Fórum Brasil África 2022: "O Brasil estará de volta, não só no mundo, mas na África", diz Celso Amorim

O ex-Ministro de Relações Exteriores fez o discurso de encerramento do Brazil Africa Forum 2022, que chegou ao fim nesta quarta-feira (30)

Os números mostram o sucesso da edição 2022 do Brazil Africa Forum mostram o sucesso do evento deste ano: 64 palestrantes, participantes de 38 nações e mais de 280 inscritos, segundo o professor João Bosco Monte, Presidente do Instituto Brasil África.

No discurso de encerramento, o ex Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim ficou extremamente satisfeito com o sucesso da edição, com o Brasil voltando seus olhos novamente para o continente africano.

"Agora eu tenho certeza que, nos primeiros dias do governo do presidente eleito Lula, já se tomará a medida de reabrir as embaixadas que foram fechadas, porque o Brasil é parte da África e não há como separar. Eu me sinto muito latino-americano, muito próximo dos nossos vizinhos, mas eu sempre me lembro dessa viagem que eu fiz ao Senegal: eu cheguei de volta ao Brasil e fui à Bolívia. O Brasil é mais parecido com Senegal do que com o Caribe, que é nosso vizinho", relembra o embaixador.

"Vindo da África era aquela alegria constante, aquela maneira expansiva de ser. No início, eu diria que a gente quase que tinha que arrastar os empresários para a África, até porque tem uma dificuldade que não foi superado até hoje, que é com relação às linhas aéreas. É uma coisa absurda a falta de linhas aéreas entre o Brasil e África, e isso é uma coisa tem que ser mudada, mas com o tempo a gente foi vendo que o interesse foi aumentando, não só de outros órgãos do governo, mas também de empresas privadas, principalmente no campo da construção da mineração", completa ele, que cita o sucesso no passado de parcerias com o continente africano.

"O número de estudantes brasileiros africanos no Brasil aumentou muito, talvez não tanto quando gostássemos. Então, eu vi isso tudo e para mim foi uma grande alegria. E quando saí do Ministério da Defesa eu conheci o João Bosco, que tinha criado o Instituto Brasil África. Estava ainda engatinhando e uma das vezes aí que ele me convidou pra um dos eventos que eu, infelizmente, não pude participar, mas eu vi o fôlego que havia ganhado essa iniciativa."

Amorim recorda como o Brasil ajudou até mesmo a aproximar autoridades de países africanos. "Lembro que a nossa cooperação em fóruns internacionais, foi muito forte, Eh muito forte sobretudo na Organização Mundial do Comércio onde o Brasil liderou o movimento num grupo de países em desenvolvimento chamado G20 - não confundir com o G20 de líderes - mas que era muito ativo e a maioria dos africanos que faziam parte do G90 e eu me lembro da cooperação que nós tivemos. E a tal ponto houve a cooperação da então ministra da África do Sul. "Nós precisamos fazer alguma coisa sobre agricultura, porque havia uma reunião sobre agricultura familiar para a qual alguns países estavam convidados. Um ano e meio depois foi feita uma reunião de Ministros da Agricultura africanos no Brasil e muitos nunca tinham se visto. Se viram pela primeira vez no Brasil! Então, esse espírito eu vejo reproduzido aqui nos fóruns do Brasil, nesses Fórum Brasil África. Ah e os temas variados, esses das cidades, tantas coisas que nós temos que em comum, tantos problemas, né? Agora inclusive também em relação ao clima, em relação ao meio ambiente."

"A África será uma prioridade do presidente Lula. O Brasil estará de volta, não só no mundo, mas o Brasil estará de volta na África e é isso que nós queremos fazer."

Em seguida, o professor João Bosco Monte, Presidente do Instituto Brasil África, também lembrou de uma ligação sociopolítica do Brasil com a África no passado e que voltou aos trilhos com o Brazil Africa Forum 2022.

"Eu me recordo que ontem, quando nós iniciamos o Fórum Brasil África, eu disse que o Brasil certamente olharia para a África com o olhar que sempre deveria ter olhado nesses últimos anos. Nós vivemos dias muitos ruins, onde o Brasil deu as costas não apenas para o mundo, mas especificamente para o continente africano, as embaixadas foram fechadas, e é muito bom saber que há possibilidade e a decisão de reabertura e abertura de outras", conta ele, reforçando o sucesso da edição.

"Temos neste evento a oportunidade de dois dias de poder conversar, discutir, mas eu tenho certeza de que as respostas que surgiram elas dão para nós a segurança, a certeza, de que não apenas um evento como esse, mas o interesse de cada pessoa se manifesta no objetivo, na vontade de estreitamento das relações entre o Brasil e o continente africano", celebrou.

"Quando a gente realiza um evento como esse, a impressão que nós temos é de que a gente tem muito o que fazer e eu quero continuar essa jornada individualmente, mas também de forma coletiva com vocês, para que cada vez mais a ação que nós temos se transforme em algo prático. Vocês têm ideia de quantas nações estão representadas nessa sala, quantas nacionalidades estão aqui? Nós fizemos a conta: temos 38 países representados aqui, não apenas da África, mas também da Europa e de outros ambientes da Ásia. Isso é muito importante. Nós tivemos dois dias de evento e, se eu não estou enganado, foram 64 palestrantes", disse, empolgado, frisando que o evento foi bem-sucedido na questão de parcerias e troca de ideias.

"Isso significa que pessoas vieram dos seus lugares para conversar, pessoas saíram das suas zonas de conforto para trocar ideias e nós estamos no final do ano de 2022. Temos muito para fazer nos próximos anos e eu tenho certeza que 2023 será um ano de muito trabalho, mas também de muitos resultados. Tenho a convicção de que nós todos juntos, sociedade civil, a iniciativa privada que está aqui representada e eu tenho um zelo muito grande quando menciono a iniciativa privada, entendo a dificuldade e a limitação que o governo tem. Portanto, é imperativo que o setor privado esteja aqui e que a cada ano que passa o valor que o setor privado deposita, ele se intensifica, e eu tenho certeza que em 2023, mais uma vez, o setor privado estará presente", finalizou.