espaços públicos
da cidade como os projetos para o Parque Trianon, Parque Ibirapuera, Praça da
Sé e Vale do Anhangabaú. Um vídeo-animação produzido para a mostra será exibido
apresentando os três projetos não executados – Parque Ibirapuera, Praça da Sé e
Vale do Anhangabaú –, com fotos aéreas dos espaços como são hoje, e depois uma
transição em que aparecem implantações dos projetos de Burle Marx para que
imaginemos como os espaços ficariam, junto a uma narração que explica a
visualização do percurso.
Sobre Roberto Burle Marx: a partir de
Guilherme Wisnik
Burle Marx é uma figura pioneira, esteve
sempre à frente de seu tempo em seus projetos, executando ideias que só foram
ganhar forma depois de muitos anos, como o emprego de práticas que envolviam
sustentabilidade, por exemplo. Sua carreira de paisagista teve início na década
de 1930, e seus primeiros projetos foram no Rio de Janeiro. Posteriormente foi
para Recife, contratado como Diretor do Departamento de Parques da cidade, e
assim deu início a uma carreira sólida como paisagista de espaços públicos. Com
os anos foi conquistando reconhecimento internacional e estabeleceu-se como uma
sumidade na área.
“Ele [Roberto Burle Marx] se volta para
a questão não só do olhar sobre a natureza, da manipulação de certas espécies
[de plantas], mas também para a preservação dela. Boa parte da riqueza do
trabalho de Burle Marx está ligada ao fato de que ele fez muitas expedições,
não só no Brasil, mas na América do Sul, em busca de novas espécies, e de
conhecer os ecossistemas. Ele trazia mudas de espécies que ia gostando e
conhecendo pelo caminho.”, explica o curador G. Wisnik.
Burle Marx plantou essas mudas em seu
sítio, “Santo Antônio da Bica” – hoje conhecido como Sítio Roberto Burle Marx,
pertencente ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional),
e localizado em Guaratiba, no Rio de Janeiro. “O sítio foi fundamental porque
se transformou em um grande viveiro. Todas essas mudas que ele trazia, ia
plantando e cultivando lá; então quando ele criava os jardins dele, tinha
acesso a essas plantas, não dependia de plantas que estavam no mercado. E isso
deu muito mais liberdade e potencial para os seus jardins.”, comenta Wisnik.
As expedições - para o cerrado e para a
Amazônia brasileira, por exemplo -, levaram a uma politização muito grande,
porque ele percebeu com isso o quanto a floresta brasileira vinha sendo
devastada, começou a fazer grandes manifestos nos jornais. Burle Marx entrou em
brigas abertas com grandes capitalistas, como a empresa alemã Volkswagen, nos
anos 70, que havia comprado uma fazenda no Pará e desmatou/incendiou a mata
para executar sua produção automotiva em larga escala.
Sobre o Instituto Burle Marx
O Instituto Burle Marx, organização da
sociedade civil sem fins lucrativos criada em 2019, entende seu acervo como
sementes, sendo testemunho de um trabalho coletivo, marcado por um compromisso
ético e estético que se reflete em espaços democráticos e de bem-estar.
No atual contexto pós-pandemia, onde
cada vez mais se ampliam as reflexões relativas a viver em cidades e as
relações entre seres viventes e natureza, trazer Burle Marx e sua contribuição
nesta mostra se torna significativo e relevante para inspirar perspectivas de
novos futuros., contextualiza, Isabela Ono, diretora executiva do Instituto
Burle Marx.
Serviço
Paisagem construída: São Paulo e Burle
Marx
Curadoria: Guilherme Wisnik, Helena Severo e
Isabela Ono
Expografia: Álvaro Razuk
Local: Centro Cultural Fiesp - Av.
Paulista, 1313, São Paulo - SP
Período expositivo: 19 de outubro até 05
de fevereiro
Horários de visitação: Quarta a domingo,
das 10h às 20h
Entrada gratuita
https://sesisp.org.br/cultura
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