ESG: além da obrigação
Escrito por Carlos Rodolfo Schneider -
empresário
O conceito da sustentabilidade e a sigla
ESG tem dominado grande parte da pauta de encontros empresariais, seminários e
congressos de negócios. O discurso garante não ser apenas mais um modismo, como
tantos outros no passado, e sim um conceito que teria vindo para ficar, até
porque não teríamos escolha, se quisermos salvar o planeta. Além disso, as
gerações Y e Z estão mais atentas ao assunto e cobrando maior responsabilidade
ambiental, social e de governança das empresas. O mercado financeiro e as
certificadoras também observam esse novo momento para oferecer vantagens e
reconhecer as companhias que demonstrarem maior comprometimento com a
sustentabilidade.
Para maior compreensão e melhor
avaliação, é importante entender a amplitude do conceito, que pode ser olhado
em três horizontes. No primeiro, no extremo, deveríamos repensar valores da
sociedade, padrões de consumo, o conceito da obsolescência planejada, e nos
perguntarmos até quando o planeta suporta esse modelo, que é hoje o motor do
crescimento. No segundo, num plano intermediário, as empresas passam a
redefinir os seus modelos de negócios, com mudanças importantes direcionadas
pela tecnologia, onde a sustentabilidade seja um vetor relevante. Um exemplo é
o da Volkswagen, que divulgou recentemente que a partir de agora ela
consideraria como concorrentes as empresas de tecnologia e não mais as outras
montadoras. Nesse horizonte estão as tecnologias disruptivas, como a
inteligência artificial, a internet das coisas, a computação quântica, o blockchain e o metaverso,
que vem permitindo inovações transformadoras em processos, produtos e modelos.
É um cardápio que permite variadas combinações e distintas abrangências.
Num terceiro horizonte, uma realidade
mais próxima e mais difundida, estão os esforços crescentes para desenvolver
soluções e iniciativas que olhem o ESG. É a inovação incremental que permite
essa evolução. A pauta ambiental, por exemplo, oferece inúmeras dores e
oportunidades para a busca de soluções novas. Já se criou até o termo
inovabilidade para se referir à inovação que busca a sustentabilidade. A
inovação aberta, parcerias com startups, como as ESG Techs, podem ajudar as
empresas. E aqui é necessário frisar a importância da aprovação da Lei das
Startups (Lei Complementar nº 182/2021) no ano passado.
Nessa pauta, um dos principais desafios
é desenvolver tecnologias que sejam sustentáveis, tanto economicamente viáveis
quanto atraentes para o mercado. Hitendra Patel, diretora do IXL Center
da Hult International Business School, e que no Brasil é parceiro da Revista
Amanhã em um ranking de inovação, criou o termo “greenovations” para essas
soluções, e destaca a necessidade da viabilidade financeira para o assunto
ganhar relevância entre as empresas. Patel publicou, já há quinze anos, o livro
“Greenovate! – Companies Innovating to Create a More Sustainable World”, em que
afirma que boas ideias e tecnologias não são suficientes para criar produtos e
serviços ambientalmente sustentáveis. É preciso torná-los lucrativos e
atrativos, criando um círculo virtuoso. Greenovation, segundo Patel, é o que
“cria e captura valor ao atender as necessidades do presente sem comprometer a
capacidade de as futuras gerações atenderem às suas próprias necessidades”.
Também chama a atenção para o que chama de falsa tensão entre rentabilidade e
sustentabilidade, e critica os que dizem que inevitavelmente o lucro agride o
meio ambiente. O lucro é o que emprega e sustenta as pessoas e por isso um dos
pilares para as “greenovations”.
Patel alerta que as inovações radicais podem
encontrar mercados não preparados e por isso não devem ser a principal aposta
dessa pauta. De maneira geral as inovações incrementais viabilizam uma
transição gradual para a economia verde, como:
- substituir recursos escassos
por outros abundantes;
- ampliar a utilização de
produtos recicláveis e reutilizáveis;
- aumentar a eficiência para
produzir mais com menos recursos;
- criar materiais e processos
ambientalmente corretos.
As empresas precisam transformar essa pauta em cultura para que ela permeie os novos modelos de negócios. Os setores público e privado devem trabalhar juntos para evitar excessos na legislação, buscar eficiência nos licenciamentos, equilíbrio e ponderação nas fiscalizações e oferecer estímulos à inovabilidade. É a melhor maneira de transformar o que muitas vezes ainda é visto como moda, ou como um fardo a carregar, em um compromisso espontâneo e duradouro.
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