Sugestões de melhoria para um país em transição
José Velloso*
O país passa por um
momento positivo, há reservas cambiais elevadas, um quadro continuo de redução
da taxa de desemprego, deverá apresentar um superávit primário esse ano,
mostrando que o Brasil tem condições de honrar com seus compromissos, mas é
preciso cautela em relação a economia para o próximo ano. O mundo passa por
conflitos que envolvem diversos países com impactos negativos no desempenho
econômico mundial. Ademais, os contínuos desajustes na cadeia de suprimentos
globais geraram ondas inflacionárias cujas ações de controle, focadas na
elevação das taxas básicas de juros, podem aprofundar a recessão do planeta, o
que é ruim para os mercados emergentes e em especial à economia brasileira,
apesar dos sinais positivos vindos com mercado doméstico.
Além disso, metas e
ações focadas na responsabilidade fiscal, visando manter as contas organizadas
no médio e longo prazo, precisam ser apresentados o mais breve, evitando outros
focos de preocupação. A ausência de uma nova proposta de regime fiscal na
PEC de transição trouxe impaciência aos agentes econômicos, os juros de longo
prazo aumentaram, e o mercado de ações e câmbio ficaram mais voláteis do que já
estavam.
Nesse sentido,
prosseguiremos engajados em defender e promover pautas e leis que gerem progressos
e benefícios para o país. Nossa atuação deverá ser em prol do desenvolvimento
econômico com responsabilidade fiscal e social, mas também a formação de uma
indústria competitiva, capaz de multiplicar emprego, renda e divisas
internacionais por meio das exportações de bens com elevado valor agregado. Em
prol de um país que se destaque entre aqueles que mais atraem investimentos
produtivos internacionais.
Nos últimos 30 anos, a
indústria de transformação vem perdendo participação no PIB, saindo de 20% do PIB
para os atuais 11%, bem como vem perdendo participação nas
exportações brasileiras. Em 2022, teremos a pior balança comercial de
manufaturados de todos os tempos. É previsto um déficit na balança comercial de
manufaturados acima de 125 bilhões de dólares.
O processo de
reindustrialização passa obrigatoriamente pela agenda de reformas e de
competitividade, com foco na eliminação dos itens de maior peso na composição
do Custo Brasil. Assim o Brasil atrairá mais investimentos produtivos e fará o
caminho natural para o desenvolvimento econômico.
No que se refere à
Reforma trabalhista, consideramos oportuno continuar o processo de modernização
das relações de trabalho, visando maior segurança jurídica e ampliação dos
postos de trabalho formais. Manter o negociado sobre o legislado e não recriar
o Imposto Sindical compulsório.
A reforma tributária
supõe a aprovação da PEC 110/2019 ou da PEC 45/2019, com o objetivo de
criar um imposto de valor agregado incidindo sobre todos os bens e
serviços. Simplificando, reduzindo custos administrativos, eliminando todos os
regimes especiais de tributação, desonerando investimentos e exportações.
A reforma tributária
precisa prever a desoneração na folha de pagamento das empresas. Sugerimos
alterar a base de cálculo da contribuição previdenciária patronal para o
faturamento das empresas que assim optarem, desonerando completamente as
exportações. Preservar o modelo da Lei 14.288/21, estendendo o benefício para
todos os setores da economia.
Outra sugestão
importante é a reforma administrativa e fiscal, visando melhorar o atendimento
ao cidadão e a eficiência da máquina pública. Melhorar a produtividade dos
entes da Administração Pública, do Judiciário e do Legislativo.
Realizar a reforma
fiscal visando perseguir o equilíbrio fiscal e estabilizar a dívida pública,
para reduzir o custo de financiamento do Estado e permitir a retomada dos
investimentos públicos por meio de uma PEC.
Outra necessidade
premente refere-se ao financiamento aos investimentos produtivos.
Revisitar os termos da Lei 13.483, de 2017 que institui a TLP, restabelecendo a
capacidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de
exercer políticas no apoio à inovação, exportação e financiamento de
empresas de micro, pequeno e de médio porte a custos inferiores ao resultado
dos investimentos. A TLP deve ser previsível e estável ao longo dos
financiamentos. Hoje em dia 80% das máquinas comercializadas no Brasil são
compradas com capital próprio, o que bloqueia a possibilidade de crescimento do
PIB, piorando a produtividades dos setores produtivos.
Necessária ainda a
flexibilização da utilização de garantias visando elevar a ampliação do acesso
ao crédito de uma forma rápida e menos burocrática. Outra proposta seria
reduzir a alíquota para 0% do IOF sobre operações de crédito.
Trabalharemos por
um país melhor, mais igual, unido e desenvolvido. Nossa prioridade é a
indústria, mas defendemos sobretudo uma nação prospera, onde a construção da
indústria competitiva, impulsionadora de riqueza, parte do rearranjo das
cadeias globais de valores, seja uma das principais vertentes do crescimento
econômico sustentado e sustentável.
*José Velloso é engenheiro mecânico, administrador de empresas e presidente executivo da ABIMAQ
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