Estudo realizado por professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo aponta para o potencial de estratégias de promoção de saúde mental para a redução do estresse em profissionais da saúde durante a pandemia de Covid-19
Professor Dr. Marcelo Generoso/Arquivo pessoal |
O estudo denominado "Um programa de gerenciamento de estresse em um hospital de campanha Covid-19: um teste de prova de conceito”, que avaliou o uso de meditação, grupos de escuta e música para a redução de estresse de profissionais da saúde que atuaram no Hospital da Campanha do Anhembi, em São Paulo, que funcionou entre 11 de abril e 08 de setembro de 2020, durante a fase mais crítica da pandemia da Covid-19, recebeu recentemente destaque com a publicação no periódico “Debates em Psiquiatria”, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
O estudo foi coordenado pelo professor Dr. Marcelo Bruno Generoso, do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP). Além do Dr. Generoso, que também atua como psiquiatra na Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS-SP), participaram do desenho do estudo o Dr. Pedro Shiozawa, professor assistente da FCMSCSP, e o professor Ricardo Riyoiti Uchida, chefe do Departamento de Saúde Mental da Faculdade.
Os hospitais de campanha foram equipamentos de saúde instalados por diversas cidades em todo o Brasil para aumentar a capacidade hospitalar no período mais difícil da pandemia. O hospital de campanha do Anhembi realizou mais de 6 mil atendimentos e 5 mil altas, cerca de 89 mil exames entre análises clínicas, tomografias, radiologias e exames de raio-X.
O programa, que incluiu atividades de meditação, grupos de escuta e dinâmicas com uso de jazz e blues, foi desenvolvido pelo Departamento de Saúde Mental da FCMSCSP em parceria com a SMS-SP, com as atividades sendo conduzidas por médicos residentes de Psiquiatria da Residência Médica em Rede da secretaria. As quatro estratégias escolhidas foram selecionadas com base em níveis de evidência científica de programas de redução de estresse em ambientes de trabalho disponíveis até aquele momento. No estudo, não foi verificada superioridade de uma estratégia em relação a outra em termos de aderência ou de resultados. “Isso amplia o leque de opções para os serviços de saúde para implantação de estratégias personalizadas para cada realidade”, destaca Dr. Generoso.
As atividades do programa foram realizadas em grupo, dentro da área de isolamento dos pacientes diagnosticados com Covid-19, sendo seguidas todas as normas de biossegurança. Para não afetar o atendimento, as intervenções foram realizadas em sistema de rodízio de modo a permitir a participação voluntária dos profissionais, sem que houvesse prejuízo à assistência.
O estudo constatou que o programa de gerenciamento de estresse elaborado com atividades fáceis de aplicar e de custo reduzido foi capaz de reduzir significativamente a ansiedade, o estresse e aumentar a motivação dos profissionais de saúde que atuaram em uma situação crítica naquele período. Um total de 441 voluntários participaram do estudo, que demonstrou que, independente do tipo de intervenção realizada, o resultado foi positivo em todos desfechos analisados: redução de 16,75% para ansiedade, redução de 27,5% para o estresse e aumento de 9,4% da motivação.As atividades propostas foram bem aceitas pelos profissionais e podem ser aplicadas em outros serviços de saúde.
Durante a pandemia, foram realizadas diversas intervenções ao redor do mundo mas grande parte dos projetos centrou-se em acolher os profissionais da saúde com o objetivo de aliviar sintomas ou intervir precocemente em caso de adoecimento. Já no estudo exposto, buscou-se não apenas isso, mas também prevenir o adoecimento mental. Adicionalmente, o estudo realizado conseguiu verificar a efetividade das estratégias implementadas. “Conseguimos desenvolver as ações e medir os resultados simultaneamente, comprovando, com método científico, que as intervenções tiveram um efeito positivo”, explica o Dr. Generoso.
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